março 22, 2012

Uma Cana de Pesca para o Meu Avô - Gao Xingjian

Título original: Gei Wo Laoye Mai Yugan
Ano da edição original: 1990
Autor: Gao Xingjian
Tradução do francês: Carlos Aboim de Brito
Editora: Publicações Dom Quixote

"Com imenso talento, subtileza e inteligência, Gao Xingjian percorre, nestes seis inesquecíveis contos, os lugares da infância, as alegrias simples do amor e da amizade, os dramas da rua e as tragédias vividas pela China. Sorrisos e lágrimas atravessam esta leitura, que nos deixa o belo e suave sabor da emoção. A revelação de um dos maiores escritores chineses da actualidade."

Eis que, no espaço de um mês leio dois prémios Nobel da literatura, Ivo Andrić e agora o Gao Xingjian, escritores dos quais ainda não tinha lido nada. :)

Uma Cana de Pesca para o Meu Avô, é uma colectânea de contos a transbordar de simplicidade, cultura oriental e poesia.
Ao longo dos cinco contos que compõem este pequeno livro, o escritor dá-nos a conhecer o amor, a amizade, a morte, a saudade e a vida.

No primeiro conto, O Templo, intromete-mo-nos na lua-de-mel de um casal jovem que transmite uma tal serenidade na forma de se amarem e de estarem juntos, não só como casal, mas também como amigos e companheiros que são, que só podemos sorrir durante a sua leitura.

No segundo conto, O Acidente, passamos da vida e do amor para a morte e um outro tipo de amor. Neste conto, um homem é atropelado por um autocarro e morre. No local do acidente junta-se uma multidão perplexa e cheia de opiniões, como só este tipo de desgraças consegue juntar. O fascínio que todos acabamos por sentir, de uma forma ou de outra, por situações como esta é estranhíssimo, inexplicável e, neste caso inconsequente, porque passadas apenas algumas horas após o acidente, já todos seguiram com as suas vidas e no local do acidente já nada nem ninguém recorda a vida que ali se perdeu.

O terceiro conto, A Cãibra, traz o tema do mar, que se repete nos contos que se seguem. Um rapaz nada no mar e sente uma cãibra, aflito para regressar a terra firme deseja que a rapariga que estava a tentar impressionar o tivesse visto entrar no mar e se aperceba da sua situação.

No quarto conto, Num Parque, conhecemos um rapaz e uma rapariga que se reencontram ao fim de alguns anos. No passado gostaram um do outro mas nunca deram o passo que levaria a relação mais além. A vida separa-os e, agora que se voltaram a encontrar, aquilo que sentiam um pelo outro, embora intacto já não faz muito sentido. Ao longe, no mesmo parque, observam uma rapariga que chora. Não a tentam consolar porque de nada servirá, a dor é algo que faz parte da vida e da qual não se consegue fugir.

O conto que dá nome ao livro, Uma Cana de Pesca para o Meu Avô, é o mais extenso e aquele em que a escrita de Gao Xingjian se torna mais apelativa e imaginativa. Um conto com um cheirinho oriental e muito bom de se ler, cujo título resume bem aquilo de que trata. Um homem jovem compra uma cana de pesca para o avô que não vê há muitos anos e de quem sente muita falta. O conto narra a infância deste homem junto do avô que lhe ensinou tanto. Uma história de saudade, de esquecimento e lembrança.

O último conto, intitulado Instantâneos, não é bem um conto, mas sim, como o próprio nome indica, instantâneos. A narração de alguns instantes nas vidas de várias personagens sendo possível perceber um fio condutor que os liga uns aos outros. O mar volta a ser uma referência importante. Gostei bastante destes Instantâneos. :)

Gostei desta colecção de pequenas histórias e da escrita de Gao Xingjian, poética e colorida.

Recomendo!

Boas leituras!!! :)

Excerto:
"A bola de sabão aumenta à medida que lhe sopram. À superfície, a água com sabão move-se cada vez mais depressa e, quanto mais a luz do sol se reflecte nela, mais brilhante e multicolor fica. Chegada ao ponto limite, desaparece sem ruído, revelando a cara espantada do rapazinho que a soprava."

5 comentários:

  1. Ultimamente ando muito curiosa relativamente aos livros de escritores asiáticos e este parece um bom livro para se aventurar;)

    ResponderEliminar
  2. Não sei onde li algo sobre este livro, mas sei que também falava bem.
    Deste autor ainda não li nada, mas como quero conhecer todos os prémios nobel... ;)
    Terminei "No coração desta terra" de Coetzee. Lembro-me de ter lido a tua opinião e já conhecia o autor pelo seu livro "A Desgraça", mas não esperava que fosse tão forte e intenso. Ainda o estou a digerir...
    Bom fim de semana, com leituras!

    ResponderEliminar
  3. Jojo: É um livro bom de se ler e poderá ser uma boa introdução aos escritores orientais. :)

    tonsdeazul: Gostei imenso do "No coração desta terra" É realmente um livro intenso e um daqueles que me ficam na memória. Não tenho o "A Desgraça" mas já o tive nas mãos muitas vezes. :)

    Boa semana!

    ResponderEliminar
  4. Tenho um desafio para ti no meu blog. Se já recebeste ou achas uma seca estas coisas, deixa estar que eu não me "zango" mas significa que gosto do teu blog

    Boas leituras :)

    ResponderEliminar