agosto 13, 2010

Os Homens Que Odeiam As Mulheres (Millennium I) - Stieg Larsson

"O jornalista de economia Mikael Blomkvist precisa de uma pausa. Acabou de ser julgado por difamação ao financeiro Hans-Erik Wennerström e condenado a três meses de prisão. Decide afastar-se temporariamente das suas funções na revista Millennium. Na mesma altura, é encarregado de uma missão invulgar. Henrik Vanger, em tempos um dos mais importantes industriais da Suécia, quer que Mikael Blomkvist escreva a história da família Vanger. Mas é óbvio que a história da família é apenas uma capa para a verdadeira missão de Blomkvist: descobrir o que aconteceu à sobrinha-neta de Vanger, que desapareceu sem deixar rasto há quase quarenta anos. Algo que Henrik Vanger nunca pôde esquecer. Blomkvist aceita a missão com relutância e recorre à ajuda da jovem Lisbeth Salander. Uma rapariga complicada, com tatuagens e piercings, mas também uma hacker de excepção. Juntos, Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander mergulham no passado profundo da família Vanger e encontram uma história mais sombria e sangrenta do que jamais poderiam imaginar."

Finalmente li o primeiro volume da saga Millennium do Stieg Larsson. Este livro já estava há algum tempo na minha estante, intocável. Fui adiando a leitura porque o burburinho à volta desta trilogia era ensurdecedor e a verdade é que não gosto de ler os livros que toda a gente anda a ler. Gosto de esperar uns meses, às vezes anos para os ler sem a excitação que por vezes acompanha estes fenómenos literários. Com este a oportunidade de o comprar mais barato fez com que chegasse mais cedo cá a casa. :)

Os Homens Que Odeiam As Mulheres não é um policial comum, tem um ritmo mais lento, onde os pormenores e detalhes são importantes e onde as personagens se querem bem desenvolvidas, sem se tornarem transparentes para o leitor. Não sabemos tudo sobre as suas vidas porque, como Lisbeth Salander diz, toda a gente tem segredos. É assim que tem de ser para que as sintamos mais próximas e mais reais e não apenas personagens de uma história grotesca e violenta passada na Suécia. Desta forma criamos empatia com os protagonistas da história, Mikael Blomkvist, um jornalista de economia conhecido pelas suas investigações sobre a corrupção no mundo empresarial e, Lisbeth Salander uma rapariga com uma inteligência muito acima da média, socialmente inadaptada e uma hacker excepcional.
Inicialmente as histórias destas duas personagens correm paralelas. De um lado temos Mikael Blomkvist, um dos sócios de revista Millennium, acabado de ser condenado por difamação e a precisar de uma pausa para se recompor e preparar uma estratégia que lhe permita recuperar a, até então, imaculada reputação jornalística. Quando Henrik Vanger o procura para que este investigue o desaparecimento de Harriet Vanger, sobrinha-neta de Henrik, desaparecida há mais de quarenta anos, Mikael aceita. A proposta é financeiramente tentadora mas o principal incentivo são os factos sobre Weennerström que Henrik alega ter em seu poder e que poderão ser muito úteis a Mikael. Desta forma, Mikael concorda em mudar-se para a ilha de Hedeby, onde o clã Vanger reside. Viverá lá durante um ano, durante o qual deverá investigar as suspeitas de Henrik, de que Harriet terá sido assassinada por um dos membros da família Vanger. Henrik deposita todas as suas esperanças em Mikael, pretende que este traga uma nova visão ao mistério, pois esta será sua derradeira tentativa para desvendar o súbito desaparecimento de Harriet, algo que se tornou numa obsessão e que o atormenta há demasiado tempo.
Quando o livro começa, Mikael nada sabe de Lisbeth Salander, nunca falou ou sequer se cruzou com ela. No entanto, Lisbeth sabe tudo acerca de Mikael. Mais do que ele poderia alguma vez imaginar. Lisbeth trabalha com investigadora freelancer para uma empresa de segurança, a Milton Security, e é a melhor que eles têm. Não há nada que ela não consiga descobrir acerca de uma pessoa. Mikael foi mais um trabalho, encomendado por Henrik Vanger, com o intuito de saber se ele seria de confiança. Lisbeth é uma rapariga com um passado obscuro e doloroso. Tem a mãe no asilo, alheada da realidade e que a confunde constantemente com a irmã. Lisbeth, embora adulta, está sob custódia do estado sueco, por ser considerada violenta e socialmente incapaz de tomar conta da sua vida, tendo-lhe sido designado um tutor. Durante a investigação de Mikael os caminhos dos dois acabam por se cruzar e ela acaba por ajudá-lo na missão que este tomou em mãos. Mikael foi a única pessoa que Lisbeth deixou entrar na sua vida, surpreendendo-se a si própria com a facilidade com que confiou instantaneamente nele. Juntos formam uma dupla improvável, porque Mikael, embora descontraído, é orgulhosamente correcto e honesto e, Lisbeth tem uma noção ligeiramente diferente dos limites legais e morais impostos por uma sociedade a que não sente pertencer. A verdade é que acabam por formar uma dupla imbatível! :)

