janeiro 02, 2025

Deuses Americanos - Neil Gaiman

Título original: American Gods
Ano da edição original: 2001
Autor: Neil Gaiman
Tradução: Fátima Andrade
Editora: Editorial Presença

"A poucos dias de sair da prisão, sombra quer apenas desfrutar de alguma tranquilidade junto da sua mulher, Laura. o destino, porém, reserva-lhe outros planos.
Quando recebe a notícia de que Laura morreu num acidente de viação, Sombra não tem outra alternativa senão aceitar o trabalho que um desconhecido, Sr. Quarta-Feira, lhe oferece. Mas cedo percebe que o trabalho e o próprio Quarta-feira pouco têm em comum, já que o ultimo é a encarnação de um dos deuses antigos que se encontram em vias de extinção por estarem a ser ultrapassados por ídolos modernos.
Sombra e Quarta-Feira têm assim a missão de reunir o maior número de divindades para se prepararem para o conflito iminente que paira no horizonte, mas esperam-nos inúmeras surpresas insólitas…
Bestseller distinguido com diversos prémios e adaptado com enorme êxito à televisão, Deuses Americanos é uma Aventura onde o mágico e o mundano, o mito e o real caminham lado a lado, levando-nos numa viagem repleta de humor ao extraordinário potencial da imaginação humana."

Confesso a minha dificuldade em escrever sobre este livro porque me parece que vai ser tudo superficial. Tenho a impressão de que há camadas e camadas que me passaram ao lado e, para dizer a verdade, também não tenho pretensões de colocar a descoberto. Por isso, de uma forma muito leve e descontraída, é um livro sobre deuses e a sua luta por se manterem relevantes na vida dos humanos. Deuses antigos, que os humanos levaram com eles na suas migrações, em particular para os Estados Unidos da América e que, com o tempo foram esquecendo. 
Deixaram de lhes prestar homenagem, de os adorar e de oferecerem algo em sacrifício. Os Deuses, sem grande surpresa, são retratados como seres egocêntricos, pouco benevolentes e capazes de tudo para sobreviver a estes tempos modernos.

O livro lê-se muito bem. Tem uma carrada de referências mitológicas, às diversas divindades e rituais mas, como está tudo enquadrado de uma forma mais real, porque estes deuses circulam entre nós com forma humana, não se sente esse peso. 
Isto, envolvido na história dos Estados Unidos, com muito sentido de humor à mistura e uma boa escrita, tornaram este livro, primeiro, uma surpresa, e depois um prazer.

Gostei da imaginação, agarrada à realidade, e da forma como vai desenrolando a história e nos vai conseguindo manter envolvidos e entretidos. Gostei muito, tanto que já cá tenho mais dois do Neil Gaiman para ler um dia destes - Mitologia Nórdica e Os Filhos de Anansi.

Recomendo sem qualquer hesitação. Acho que não perdem nada em experimentar.

Boas leituras!

Excerto (pág. 32):
"O homem abriu os olhos. Havia algo de estranho neles, pensou Sombra. Um era de um cinzento mais escuro do que o outro. O desconhecido voltou-se para ele:
- A propósito, lamento as notícias sobre a tua mulher, Sombra. Foi uma grande perda.
Nesse momento, Sombra quase lhe bateu. Mas, em vez disso, respirou fundo. («É como te digo, não irrites as cabras dos aeroportos», dizia a voz de Johnnie Larch algures na sua memória, «ou vens malhar com os ossos outra vez cá dentro enquanto o diabo esfrega um olho.») Contou até cinco.
- Eu também lamento - retorquiu.
O homem abanou a cabeça:
- Se ao menos pudesse ter sido de outro modo - comentou, com um suspiro.
- Morreu num acidente de automóvel - disse Sombra - Há maneiras piores de se morrer.
O homem abanou lentamente a cabeça. Por um instante, Sombra teve a sensação de que ele era insubstancial, como se o avião se tivesse tornado subitamente mais real, enquanto o seu vizinho perdia realidade.
- Sombra - disse o homem. - Isto não é uma brincadeira. Não é um truque. Posso pagar-te mais do que aquilo que ganharias em qualquer outro emprego. És um ex-recluso. Não haverá propriamente uma quantidade de gente a acotovelar-se para te contratar.
- Senhor Como-Raio-Se-Chama - disse Sombra, numa voz apenas audível acima do zumbido dos motores -, nem por todo o dinheiro do mundo.
O sorriso do homem abriu-se ainda mais. Sombra deu por si a recordar um documentário sobre chimpanzés. Segundo esse documentário, quando os chimpanzés e outros símios sorriem, fazem-no apenas para mostrarem os dentes, num esgar de ódio, agressividade ou medo. O sorriso de um chimpanzé é uma ameaça.
- Vem trabalhar para mim. É possível que haja alguns riscos, bem entendido, mas, se sobreviveres, poderás ter tudo o que quiseres. Poderás ser o próximo rei da América. Como vês, quem irá +agar-te tão bem? Heim?
- Quem é você? - inquiriu Sombra.
- Ah, sim. A era da informação... minha senhora, pode trazer-me outro copo de Jack Daniel's? Não abuse do gelo... não, claro que nunca houve outro tipo de era. Informação e conhecimento: duas divisas que nunca passaram de moda.
- Perguntei-lhe quem é.
- Vejamos... Bem, tendo em conta que não há dúvidas de que hoje é o meu dia, porque não me chamas Quarta-Feira? Senhor Quarta-Feira. Embora, considerando o tempo que está, até podia ser quinta-feira, heim?"

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