maio 15, 2011

A Rapariga que Sonhava Com Uma Lata de Gasolina e Um Fósforo - Stieg Larsson

Título original: Flickan Som Lekte Med Elden
Ano da edição original: 2006
Autor: Stieg Larsson
Tradução do Inglês: Mário Dias Correia
Editora: Oceanos

"Depois de uma longa estada no estrangeiro, Lisbeth Salander regressa à Suécia, cede o pequeno apartamento onde vivia à sua amiga Miriam Wu, e instala-se luxuosamente numa zona nobre da cidade. Pela primeira vez na vida é economicamente independente, mas cedo percebe que o dinheiro não é tudo: não tem amigos, nem família e está só. Mikael Blomkvist, que tentara contactar Lisbeth Salander durante meses, sem sucesso, desiste e concentra-se no trabalho. À Millennium chegou material para uma notícia explosiva: o jornalista Dag Svensson e a sua companheira Mia Johansson entregam na editora dois documentos que provam o envolvimento de personalidades importantes numa rede de tráfico de mulheres para exploração sexual. Quando Dag e Mia são brutalmente assassinados, todos os indícios recolhidos no local do crime apontam um suspeito: Lisbeth Salander. O seu passado sombrio e pouco convencional não abona a favor da sua imagem e a polícia move-lhe uma implacável perseguição. Lisbeth Salander, que está disposta a romper de vez com o passado e a punir aqueles que a prejudicaram, tem agora de provar a sua inocência e só uma pessoa parece disposta a ajudá-la: Mikael Blomkvist que, apesar de todas as evidências, se recusa a acreditar na sua culpabilidade."

E Lisbeth Salander volta, neste segundo livro da trilogia, para me fazer companhia. Companhia estranha, é certo que por vezes perturbadora, mas essencialmente boa companhia. Lisbeth continua, neste livro, a ser uma personagem que me fascina. Gosto realmente desta rapariga! :)

Em A Rapariga que Sonhava Com Uma Lata de Gasolina e um Fósforo (mais um título muitíssimo bem escolhido), encontramos Lisbeth multimilionária, depois de no livro anterior ter desviado uns quantos milhões ao corrupto Wennerström, que regressou recentemente à Suécia e não sabe muito bem como se adaptar à sua nova condição de muito rica. A Lisbeth que encontramos está mais madura e aparentemente mais equilibrada e serena. Depois de um ano fora, ela não é esperada por ninguém, as poucas pessoas que se preocuparam com o seu desaparecimento súbito, já haviam desistido de a procurar e seguiram com as suas vidas. Foi o caso de Mikael Blomkvist, que depois de várias e infrutíferas tentativas para a encontrar se rendeu à evidência de que ela não desejava ser encontrada por ninguém, muito menos por ele.
É penosa a solidão e o desamparo de Lisbeth, na fase inicial do livro, mais ainda porque é uma solidão evitável, uma vez que existe quem se preocupe e goste dela.

As vidas de Mikael e Lisbeth voltam a cruzar-se quando Dag Svensson e Mia Johansson são assassinados e a principal suspeita é Lisbeth.
Dag era um jornalista que estava a escrever um livro, a ser editado pela Millennium, sobre o tráfico de mulheres, algumas menores, na Suécia e Mia, namorada de Dag, estava em vias de terminar a sua tese de doutoramento sobre o mesmo tema. Ambos pretendiam revelar e expor publicamente figuras importantes da vida política e social sueca, envolvidas no tráfico de mulheres e comércio sexual das mesmas. Mikael Blomkvist vê-se de repente envolvido em mais uma corrida contra o tempo, enquanto tenta provar a inocência de Lisbeth e ao mesmo tempo encontrar o verdadeiro responsável pelo crime que vitimou os seus dois amigos. O historial de violência e o internamento de Lisbeth numa clínica psiquiátrica, que foi a sua casa na adolescência, não vão facilitar a tarefa de Mikael, muito menos com a polícia e a opinião pública sueca a considerarem-na uma sociopata tresloucada que nunca deveria ter tido alta da clínica. Enquanto isso, Lisbeth vai fazendo a sua própria investigação mais com o intuito de encontrar Zala, um nome ligado ao seu passado e que surgiu associado ao tráfico de mulheres que Mia e Dag investigavam, do que para provar a sua inocência. Chega inclusive a afirmar que não é inocente, isto porque "Não há inocentes. Há apenas diferentes graus de responsabilidade."
Lisbeth não tem, nem nunca teve, uma vida fácil e neste livro ela inicia uma viagem ao passado para o resolver definitivamente. Deixar de fugir ou de se esconder deixou de ser opção. Conhecendo Lisbeth, sabemos de antemão que as coisas não vão correr bem para muita gente e a própria Lisbeth irá passar por situações de vida ou morte.
E acho que não vale a pena dizer mais nada acerca da história do livro, até porque o giro é ser-se surpreendido. :)

