novembro 09, 2009

Leituras (quase) inacabadas

Todos nós temos livros que pura e simplesmente não conseguimos acabar de ler. Uns porque não era a altura certa para pegar neles, ou por serem de difícil leitura ou porque o tema não é o adequado para a altura. Outros, porque simplesmente não gostamos deles.
Quando era mais nova, não me lembro de alguma vez ter deixado um livro a meio. Houve uns que me custaram mais a ler, mas nunca os deixei a meio, fazia um esforço para os acabar. Não sei porque não os abandonava, se não estava a gostar da história... talvez porque livros novos não fossem assim tão frequentes cá em casa. Hoje a minha atitude perante a leitura mudou um pouco. Quando não estou a ter prazer na leitura, ponho de lado, mas não de ânimo leve. Com tanta coisa boa para se ler, sei que não vale a pena perder tempo com coisas que não nos dizem nada, mas resisto sempre mais do que devia. :)

Quando, pela primeira vez, não consegui acabar um livro fiquei aborrecida. Ainda por cima era um clássico sobre o qual tinha ouvido maravilhas, o Moby Dick do Herman Melville. O livro é enorme (o que para mim é sempre um ponto a favor) e começa muito bem, divertido, interessante. A páginas tantas torna-se tão aborrecido que só não parei de o ler mais cedo porque... porque era o Moby Dick e tive algum pudor em não lhe dar uma, duas, três oportunidades! :) Li-o quase todo, mas por pura carolice, até que um dia desisti, não aguentei mais... :p Aconteceu-me o mesmo com o Vale de Abraão da Agustina Bessa-Luís, autora que tinha muita curiosidade de ler. Achei o livro muito chato, não se passava nada... Foi com pena que o pus de lado, talvez um dia mais tarde já o saiba apreciar.

Felizmente a minha lista de livros inacabados não é muito extensa, mas tenho a noção de que deveriam estar lá mais uns quantos que me deram "água pelas barbas", o que só prova a minha teimosia! :) É o caso do Boa Tarde Às Coisa Aqui Em Baixo do António Lobo Antunes. Livro difícil... Nunca me senti tão burra a ler um livro. Foi das experiências mais frustrantes que já me aconteceram na leitura. Foi daqueles livros em que tive de voltar atrás uma data de vezes, a ver se conseguia apanhar o fio à meada. Quando ia para desistir, lá apanhei qualquer coisa, que voltei a perder não muito depois e, sinceramente fiquei com fobia ao senhor desde essa altura! Já tinha lido o Manual dos Inquisidores uns anos antes e, tinha achado o livro interessante, diferente de uma forma positiva por isso, quando encontrei tantas dificuldades para acompanhar o Boa Tarde Às Coisa Aqui Em Baixo fiquei surpreendida. Só de pensar nisso já estou a ficar com "borboletas no estômago". :/
Experiência semelhante tive com Os Versículos Satânicos do Salman Rushdie, que parei de ler, porque tive dificuldades em entrar na história. No entanto, tenciono tentar lê-lo daqui as uns anos, porque acho que foi um problema de timing, mais do que do livro em si. Quanto ao outro senhor, o António Lobo Antunes, não digo nunca, mas... acho que será muito difícil apanharem-me com outro livro dele nas mãos. :)
Outro autor que tenho alguma dificuldade em gostar é do Ernest Hemingway, li O Velho e o Mar, Por Quem os Sinos Dobram e deixei a menos de meio As Verdes Colinas de África, porque o tema da caça incomoda-me... Tenho pena de não conseguir ver nele o que milhões de pessoa vêem mas, não me consigo identificar com a escrita dele.

Depois tenho daqueles livros que acabei, mas que não gostei. Não por serem difíceis, mas por serem maus, com histórias absurdas e mal contadas. Foi o caso do A Ruína da Jennifer Egan, do O Autenticador do William Valtos, From a Buick 8 e Tommyknockers do Stephen King, de quem gosto muito, mas estes dois fizeram-me algumas comichões no cérebro... :)



Tendo em conta que já devo ter lido mais de uma centena de livros na minha vida, acho que as coisas não me têm corrido mal. Mesmo quando não estão especialmente bem escritos o que interessa é que o livro nos divirta, nos faça pensar e que nos deixe a pensar depois de acabado, que nos ensine alguma coisa e que nos faça pensar que valeu a pena o tempo que lhe dedicámos.
De certeza que tenho no meu futuro muitos livros que não vou conseguir ler. O que eu gostaria é que fossem daqueles que eu ponho de lado a pensar: "Talvez quando for velhinha já tenha a sabedoria necessária para os entender".

Boas leituras.

