setembro 29, 2011

Contagem Decrescente - Ken Follett

Título original: Code to Zero
Ano da edição original: 2000
Autor: Ken Follett
Tradução do Russo: Eugénia Antunes
Editora: Casa das Letras

"1958: A Guerra Fria está no auge, os Soviéticos ultrapassam os Americanos nos primeiros passos da corrida para a conquista do espaço. Claude Lucas acorda, uma manhã, na Union State de Washington. Vestido com roupas de vagabundo, está afectado por uma amnésia que o impede de se recordar, entre outras coisas, do seu estatuto profissional. Acontece que ele é uma personagem central do próximo lançamento do Explorer I, um foguetão do exército dos EUA. Anthony Carroll, agente da CIA e velho amigo de Lucas, anda a seguir o caso. E convém-lhe que a amnésia não passe tão depressa…"

Bem, por muito que gostasse de dizer o contrário, a verdade é que, infelizmente não há muito a dizer acerca deste livro... A desilusão só não é enorme, porque a minha incapacidade de vibrar com policiais desculpa, em parte, a fraca qualidade do livro e, por isso a minha vontade de ler Os Pilares da Terra não foi muito afectada. Pode ser que Ken Follett seja bem melhor nos romances marcadamente históricos.

Ora bem... Este é um livro cuja acção decorre em 1958, em plena Guerra Fria, nas horas que antecedem o lançamento satélite Explorer I, o primeiro lançamento bem sucedido dos EUA, na sua guerra pelo espaço, contra a Rússia comunista.
Claude Lucas é um cientista que trabalhou de perto para que este fosse um dia histórico para os EUA e que, uns dias antes do lançamento do satélite, acorda numa casa-de-banho de Union Station, com uma amnésia profunda. Não sabe quem é, como foi ali parar e, embora o espelho lhe devolva a imagem de um sem-abrigo Luke tem a certeza de que não pertence aquele lugar e àquela roupa.

Começa desta forma uma história que até prometia ser interessante. Estas páginas iniciais, onde aquele homem está confuso e frustrado por não saber nada acerca dele próprio foram as únicas que, de alguma forma, me prenderam a atenção. O resto do livro foi apenas um desenrolar de acontecimentos previsíveis, mal interligados, com personagens mal exploradas, superficiais, bidimensionais e que, por isso, não conseguiram despertar em mim qualquer empatia...
A componente romântica da história está tão mal explorada que nem vontade de rir dá. As cenas/conversas que envolvem sexo são constrangedoras, despropositadas e não trazem qualquer mais-valia à história ou sequer permitem uma maior aproximação às personagens. Ainda não percebi porque é que há escritores que insistem em romancear quando não sabem como o fazer (sim, estou a lembra-me do José Rodrigues dos Santos e do seu inenarrável Tomás Noronha...).

Não me apetece sequer perder muito mais tempo a elaborar esta opinião. Não vale a pena.

No que toca a policiais, nunca irei dizer não leiam. O que posso dizer é que, para mim, foi claro desde muito cedo que este livro iria entrar na minha lista do Winkingbooks. Não me vai fazer confusão nenhuma vê-lo abandonar as minhas estantes em direcção às de alguém que talvez o saiba apreciar melhor.

Boas leituras! :)

Depois de ter resistido a colocar aqui um excerto de umas das cenas relacionadas com sexo aqui fica o primeiro parágrafo do livro. :)

Excerto:
"Acordou sobressaltado.
Pior que isso: estava aterrorizado. O coração batia-lhe apressadamente, arquejava e sentia o corpo retesado. Era como acordar de um pesadelo, embora sem a sensação de alívio que normalmente se lhe segue. Teve a intuição de que alguma coisa terrível lhe acontecera, mas não sabia o quê."

setembro 28, 2011

BOOK

BOOK a descoberta do século. :)

setembro 13, 2011

O Duelo - Anton Tchékhov

Título original: Duel
Ano da edição original: 1891
Autor: Anton Tchékhov
Tradução do Russo: Nina Guerra e Filipe Guerra
Editora: Relógio D'Água

"O Duelo, de Anton Tchékhov, é uma novela narrada a partir do ponto de vista de diversas personagens reunidas no mesmo objectivo: esquecer os dias que perderam e aproveitar da melhor forma os que ainda têm para viver. Tchékhov coloca em confronto, numa pequena cidade do Cáucaso, um funcionário e a sua jovem mulher, um médico militar, um zoólogo de ideias radicais e um diácono dado ao riso. A história é contada através dos olhos de cada protagonista, conseguindo o leitor entender que qualquer um deles, independentemente da sua relação com os outros, procura apenas uma forma de escapar ao rotineiro dia-a-dia. É nesse ambiente que o ódio crescente entre o zoólogo e o funcionário culmina num duelo e este numa espécie de redenção. E quando o zoólogo deixa a cidade, as oscilações do seu barco são transformadas por Tchékhov numa metáfora da vida."