À semelhança do Os Homens que Odeiam as Mulheres, já lido e comentado aqui, Stieg Larsson não tem qualquer pressa em avançar para a acção, perde-se em pormenores e histórias paralelas, o que provavelmente acaba por afastar alguns leitores menos pacientes. E mesmo o mais pacientes (caso da que aqui vos escreve) por vezes sentem alguma impaciência pela calma que define todo o livro, pelos desvios que distraem e que nos afastam da acção e da vida das personagens. No entanto confesso que, depois de lido, a impressão que fica é a de que acabámos de ler um livro com mais de 600 páginas, sem qualquer esforço e as personagens eram reais e estiveram sempre muito próximas. E isso é positivo. :)
É claro que existem passagens do livro que são perfeitamente dispensáveis, como a da descrição de um Mikael deslumbrado com a máquina de café topo de gama que Lisbeth tem no novo apartamento. Dispensável é também a muita publicidade que se faz ao IKEA e à Apple e passava bem sem saber que Bublanski e Modig (polícias destacados para a investigação criminal) foram ao Burger King e comeram um Whooper e um Veggie Burger, respectivamente. Enfim, distracções dispensáveis mas que não pesam muito na opinião final acerca do livro.

Gostei! E gostei porque está bem escrito, porque gosto muito da forma como o autor vai construindo a história e da forma como no final as peças do puzzle encaixam na perfeição. Porque e, mais uma vez o tema é a violência sobre as mulheres e nunca é demais alertar para qualquer tipo de violência, quer seja sobre as mulheres quer seja sobre homens ou crianças. Neste livro agradou-me especialmente que o desenrolar da história fosse credível, coisa que nos livros do género não é muito comum. Excepção feita para a sensação de que a Suécia só pode ser minúscula, porque toda a gente se conhecia... :) Gostei que me permitisse ter uma imagem da Suécia e dos suecos mais realista, atenuando um pouco a imagem de que os países nórdicos são perfeitos e infalíveis. Mas o que me faz dizer que gostei sem grandes hesitações, é a personagem da Lisbeth. Gosto dela, e sei que é das poucas personagens que me vai ficar pela memória, quando tiver acabado de ler a trilogia. Aliás, uma das críticas menos boas que posso fazer ao livro é mesmo ter achado que, sendo um livro centrado nela, a presença dela poderia ter sido mais evidenciada e explorada.
Finalmente, gostei porque mesmo já tendo visto os filmes e, portanto já conheça o fim da trilogia, o prazer da leitura não foi muito afectado e, só posso imaginar e invejar, confesso, o friozinho na barriga que certas passagens mais tensas poderão provocar. Mesmo nestas condições, gostei do livro e mesmo nestas condições vou ler já a seguir o terceiro e último livro da trilogia.

Posto isto, só posso dizer para lerem! ;)


Excerto:
"Estava deitada de costas, presa por correias de couro à armação de ferro da cama estreita. As correias, cruzadas, apertavam-lhe o peito, e tinha as mãos algemadas aos lados do catre.
Havia muito que desistira de tentar libertar-se. Estava acordada, mas tinha os olhos fechados. Se os abrisse, ver-se-ia, envolta em escuridão; a única luz era uma débil risca amarelada que se filtrava por cima da porta. A boca sabia-lhe mal e ansiava por poder lavar os dentes."

Trailer do filme baseado no segundo volume da trilogia e bastante fiel à história:

2 comentários:

  1. Ando com imensa vontade de pegar nesta trilogia. :)
    A ver se é na próxima "onda" de compras (talvez para as férias)
    Beijocas

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  2. Eu estou a gostar da trilogia. Estou até com pena de ter visto os filmes porque sinto que estou a perder o elemento surpresa. Tenho uma relação ambígua com estes livros, porque dou por mim, muitas vezes a pensar no porquê de os estar a ler (tem muita informação desnecessária), mas no fim acabo sempre por ficar com uma boa impressão. Agora não são livros que valham o preço de editora, isso não valem mesmo... :) Compra-os baratinhos! ;)

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