Não vou esmiuçar o mistério porque seria impossível fazê-lo sem desvendar pormenores que poderiam revelar demais. Apenas digo que a família Vanger é tudo menos convencional e tem uma quantidade generosa de esqueletos cabeludos no armário. E estes esqueletos são fruto de psicopatias assustadoras e muito, muito feias. Mikael não poderia nunca imaginar que se estava a meter com uma gente tão doentia.
Acrescento apenas que o título, Os Homens Que Odeiam As Mulheres, é um título mais do que adequado, pois o livro fala muito de violência contra as mulheres. Com descrições nada agradáveis de ler, mas que fazem parte da história e que são importantes para criar o ambiente de horror que se pretende. Pessoalmente não achei que fossem cenas gratuitas, apenas postas para chocar. Acho que fazem sentido, mas que não são agradáveis de ler, lá isso não são.

Apercebo-me, ao reler o que já escrevi, que ainda não disse se gostei do livro ou não. Confesso que tive algumas dificuldade em opinar sobre este Millennium I, exactamente porque tenho sentimentos ambíguos relativamente a ele. Acho que gostei, mas ao mesmo tempo estava à espera de mais. Gostei da escrita, nada de extraordinário, mas eficaz. Gostei da forma como a história foi contada, da maneira como as peças do puzzle se foram juntando e não adivinhei o final, o que é bom. Adorei a personagem da Lisbeth e estou curiosíssima para saber mais sobre ela no próximo livro. Gostei do Mikael, gostei da sua personalidade, é quase impossível não simpatizar com ele porque é muito transparente e muito honesto em todas as coisas que faz e diz e, por isso, faz sentido que seja uma personagem mais estanque, que não evoluiu quase nada ao longo do livro. O Mikael que desce as escadas do tribunal nas primeiras páginas é igual, na sua essência, ao Mikael que temos no fim do livro.
No entanto, houve uma ou outra coisa de que não gostei assim tanto, como a história paralela sobre o Mikael e o Wennerström. Muita finança e conversa empresarial que têm o dom de me desligar o cérebro. :| Foi com algum esforço que li algumas dessas partes. Não sei se esta parte da história será importante para os outros livros, mas neste serviu apenas para nos ajudar a conhecer o carácter do Mikael e para o escritor dar uma alfinetada na alta finança e na corrupção que grassa no meio. Como bom sueco que era, a preocupação com estes assuntos, e outros, está bem patente. :)
O mistério do desaparecimento da Harriet foi relativamente interessante, com reviravoltas e descobertas por vezes rebuscadas, que só são problemáticas se não forem fãs do género policial/horror, que é o meu caso, em que acho tudo sempre pouco verosímil. No entanto neste livro isso nem me incomodou muito, consegui manter um espírito mais aberto relativamente a esses pormenores. Afinal de contas fazem parte do género e se lá não estivessem o livro não teria fim, porque seria impossível resolver o mistério. :)

Concluindo, tinha algumas expectativas para este livro mas, como é raro adorar, venerar ou vibrar com policiais e livros de horror, não seria de esperar que este fosse tão diferente ao ponto de me arrebatar no entanto, gostei bastante, pelo menos o suficiente para querer ler os outros dois e ver o filme e, por isso recomendo. ;)

Notas:Podem ver o trailer do filme, Man Som Hatar Kvinnor, baseado neste livro, aqui:

3 comentários:

  1. Apesar de já ter lido boas opiniões desta trilogia, incluindo a tua, esta é daquelas que não sei se vou pegar tão cedo, pois confesso que ando um pouco cansada de ler trilogias. E como há um filme, coisa que desconhecia, talvez opte mesmo por esta versão mais rápida! ;)

    ResponderEliminar
  2. Ainda hoje vi o dvd da adaptação deste livro a filme à venda e agora lei a tua opnião, continuo curiosa sobre esta trilogia mas ainda não o suficiente para a ler.

    Boas leituas;)

    ResponderEliminar
  3. tonsdeazul: Não é assim tão extraordinário como se diz por aí mas, eu sou suspeita porque este não é o meu género de literatura, por isso vale o que vale. :) Fiquei com vontade de ler os outros e, como este primeiro tem um princípio, meio e fim, não há necessidade de ir a correr para a livraria. :)
    O filme é sobre o primeiro livro. Ainda não vi, mas estou curiosa.

    Carlinha: Aconselho a sua leitura, se por acaso encontrares os livros a um preço mais amigável. Eu, pessoalmente, não dava o preço de editora por eles, e não darei, os próximos dois serão comprados em feiras e afins. ;)

    Boas leituras!

    ResponderEliminar