Gosto de Tchékhov. Gosto das histórias que ele conta e da forma como as conta. Gosto das personagens que cria e da forma como interagem umas com as outras. Gosto sobretudo da simplicidade com que ele expõe os dilemas das personagens. Portanto, volto a repetir: gosto de Tchékhov! :)

A história contada no O Duelo, passa-se numa pequena localidade do Cáucaso, onde os habitantes vivem a sua vida, sem grandes percalços e com a certeza de que o dia de amanhã será em tudo semelhante ao de hoje.
A esta pequena localidade chegou, há uns anos, um jovem casal, vindo de S. Petersburgo: Laévski e Nadejda Fiódorovna. Ele é funcionário público e ela é casada com outro homem. ;)
Laévski é um típico homem da sociedade que, embora tenha um cargo público, não se pode dizer que alguma vez tenha feito alguma coisa na vida. É o tipo de pessoa que desperta simpatias com facilidade, o que lhe permite viver mais ou menos às custas dos outros, endividando-se. É o tipo de pessoa que parece culta, que gosta de citar escritores e de encontrar pontos em comum entre a sua vida e a das personagens desses mesmo escritores. Vive um pouco deslumbrado consigo mesmo. É um bon vivant que, apaixonado pela jovem mulher de outro homem, não teve qualquer problema em cortejá-la e fugir com ela para os fins do mundo.
A esta mesma localidade regressa todos os anos Von Koren, um zoólogo. Von Koren passa todos os anos uma longa temporada, supostamente a estudar a escassa biodiversidade da região. Regressa todos os anos com as suas ideias radicais acerca de tudo e de todos. É daquelas pessoas que apenas tem certezas e nunca se engana, cujas opiniões acerca de qualquer assunto estão mais que cimentadas sem qualquer margem para discussão. É, no entanto, uma personagem acarinhada por todos na pequena cidade. E parece gostar de todos, excepto de Laévski, que para ele personifica tudo aquilo que ele abomina. Odeia a sua forma de viver e odeia a forma como é tratado por todos.

Como é natural em alguém com a personalidade de Laévski, este acaba por ser aborrecer da vida pacata que é forçado a levar no remoto Cáucaso. Começa a olhar para Nadejda com enfado e o amor começa a desvanecer. Laévski torna-se então o tema de conversa de todos os que com ele privam, ao mesmo tempo que Laévski vive angustiado por não saber como, e se vai conseguir sair da situação em que meteu.
Só von Koren não se compadece com os problemas de Laévski, no entanto, é ele quem, no final, acaba por lhe dar a solução, transformando-o num homem honesto e, deixando von Koren sem saber mais em que acreditar. Todas as suas convicções acabam fortemente abaladas.

Num livro em que, à primeira vista, nada acontece, é na escrita simples e nas personagens bem estruturadas que se encontram razões para querer continuar a leitura. No fim, como é óbvio, o livro é muito mais do que uma história moralista sobre os benefícios da honestidade na forma como vivemos a nossa vida. O tom empregue é divertido e descontraído mas, do que mais gostei foi mesmo das personagens. De todas sem grandes distinções.

Gostei bastante e, por isso, só posso recomendá-lo.

Boas leituras!

Excerto:
" - Deixemos de falar nisto - disse o zoólogo. - Lembra-te apenas de uma coisa, Aleksandr Davíditch: a humanidade primitiva estava protegida dos indivíduos como o Laévski com a luta pela sobrevivência e a selecção natural; hoje, a cultura levou a um enfraquecimento considerável da luta pela sobrevivência e da selecção natural, e somos nós mesmos quem tem de tratar da liquidação dos débeis e dos imprestáveis, de outro modo, se os Laévski se multiplicarem, a civilização vai perecer e a humanidade ficará absolutamente degenerada. E a culpa será nossa"

Saiu, em 2010, um filme baseado neste livro: Anton Chekhov's The Duel. Fica aqui o trailer:



setembro 09, 2011

O Último Cabalista de Lisboa - Richard Zimler

Título original: The Last Kabbalist of Lisbon
Ano da edição original: 1996
Autor: Richard Zimler
Tradução: José Lima
Editora: "Colecção BIIS" da Leya

"Em Abril de 1506, durante as celebrações da Páscoa, cerca de dois mil cristãos-novos foram mortos num progrom em Lisboa e os seus corpos queimados no Rossio, O Último Cabalista de Lisboa, best-sellers em onze países, incluindo os Estados Unidos da América, Inglaterra, Itália, Brasil e Portugal, é um extraordinário romance histórico tendo como pano de fundo os eventos verídicos desse mês de Abril de 1506."