10 comentários:

  1. Escreveu: "Boa Tarde Às Coisa Aqui Em Baixo do António Lobo Antunes. Livro difícil... Nunca me senti tão burra a ler um livro."
    Permita-me um conselho: experimente ler Lobo Antunes de outra forma: sem procurar encaixar os enredos. É que eu passei pelo mesmo problema e hoje ADORO Lobo Antunes. Trata-se de um escritor completamente diferente do convencional. Eu só comecei a gostar quando deixei de me preocupar com o enredo porque é o que ele faz ao escrever; as suas personagens trocam de papeis; ora vivem uns e morrem outros, porque a vida é feita de acontecimentos mas também de desejos, imaginação, memórias e sonhos; em Lobo Antunes as personagens são uma mistura disto tudo. O enredo é o que menos interessa; aprecie a beleza das palavras, a poesia da escrita, a humanidade das personagens e, calmamente, deixa a mente vaguear por esses exercícios de imaginação. Vai ver que vai gostar.
    Já agora, deixe-me dizer-lhe que a obra mais bela deste autor é, na minha opinião "Ontem não te vi em Babilónia": pura poesia!

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  2. Na minha opinião fez bem em abandonar esse livro do Hemingway. É uma das obras menos conseguidas. Também abandonei.
    Adorei as duas que indica e também "Fiesta", um livro muito bela embora o tema me desagrade (touradas). Mas com o devido distanciamento, dá para admirar a arte de bem escrever.
    O Velho e o Mar é um tesouro da literatura mundial.

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  3. Obrigada pelos comentários que aqui deixou.

    Quanto ao A. Lobo Antunes, tentarei seguir o seu conselho, uma vez que me diz que o mesmo se passou consigo. No entanto, vou esperar mais uns tempos. A frustação ainda está demasiado presente para que consiga encarar os livros dele sem alguma ansiedade... :)

    Com o Hemingway não é uma questão de não gostar, é mais não achar nos livros a genialidade que muita gente vê. Tenho alguma pena, porque acho que me está a escapar alguma coisa. Eventualmente acabarei por ler mais livros dele, mais que não seja porque o meu (futuro) sogro é um grande fã e, tem a estante cheia de livros dele. Oportunidades não faltarão. :)

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  4. Curiosamente do A L Antunes, li, aquando da sua publicação, os dois primeiros livros dele (se calhar há mais de trinta anos), CONHECIMENTO DO INFERNO e MEMÓRIA DE ELEFANTE e adorei/espectáculo!

    Agora sou absolutamente incapaz de ler um livro dele, mas vou tentar seguir o caminho apontado pelo Manuel Cardoso, pode ser unma boa idéia...

    O VELHO E O MAR - uma pérola.

    MOBY DICK - deixei-o, há muitos anos, a menos de metade.

    Boas leituras

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  5. Chateia-ma à brava começar um livro e não o acabar, mas penso o mesmo que a N.Martins, tanta coisa que há para ler para quê estar a "engonhar".....mas há surpresas; o MEMORIAL DO CONVENTO, deixei-o, na primeira vez em que lhe peguei, na página cinquenta e não é que passados uns meses voltei a pegar e não o larguei enquanto não o acabei e é simplesmente a melhor história de amor que li até hoje, inolvidável!

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  6. Há escritores de quem desconfio, por isso só em último caso e se bem recomendado, lhes pegarei: JOÃO TORDO, SALMAN RUSHDIE, ONDJAKI, W. FAULKNER e AQUILINO RIBEIRO, dos que agora me lembro.

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  7. O maior "barrete" que levei nos ultimos anos, ate porque gosto do tema, foi AS BENEVOLENTES, que grande seca, uma estopada de caixao a cova, e sao 900 e tal, novecentas e tal paginas passei a ter medo, muito medo dos calhamacos

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  8. SEVE: Memorial do Convento é como diz, a melhor e mais bonita história de amor de todos os tempos. Adoro! :)
    Experimente, sem medos, João Tordo e Ondjaki. Apenas li um livro destes dois autores, mas gostei bastante deles. São refrescantes! :)
    Sobre o Salman Rushdie não vou emitir opinião porque, embora tenha achado interessante o Shalimar, O Palhaço, o As Trevas Satânicas continua por ler na estante. ;)

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  9. Cá estou eu novamente para dizer que "sofro" do mesmo mal. Em miúda lia tudo o q me parava nas mãos, até coisas que me custavam horrores ler, tipo, o Anna Karenina de Tolstoi. Depois amadureci como pessoa e passei só a ler se me desse prazer. Assim, também eu tenho a minha lista de inacabados. A Sibila e os versiculos satânicos são dois deles. E apesar de adorar Saramago (li o ensaio sobre a cegueira há mts anos e ficou no meu top 10 até hoje) nunca peguei em Lobo Antunes. Não faço ideia do porquê, acho q simplesmente "embirrei"com o senhor....

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  10. Olá!!
    Concordo com você, nos livros que citou...
    Hermingway, li um livro. Depois li a biografia, implicância pura...
    Passei a pensar dele um homem fraco, sem criatividade pois, suicidou-se como o pai. Egocêntrico, problemas com as mulheres, acho que ele queria todas a seus pés.
    Daí não voltei mas as suas obras pode? apesar que tb não gostei em parte de sua escrita, assim como vc...
    Salman, tb não consegui e me achei burra, mas, sei que é questão de outra oportunidade...
    Obrigada pelas dicas!!!
    Abç
    Orquidea

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