"Nesse dia quente de Outubro, na sua isolada casa de férias no Maine, Gerald Burlingame jogou pela última vez. A mulher, Jessie, ao ouvir o estalido do segundo par de algemas que lhe prendia os pulsos à cabeceira da cama, pressente que o marido se preparava para ultrapassar as regras do jogo. Zangada e humilhada, defende-se com um pontapé nos testículos, que acaba por ser fatal. Gerald morre, por efeito de uma crise cardíaca. Em luta contra o pânico, Jessie fica presa, no quarto da casa à beira do lago, a milhas de distância da povoação mais próxima. Não estará, porém só, ao longo das vinte oito horas da que é, por certo, a mais intensa situação de suspense da história da literatura. Nesse período infindável, Jessie Burlingame, enfrentará todos os fantasmas que sempre a apavoraram. As sombras reais e irreais que se acumulavam na obscuridade do quarto, a porta das traseiras, aberta, que bate a um ritmo enervante. Vozes que efectivamente ouve, murmuram ou gritam, sarcásticas: No escuro, as mulherzinhas sózinhas são como as portas abertas... E se gritam por socorro, quem sabe o que de terrível lhes pode acontecer?! Stephen King sabe. E demonstra-o em O Jogo de Gerald, onde penetra até ao fundo das mais recônditas camadas do medo e da coragem de uma mulher. O maior dos mestres do terror porá violentamente à prova os nervos de Jessie. E também dos seus, leitor..."
Tudo começa com mais um dos jogos sexuais de Gerald, dos quais Jessie está um pouco farta. Ela apenas queria sexo normal e uma tarde passada no alpendre a ver o pôr-do-sol, na casa de ambos, no Maine, junto ao lago. Mas Gerald tem outras intenções e leva o jogo longe demais. Jessie, com ambas as mãos algemadas à cama, não consegue dissuadir o marido, um advogado de sucesso de Portland, pouco habituado a ser contrariado de que desta vez não quer jogar... Numa tentativa de se defender do marido, mata-o, colocando-se numa posição que não augura nada de bom - algemada a uma cama, numa casa isolada, rodeada de barulhos que a deixam petrificada e sem que ninguém saiba onde está. Para piorar a situação de Jessie, esta sofre de uma espécie de esquizofrenia e ouve vozes, desde a infância, depois de um acontecimento traumático. Uma das vozes representa a Jessie ponderada, temerosa e obediente. Stephen King chama-lhe a voz da Dona de Casa. A outra voz é provocante, conflituosa, inconveniente, a voz de uma Jessie mais corajosa e menos insegura. Estas vozes são a sua única companhia (será?) durante o cativeiro e quase dão com ela em louca. Enquanto está algemada à cama, sem poder libertar-se, ela sente que não está sózinha e fica apavorada por saber que não será salva por quem quer que esteja nas redondezas. Estará Jessie completamente abandonada? Estará alguém ou algo perto de Jessie, para além do marido morto aos seus pés? Os barulhos que ouve serão reais? Será Jessie salva? Que preço terá de pagar pela liberdade? Pagará esse preço?
O livro é tão somente isto: medo, medo e mais medo. É angustiante ler as fases pelas quais Jessie vai passando: a esperança seguida de um medo, racional ou irracional, as alucinações, as dores, o desespero, bem como todos os traumas passados que Jessie julgava esquecidos e que vai ser "obrigada" a recordar.
O livro é muito bom eu, pelo menos, gostei imenso. Na minha óptica, os livros do Stephen King podem ser divididos em dois tipos: os de terror psicológico, que mexem com a nossa psique e com as nossas fobias, onde ele poderá recorrer a alguns elementos fantásticos mas que são, essencialmente, sobre medos e fobias e depois, tem aqueles livros onde ele recorre a fantasmas ou criaturas alienígenas maléficas para nos provocar o medo. O Jogo de Gerald é do primeiro tipo, puro terror psicológico. É neste género de livros que acho que o Stephen King se destaca, embora também goste muito de fantasmas e criaturas com apetência para perseguir escritores a passar por crises de criatividade. :p Sinto que, em livros como este ou como o Misery e o Cell - Chamada Para a Morte, por exemplo, o autor consegue controlar melhor as histórias, não caindo no erro de outros livros, em que chegamos ao fim com a sensação de que alguma coisa não correu bem... :)
Recomendado, bem como quase todos os outros livros do autor. Porque, embora ele tenha alguns "fetiches literários" como, as personagens serem quase sempre escritores e a acção passar-se muitas vezes no Maine, as histórias são regra geral muito boas e entretêm... muito! :)
P.S. Tenho pena que os livros dele tenham ficado tão mais caros agora que decidiram publicá-los numas edições todas giras... e caras! :p
Gostei muito do que li até aqui e de descobrir o seu blog (segui o link no Não compreendo as mulheres). Tenho uma grande lista de livros para ler, mas gosto sempre de mais sugestões para quando arranjar tempo :)
ResponderEliminarObrigada Dona Redonda! :)
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