Excertos do prólogo:
" Fala Morgaine...
No meu tempo chamaram-me muitas coisas: irmã, amante, sacerdotisa, maga, rainha. Agora, em verdade, acabei por me tornar uma maga, e pode vir um tempo em que estas coisas precisem de ser conhecidas. Mas em perfeita verdade, penso que serão os cristãos a ter a última palavra. O mundo das Fadas está a afastar-se definitivamente do mundo em que Cristo governa. Não tenho nada contra Cristo, apenas contra os seus sacerdotes que chamam à Grande Deusa um demónio e negam que ela alguma vez tenha tido poder neste mundo. Dizem que, no máximo, o poder dela era o de Satanás. Ou então vestem-na com o manto azul da Senhora de Nazaré - que, de facto, à sua maneira, também teve poder - e dizem que foi sempre virgem. Mas o que é que uma virgem pode saber da labuta e dos sofrimentos da humanidade?
E agora que o mundo mudou e Arthur - meu irmão, meu amante, rei que foi e rei que será - jaz morto (o povo diz que dorme) na Ilha Sagrada de Avalon, deve-se contar a história de como era antes dos padres de Cristo Branco chegarem e cobrirem tudo com os seus santos e lendas."
"E assim Arthur jazia finalmente com a cabeça no meu colo, vendo em mim não a irmã, não a amante, não a inimiga, mas apenas a maga, a sacerdotisa, a Senhora do Lago; e assim descansou no seio da Grande Mãe de quem veio quando nasceu e para quem, no fim, como todos os homens, terá de ir. E talvez, enquanto eu dirigia a barca que o levava, desta vez não para a Ilha dos Padres, mas para a verdadeira Ilha Sagrada no mundo das trevas por trás do nosso, essa Ilha de Avalon onde agora poucos, exceptuando eu, podem ir, ele se tenha arrependido da inimizade que nascera entre nós."
"Ao contar esta história, falarei por vezes de coisas que aconteceram quando era ainda demasiado jovem para as compreender ou de coisas que aconteceram quando não estava presente, e talvez o meu ouvinte se retraia e diga: Isto é a magia dela. Mas tive sempre o dom da Visão e de ver dentro do espírito dos homens e das mulheres; e durante todo este tempo estive perto de todos eles. E assim, às vezes, de uma forma ou de outra, sabia tudo o que eles pensavam. E assim contarei esta história.
Pois um dia os padres também contarão como a conhecem. Talvez entre as duas se consiga ver qualquer vislumbre da verdade."
"E assim, talvez a verdade gire algures entre a estrada para Glastonbury, Ilha dos Padres, e a estrada para Avalon, perdida para sempre nas brumas do Mar do Verão.
Mas esta é a minha verdade. Eu que sou Morgaine, conto-vos estas coisas, Morgaine a quem mais tarde chamaram Morgan Le Fay."
Quando me falam de As Brumas de Avalon sorrio, porque gosto mesmo muito dos livros. Já os li mais que uma vez e, agora por estar a escrever sobre eles, tenho vontade de reler tudo outra vez! É para verem quão fantástica é a história. :)
Adoro os livros da Marion Zimmer Bradley, uns mais do que outros, como é natural. Quando começo a ler um livro dela tenho a certeza absoluta que vai ser tempo bem gasto, excepto os do Poder Supremo, que sinceramente não me convenceram. As Brumas de Avalon são, no entanto, os meus favoritos.
Nos quatro volumes que constituem esta saga, a autora dá-nos uma versão diferente da Lenda do Rei Artur. A história é contada sempre na perspectiva das mulheres, são elas quem tem o poder, são elas as responsáveis por muitos dos acontecimentos, provocado-os deliberadamente ou não. É uma história cheia de magia, de misticismo e de beleza. Conta um pouco da história da mítica Ilha Sagrada de Avalon, onde as mulheres são iniciadas nos segredos da vida e da Deusa. Do aparecimento dos primeiros cristãos com o seu Deus Único, castigador e castrador. Nessa altura, as mulheres começam a ser vistas como figuras secundárias da sociedade, servindo para pouco mais que procriar. As sacerdotisas de Avalon começam a ser consideradas feiticeiras, bruxas que servem Satanás.
É evidente uma crítica ao cristianismo, no entanto a imagem que se passa da Deusa, suposta Mãe de todos nós é também ela de uma entidade vingativa, intolerante, segregadora que não olha a meios para atingir objectivos e que, para continuar a ser adorada é capaz de tudo. Não vejo grandes diferenças entre o Deus dos padres e a Deusa da sacerdotisas. Embora a figura da Deusa seja muito mais apelativa por invocar a beleza da mulher, a harmonia e o respeito pela natureza. Existe magia, existe liberdade, não é castradora dos desejos humanos. Talvez por isso a ideia de uma Deusa em vez de um Deus seja mais simpática e enquanto lemos, torcemos sempre pelas mulheres de Avalon. :)
Muito bem escrito, como seria de esperar, é sem dúvida daqueles livros que se têm que ler antes de morrer e, reler sempre que nos apetecer. Li, emprestados pela minha prima linda, mas quando os apanhei aos quatro nesta edição especial da Difel, tive de os comprar e valeram cada cêntimo que custaram (e não foram assim tão poucos como isso).
Se tivesse que os classificar, dar-lhes-ia cinco estrelas! :)
" Fala Morgaine...
