Título original: O Rebate
Ano da edição original: 1971
Autor: J. Rentes de Carvalho
Editora: Quetzal Editores
Ano da edição original: 1971
Autor: J. Rentes de Carvalho
Editora: Quetzal Editores
"Numa aldeia de Trás-os-Montes a chegada de um dos seus filhos emigrados para França, que vem endinheirado e casado com uma francesa, provoca um verdadeiro cataclismo.
Em França o Valadares, trabalhando na terra como um mouro, é premiado com a fortuna do patrão desde que case com a filha - moça doidivanas e descontrolada.
Valadares e a mulher vêm a Portugal quando das tradicionais festas da aldeia. A partir desse momento a perturbação causada pelo comportamento de ambos - ele, através do dinheiro, buscando uma ingénua e primitiva glória no seu burgo; ela usando a sedução e a provocação erótica na fauna masculina aldeã - desencadeia um rol de acontecimentos desgraçados que o rebate final expressa eloquentemente."
Tinha saudades de J. Rentes de Carvalho mas ainda não foi este livro que me encheu o coraçãozinho de fã. Tendo em conta a minha opinião sobre o livro de David Soares - Lisboa Triunfante (post anterior), tenho algum pudor em dizer que tive, novamente, muita dificuldade em entrar na história, embora neste por razões diferentes e menos esotéricas. Se na próxima leitura voltar a acontecer, apago estes dois posts e faço uma pausa nas leituras, porque o problema é claramente meu! :)
O que é que não resultou em O Rebate? Muitas das vezes não fazia ideia de quem estava a falar. As vozes de todos na aldeia confundem-se, e ao não se distinguirem uns dos outros (talvez seja mesmo essa a intenção), a leitura torna-se confusa e algumas vezes frustrante, mas passemos ao que interessa. :)
Numa aldeia em Trás-os-Montes, todos aguardam com alguma ansiedade o regresso de um filho da terra, o Valadares, emigrado em França. Diz-se que enriqueceu por lá e que vem casado com uma francesa.
O livro acaba por ser um retalho de pequenas histórias individuais, que se vão tocando, mas sem alterarem muito o comportamento da comunidade. Um dos habitantes suicida-se e a mulher perde o filho que carrega na barriga. Seria o seu sexto filho e a vida na aldeia segue como dantes. Uma mulher, vítima de violência doméstica, sai de casa à procura do marido que a engana com outra e é encontrada no fundo de um penhasco. O marido, agora viúvo, torna-se obcecado por uma miúda mais nova, com idade para ser filha dele. A comunidade segue inalterada. O jovem padre da aldeia, que vive atormentado, não se sabe muito bem com o quê, tenta suicidar-se e o seu rebanho nem pestaneja.
A única pessoa que parece capaz de agitar as águas é mesmo a francesa, a mulher do Valadares, que foi obrigada a casar com o português. Incapaz de se adaptar à vida da aldeia, lança a confusão entre os homens da aldeia, apenas para provocar o marido ou apenas porque é divertido.
O Valadares, que vinha convicto de vir impressionar os seus compatriotas, com o seu sucesso em França, encontra uma inesperada resistência aos seus encantos e ao seu dinheiro.
Por fim, em toda a aldeia existe uma tensão sexual quase palpável, com origem em desejos reprimidos e recalcados e que parece ser a única coisa que une todos os homens da aldeia.
A aldeia transmontana retratada em O Rebate não vai de encontro à imagem bucólica e virtuosa da vida no campo, alimentada na altura pelo Estado Novo (o livro foi escrito em 1971). Nesta aldeia transmontana habitam homens embrutecidos pelo álcool, pelas dificuldades da vida e pela falta de moral. Habitam mulheres embrutecidas pelos brutos dos maridos, pela falta de oportunidades e incapacidade de fazer melhor.
É uma aldeia habitada por gente pobre e remediada, mas essencialmente é uma aldeia cujos habitantes são, na sua essência amorais, oportunistas, mesquinhos e tacanhos. Curiosamente a pessoa mais sã da aldeia é mesmo o bêbado da aldeia.
