A Pearl S. Buck é uma Danielle Steel ou uma Nora Roberts (agora tão na moda) com personalidade e com estilo. Escreve romances, puros e duros, onde existem grandes paixões, olhares embevecidos e onde o amor dói de verdade. Então porque gosto dos livros dela? Simplesmente porque não são romances previsíveis, a menina nem sempre fica com o príncipe encantado, pelo menos não da forma arrebatadoramente típica de outros romances. As personagens são interessantes e cheias de particularidades. No fundo são mais reais com histórias de vida mais próximas do comum dos mortais. Acho que gosto deles por não serem romances que apelem à lamechice (existe esta palavra?!) gratuita. Além disso a autora, já falecida, é de outra época e por isso, os livros dela têm um "cheirinho" antigo e gostoso, para além de exóticos, uma vez que a autora viveu muitos anos na China e, transporta para as suas histórias um pouco dessa vivência.
Bem Me Quer, Mal Me Quer, narra a história de uma família de judeus a viver na China há algumas gerações. Ezra, um comerciante próspero, é descende de judeus por parte do pai, mas a mãe era chinesa, uma concubina. É casado com Naomi, uma judia orgulhosa de ser uma judia pura. Sempre se sentiu, ou fez questão de se sentir, estrangeira na China. Sonha regressar à terra prometida, na Palestina, de onde o seu povo foi expulso. É boa pessoa, apenas muito zelosa dos seus deveres religiosos e do dever que sente em manter as tradições judaicas vivas na sua família e comunidade. Tem receio de que, se nada fizer, o seu povo seja completamente assimilado pela alegria e tolerância dos chineses. Toda a sua esperança reside no seu único filho David, rapaz alegre e despreocupado. Quando a mãe decide casá-lo com a filha do rabino, este apercebe-se de que tem uma escolha a fazer; ceder à vontade da mãe e, com isso abraçar a religião do seu povo assumindo a responsabilidade de a manter viva, ou casar com a filha de um importante comerciante chinês, por quem se encantou e, esquecer as suas raízes judaicas. No meio disto tudo existe, Peónia, a rapariguita que foi comprada ainda criança para fazer companhia a David e para o servir. Como é natural Peónia apaixona-se perdidamente por David. Sabendo que não poderá nunca ser sua esposa, pois os pais deste nunca o permitiriam, tudo faz para se manter na sua vida , tornando-se indispensável para ele e o pilar da família. Embora seja apenas uma criada, é uma mulher muito inteligente, culta e sábia. Para poder ficar junto de David, anula-se como mulher e como pessoa, existindo apenas para servir o homem que ama.
Em Bem Me Quer, Mal Me Quer, Pearl S. Buck fala-nos da posição das mulheres na sociedade chinesa, submissas e pouco instruídas, mas essenciais nos seus papéis. No livro, as mulheres são as responsáveis por quase todos os acontecimentos. Os homens são manipulados, sem o saberem, por elas.
Embora tenha gostado mais do Há Sempre Um Amanhã, da mesma autora, o Bem Me Quer, Mal Me Quer é, também ele, muito bom. Por não ser uma pessoa religiosa, não me identifiquei com as dúvidas que assombravam as personagens e, por não ser uma mulher chinesa, ou de outra nacionalidade, de outros tempos, também tenho dificuldade em assimilar a forma de amar de Peónia. Mas na história tudo isto faz sentido e o livro também é bom por nos mostrar como são diferentes as mulheres do nosso século, e como nos devemos sentir agradecidas a todas as nossas antecessoras por terem lutado pelos direitos das mulheres que nos permitem, hoje em dia, tomar decisões sobre tudo nas nossas vidas.
É um bom livro. :)