É inegável que os livros de Richard Zimler são historicamente perfeitos. A forma como ele retrata épocas passadas, os costumes e as pessoas que nela viveram é fascinante. E é fascinante porque ele consegue, através de histórias, regra geral não muito complicadas, enquadrar-nos na época e nas vivências das pessoas comuns, não precisando de recorrer a reis, rainhas e glamours que tais. Pessoas normalíssimas apanhadas em acontecimentos que as ultrapassam completamente e lhes muda a vida para sempre.

O Último Cabalista de Lisboa retrata a Lisboa de 1506, no calendário cristão, e a crescente pressão que os judeus da cidade viviam, com o cerco da Inquisição a apertar cada vez mais devido à pressão vinda do Reino de Castela. Forçados a converter-se ao cristianismo e a renegarem as suas origens, os cristãos-novos de Lisboa são surpreendidos, durante a discreta e secreta celebração da Páscoa, pelos tumultos que levaram à morte de milhares de pessoas suspeitas de serem judias, acusadas de serem responsáveis pela seca, fome e peste que alastrava na capital. Em Abril de 1506, os frades dominicanos incentivaram e participaram na perseguição, tortura e morte de milhares de judeus, queimando-os na praça do Rossio, com o apoio da população e a complacência da corte, exilada em Abrantes, fugida da peste. Um país preso às vontades de Roma, um povo criado segundo a moral do Papa e sem um resquício da tão aclamada piedade cristã, levou a cabo um dos mais vergonhosos acontecimentos da história portuguesa, o Pogrom de Lisboa.

Berequias é o sobrinho do último cabalista de Lisboa, Abraão Zarco, um homem iluminado e sábio, assassinado durante os tumultos, na sua própria casa. Depois da morte do tio a única coisa que move Berequias é descobrir quem matou o seu mestre e vingá-lo. Fica cego de ódio e, obcecado pela procura, coloca a sua vida, e a das pessoas que o rodeiam em perigo, pois os tempos que correm obrigam a que muita gente viva por detrás de uma máscara, e nem todos são aquilo que aparentam.

Um livro historicamente muito bom e que vale sobretudo pela descrição histórica dos acontecimentos, porque pessoalmente achei a história de Berequias e da sua busca incessante por justiça, um pouco cansativa. Não simpatizei com ele, achei-o irritante, infantil e irresponsável, o que me impediu de gostar mais do livro. Não me identificando com a personagem principal, não me interessando especialmente pela luta dele, só me restou o gosto de ler sobre Lisboa, embora os acontecimentos retratados em nada favoreçam a cidade e os lisboetas. Valeu também por ter ficado a conhecer umas quantas coisas que ignorava. :)

Embora tenha gostado bastante mais do outro livro do autor que li, Os Anagramas de Varsóvia (já aqui comentado), não posso deixar de recomendar este O Último Cabalista de Lisboa porque o tema é muito interessante. E, porque embora tenha embirrado um pouco com o Berequias, gostei bastante do seu amigo de infância Farid e, Richard Zimler é um autor que mesmo quando está menos inspirado vale a pena ler. :) Além disso, acho que o meu menor entusiasmo com o livro se deveu também ao facto de ultimamente os livros que leio terem, quase todos, como tema subjacente a religião. Confesso-me um pouco cansada do assunto...

Concluindo: Leiam! Tenho a certeza de que não darão o tempo como perdido. :)

Boas leituras!


Excerto:
"Uma pira. Chamas crepitantes. Gavinhas de fogo laranja e verdes desenrolando-se em direcção ao telhado da igreja. No campanário, um frade dominicano com uma grande papada empunhava uma espada com uma cabeça decepada na ponta e enxortava a populaça com uma voz irosa:
- Morte aos heréticos! Matai esses judeus do demónio! Que a justiça do Senhor caia sobre eles! Fazei-os pagar pelos crimes contra as crianças cristãs! Fazei-os...
O fogo causava um calor infernal, alimentado pela massa dos corpos dos judeus que lhe tinham sido lançados."