O Germinal faz parte da série Os Rougon-Macquart que Émile Zola escreveu, embora o livro se possa ler sem que se tenham lido os anteriores. O livro é extraordinário, uma daquelas leituras obrigatórias. Segundo a Wikipédia, Zola passou dois meses a trabalhar numa mina de carvão, para escrever o Germinal falando, por isso, com algum conhecimento de causa. É mais que um romance, é um retrato da vida naquela época.
A história do livro decorre durante o 2º Império Francês, numa altura em que França se encontrava com grandes dificuldades económicas, com muitas fábricas a fecharem e, consequentemente, onde as condições sociais eram cada vez mais degradantes. A história gira à volta de uma mina de carvão, a Voreux em Montsou. Nela conhecemos Estevão Lantier, um homem novo, que antes de chegar a Montsou, depois de ter sido despedido em Paris, não comia há oito dias e só sonhava com uma côdea de pão. Arranja um emprego na Voreux e fica a viver com a família Maheu. É na família Maheu e em Estevão que Zola centra toda a história e, é através deles que nos dá a conhecer o trabalho miserável na mina, das condições pouco humanas em que vivem, da promiscuidade e do conformismo.
Quando Estevão chega à mina, nunca tendo trabalhando numa, sente na pele as condições desumanas do trabalho e as dificuldades que todas aquelas pessoas sentem para sustentar as numerosas famílias. Estevão, mais letrado que qualquer pessoa naquela mina, com ideais socialistas, começa a incutir nos trabalhadores algumas das suas ideias, fazendo-os acreditar que têm direito a uma vida melhor, onde a carne não seja uma miragem e o pão nunca falte, incentivando os trabalhadores da região a uma greve por melhores condições salariais e melhores condições de trabalho.
É através da família Maheu que nos vamos apercebendo das transformações que Estevão traz para o Montsou. No início olham-no com desconfiança, mas a esperança que ele lhes promete é demasiado tentadora, impossível de recusar. Gente que não se permitia sonhar, para que não sentissem ainda mais a miséria em que viviam, é incentivada a lutar pelos seus sonhos, que neste caso pouco mais eram que ter uma casa em condições e a certeza de que haveria comida na mesa todos os dias. Renovada a capacidade de sonhar, nada nem ninguém os poderá impedir de tentar alcançar os sonhos. Mas, a que custo?
O livro está muitíssimo bem escrito, com descrições muito realistas e sufocantes do trabalho na mina, da descida diária de todos aquele homens e mulheres para debaixo da terra, dos cheiros e do calor insuportável. Li o livro com um aperto constante no coração porque ninguém deveria trabalhar naquelas condições e trazer tão pouco para casa... Casa, onde no meio de toda a pobreza se tenta viver com alguma dignidade, com honestidade, criando os filhos com as armas que se têm. Senti raiva porque seres humanos não deveriam tratar assim outros seres humanos e, por saber que hoje em dia existem milhões de pessoas a viverem em condições semelhantes. Senti tristeza por saber que nunca deixará de haver gente miserável no mundo, gente que mais não faz que sobreviver.
Não me canso de repetir, é um livro extraordinário e muito bem conseguido. Poucos são os livros que me deixaram um marca tão vívida na mente. Émile Zola é um mestre em nos fazer sentir tudo aquilo que escreve; sentimos a tristeza, a frustação, as dores, a injustiça, a fome e as alegrias (poucas), que nem só de desgraças vive o livro. :)
Recomendadíssimo!
eh pá.... li isto na adolescência :) Já vai há tantos anos que nem me lembrava já do enredo :)
ResponderEliminarO realismo no seu expoente máximo!
Tenho muita curiosidade em ler este livro.
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