No meu tempo chamaram-me muitas coisas: irmã, amante, sacerdotisa, maga, rainha. Agora, em verdade, acabei por me tornar uma maga, e pode vir um tempo em que estas coisas precisem de ser conhecidas. Mas em perfeita verdade, penso que serão os cristãos a ter a última palavra. O mundo das Fadas está a afastar-se definitivamente do mundo em que Cristo governa. Não tenho nada contra Cristo, apenas contra os seus sacerdotes que chamam à Grande Deusa um demónio e negam que ela alguma vez tenha tido poder neste mundo. Dizem que, no máximo, o poder dela era o de Satanás. Ou então vestem-na com o manto azul da Senhora de Nazaré - que, de facto, à sua maneira, também teve poder - e dizem que foi sempre virgem. Mas o que é que uma virgem pode saber da labuta e dos sofrimentos da humanidade?
E agora que o mundo mudou e Arthur - meu irmão, meu amante, rei que foi e rei que será - jaz morto (o povo diz que dorme) na Ilha Sagrada de Avalon, deve-se contar a história de como era antes dos padres de Cristo Branco chegarem e cobrirem tudo com os seus santos e lendas."
"E assim Arthur jazia finalmente com a cabeça no meu colo, vendo em mim não a irmã, não a amante, não a inimiga, mas apenas a maga, a sacerdotisa, a Senhora do Lago; e assim descansou no seio da Grande Mãe de quem veio quando nasceu e para quem, no fim, como todos os homens, terá de ir. E talvez, enquanto eu dirigia a barca que o levava, desta vez não para a Ilha dos Padres, mas para a verdadeira Ilha Sagrada no mundo das trevas por trás do nosso, essa Ilha de Avalon onde agora poucos, exceptuando eu, podem ir, ele se tenha arrependido da inimizade que nascera entre nós."
"Ao contar esta história, falarei por vezes de coisas que aconteceram quando era ainda demasiado jovem para as compreender ou de coisas que aconteceram quando não estava presente, e talvez o meu ouvinte se retraia e diga: Isto é a magia dela. Mas tive sempre o dom da Visão e de ver dentro do espírito dos homens e das mulheres; e durante todo este tempo estive perto de todos eles. E assim, às vezes, de uma forma ou de outra, sabia tudo o que eles pensavam. E assim contarei esta história.
Pois um dia os padres também contarão como a conhecem. Talvez entre as duas se consiga ver qualquer vislumbre da verdade."
"E assim, talvez a verdade gire algures entre a estrada para Glastonbury, Ilha dos Padres, e a estrada para Avalon, perdida para sempre nas brumas do Mar do Verão.
Mas esta é a minha verdade. Eu que sou Morgaine, conto-vos estas coisas, Morgaine a quem mais tarde chamaram Morgan Le Fay."
Quando me falam de As Brumas de Avalon sorrio, porque gosto mesmo muito dos livros. Já os li mais que uma vez e, agora por estar a escrever sobre eles, tenho vontade de reler tudo outra vez! É para verem quão fantástica é a história. :)
Adoro os livros da Marion Zimmer Bradley, uns mais do que outros, como é natural. Quando começo a ler um livro dela tenho a certeza absoluta que vai ser tempo bem gasto, excepto os do Poder Supremo, que sinceramente não me convenceram. As Brumas de Avalon são, no entanto, os meus favoritos.
Nos quatro volumes que constituem esta saga, a autora dá-nos uma versão diferente da Lenda do Rei Artur. A história é contada sempre na perspectiva das mulheres, são elas quem tem o poder, são elas as responsáveis por muitos dos acontecimentos, provocado-os deliberadamente ou não. É uma história cheia de magia, de misticismo e de beleza. Conta um pouco da história da mítica Ilha Sagrada de Avalon, onde as mulheres são iniciadas nos segredos da vida e da Deusa. Do aparecimento dos primeiros cristãos com o seu Deus Único, castigador e castrador. Nessa altura, as mulheres começam a ser vistas como figuras secundárias da sociedade, servindo para pouco mais que procriar. As sacerdotisas de Avalon começam a ser consideradas feiticeiras, bruxas que servem Satanás.
É evidente uma crítica ao cristianismo, no entanto a imagem que se passa da Deusa, suposta Mãe de todos nós é também ela de uma entidade vingativa, intolerante, segregadora que não olha a meios para atingir objectivos e que, para continuar a ser adorada é capaz de tudo. Não vejo grandes diferenças entre o Deus dos padres e a Deusa da sacerdotisas. Embora a figura da Deusa seja muito mais apelativa por invocar a beleza da mulher, a harmonia e o respeito pela natureza. Existe magia, existe liberdade, não é castradora dos desejos humanos. Talvez por isso a ideia de uma Deusa em vez de um Deus seja mais simpática e enquanto lemos, torcemos sempre pelas mulheres de Avalon. :)
Muito bem escrito, como seria de esperar, é sem dúvida daqueles livros que se têm que ler antes de morrer e, reler sempre que nos apetecer. Li, emprestados pela minha prima linda, mas quando os apanhei aos quatro nesta edição especial da Difel, tive de os comprar e valeram cada cêntimo que custaram (e não foram assim tão poucos como isso).
Se tivesse que os classificar, dar-lhes-ia cinco estrelas! :)