fevereiro 03, 2019

O Tímido e as Mulheres - Pepetela

Título original: O Tímido e as Mulheres
Ano da edição original: 2013
Autor: Pepetela
Editora: Publicações Dom Quixote

"Estamos em Luanda nos dias de hoje.
Acompanhamos Heitor, um escritor em início de carreira, o tímido.
Ouvimos a voz quente de Marisa, responsável por um programa de rádio de grande audiência, que a todos encanta e seduz.
Conhecemos Lucrécio, seu marido, uma mente brilhante aprisionada numa cadeira de rodas.
É este o trio que une as diversas histórias e personagens deste romance. Além dele, encontramos ainda os amigos de Heitor, o Senhor do Dia 13 e os habitantes de um musseque na periferia de Luanda: a grande família de dona Luzilu e, em especial, a bela Orquídea, outra das poderosas mulheres que habitam este livro. Todos eles nos conduzem por uma cidade que fervilha e cresce a um ritmo alucinante, onde os homens se apaixonam, sonham e desesperam, procuram novos caminhos, novas formas de vida e novas soluções.

Com a sua habitual mestria, Pepetela volta a surpreender-nos com este romance, desenhando uma paisagem imparcial e objetiva da atual sociedade angolana, fruto de muitas mutações culturais e políticas derivadas da sua história recente."

O Tímido e as Mulheres leva-nos para uma Luanda atual, cheia de novidades, progresso, uma cidade em franco crescimento. À semelhança de outras cidades que passaram ou estão a passar por processos similares, Luanda cresce a duas velocidades. Existem pessoas que não têm condições para acompanhar todas as mudanças que surgem, umas por razões sócio-económicas outras por estarem presas a um tempo e formas de pensar que deixaram de ser compatíveis com o mundo atual.
Um mundo onde as mulheres trabalham e querem ser igualmente reconhecidas pelo trabalho que fazem, onde assumem o controlo das suas vidas, da sua sexualidade e dos seus corpos. Um mundo onde os homens têm de se adaptar a esta realidade e onde as mulheres tentam conciliar este novo mundo, cheio de oportunidades, com o papel tradicional que sempre lhes esteve atribuído. Embora não tenham de ser necessariamente incompatíveis, a verdade é que se toda a sociedade não estiver estruturada e orientada para a igualdade, continuará a existir uma pressão extra sobre as mulheres que castra o seu futuro, que as mantêm na linha da frente da pobreza, da baixa escolaridade e por isso mais frágeis e dependentes.

Luanda é uma cidade em transformação, onde todos os dias nasce mais um negócio, mais um prédio de escritórios ou de habitação. Está a crescer para a periferia, a alargar as suas fronteiras e a afastar cada vez mais todos os que, não tendo condições para viver na grande cidade, todos os dias têm de deixar as suas casas, apanhar os decrépitos candongueiros para poderem trabalhar e regressar ao fim do dia, nas mesmas condições. Luanda é uma cidade deslumbrada pelas aparências e refém da construção desenfreada, sem planeamento, sem outra estratégia que não seja a do dinheiro rápido, menosprezando as necessidades básicas de todos o que nela vivem ou trabalham.

Esta nova Luanda é-nos apresentada através de Heitor, um jovem escritor em início de carreira. Heitor é o tímido desta história. As mulheres são, Marisa uma mulher inteligente, estrela de um programa de rádio, dona de uma voz quente inconfundível, é extremamente sedutora e muito pouco acessível e Orquídea, uma jovem universitária, determinada, com sentido de humor e, mais uma vez, muito bonita.
É através desta espécie de triângulo amoroso que vamos conhecendo Luanda e as diferentes pessoas que a habitam, os seus medos, os seus sonhos, as suas lutas pessoais, as suas dúvidas e as suas ambições.

Pepetela é um dos meus escritores favoritos. Sei que, quando pego num livro dele a experiência vai ser boa. Às vezes é mesmo muito boa e acabo o livro com a sensação de que li algo que me mudou de alguma forma. Outros não têm esse efeito em mim, não deixando de ser livros que, para mim, são sempre bons! O Tímido e as Mulheres é um destes últimos casos, não me deixou arrebatada, mas é bom, como tudo o que li de Pepetela.

Recomendo, naturalmente.

Boas leituras!

Excerto (pág.213):
" - Pode haver alguma verdade na crítica que os estrangeiros fazem à nossa baixa produtividade, mais-velho. Está explicado, as sociedades camponesas têm outros rítimos de trabalho, embora não seja justo dizer que são imbumbáveis, como já ouvi. Fazem o que têm a fazer, só com o seu tempo definido pela natureza. E são sobretudo as mulheres quem mais trabalha.
Uma vénia em relação às donas, as quais sorriram. As três. Ganhou fôlego para continuar:
 - Os nossos trabalhadores abandonaram o campo há poucas gerações, a maior parte ainda cresceu nele. Também as relações sociais e familiares são vitais nessas sociedades precárias, sempre em risco. Daí a solidariedade forte, o parentesco fundamental, nunca se sabe quando vamos precisar do apoio da família ou do grupo social. Por isso ninguém pode faltar a um óbito de um conhecido para ir trabalhar, é contra as normas da convivência. A razão é portanto cultural. Mas pode ser modificada aos poucos. Se houver incentivos para que se mudem os costumes. Leva tempo. Com bons salários, boas oportunidades de promoção, os costumes começam a ser menos rígidos..."

1 comentário:

  1. Que engraçado! Na semana passada vi uma rapariga no autocarro a ler este livro e apontei logo na lista para o ler.
    Li um livro do Pepetela e adorei!

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