O livro acaba por ser um retalho de pequenas histórias individuais, que se vão tocando, mas sem alterarem muito o comportamento da comunidade. Um dos habitantes suicida-se e a mulher perde o filho que carrega na barriga. Seria o seu sexto filho e a vida na aldeia segue como dantes. Uma mulher, vítima de violência doméstica, sai de casa à procura do marido que a engana com outra e é encontrada no fundo de um penhasco. O marido, agora viúvo, torna-se obcecado por uma miúda mais nova, com idade para ser filha dele. A comunidade segue inalterada. O jovem padre da aldeia, que vive atormentado, não se sabe muito bem com o quê, tenta suicidar-se e o seu rebanho nem pestaneja.
A única pessoa que parece capaz de agitar as águas é mesmo a francesa, a mulher do Valadares, que foi obrigada a casar com o português. Incapaz de se adaptar à vida da aldeia, lança a confusão entre os homens da aldeia, apenas para provocar o marido ou apenas porque é divertido.
O Valadares, que vinha convicto de vir impressionar os seus compatriotas, com o seu sucesso em França, encontra uma inesperada resistência aos seus encantos e ao seu dinheiro.
Por fim, em toda a aldeia existe uma tensão sexual quase palpável, com origem em desejos reprimidos e recalcados e que parece ser a única coisa que une todos os homens da aldeia.
A aldeia transmontana retratada em O Rebate não vai de encontro à imagem bucólica e virtuosa da vida no campo, alimentada na altura pelo Estado Novo (o livro foi escrito em 1971). Nesta aldeia transmontana habitam homens embrutecidos pelo álcool, pelas dificuldades da vida e pela falta de moral. Habitam mulheres embrutecidas pelos brutos dos maridos, pela falta de oportunidades e incapacidade de fazer melhor.
É uma aldeia habitada por gente pobre e remediada, mas essencialmente é uma aldeia cujos habitantes são, na sua essência amorais, oportunistas, mesquinhos e tacanhos. Curiosamente a pessoa mais sã da aldeia é mesmo o bêbado da aldeia.
Não fosse o facto de não me ter adaptado à forma como a história é contada, sem que se consiga perceber, a maior parte das vezes, a que personagem o autor se está a referir, e este livro teria tudo para me encher as medidas. A história é interessante e o retrato de época, carregado de crítica social está muito bem conseguido, juntando o facto de ser um livro de J. Rentes de Carvalho poderia ter sido memorável. Mas infelizmente, o que me ficou desta leitura foi a memória da frustração por não estar a conseguir entrar no ritmo da história...
Não posso não recomendar J. Rentes de Carvalho. Este recomendo, mas para uma altura em que se sintam com maior capacidade de concentração.
Boas leituras!
Excerto (pág. 23):
"Faziam duas terras de pão, ao terço, mas paga a semente e o adubo, que fica? Cada colheita trazia a ameaça da venda do palheiro, porque casa meeira ninguém queria e a horta não prestava, plantavam lá meia saca de batatas e um cesto de nabos, o resto do ano iam à jeira ou abalava ele com os resineiros pela serra fora, aos meses. Lágrimas que vinham da aflição de agora e dos males sem cura, do filho nascido morto, e deste por nascer, lágrimas de tudo. A fazer gastos e tinham tantas necessidades, cheios de dívidas! O Marques ameaçava, guardava o dinheiro das jeiras por conta do adubo, ou do que teriam de comprar - «lá recebes!» mas nunca o viam, sempre com fome, sempre a dever, só a roupa do corpo. Um dia nem os remendo teriam onde pegar.
Parou, a não acreditar nos olhos, uma burra presa à argola do palheiro e a outra, solta, a focinhar nas silvas do muro. Correu aos tropeções, tomada de um pressentimento, sem cautelas, insensível às topadas, sem ar.
- Ó Chico!
As burras, despertas, levantaram a cabeça. Abrandou a corrida, sem poder mais, o ventre despegado, encostou-se à porta, incapaz de chamar outra vez."