"Num velho armazém de um bairro popular de Santiago do Chile, três sexagenários esperam impacientes pela chegada de um quarto homem. Cacho Salinas, Lolo Garmendia e Lucho Arencibia, antigos militares de esquerda derrotados pelo golpe de estado de Pinochet e condenados ao exílio, voltam a reunir-se trinta e cinco anos depois, convocados por Pedro Nolasco, um antigo camarada sob cujas ordens vão executar uma arrojada acção revolucionária. Mas quando Nolasco se dirige para o local de encontro é vítima de um golpe cego do destino e morre atingido por um gira-discos que insolitamente é lançado por uma janela, na sequência de uma desavença conjugal..."
Depois de ter lido um livro tão grande como o 2666, foi um bocado estranho agarrar numa coisa tão leve, e estou apenas a falar do número de páginas. :)
Na verdade este novo livro do Luis Sepúlveda soube-me a pouco (já dizia o Sérgio Godinho). É daqueles que se conseguem ler enquanto estamos numa sala de espera de um qualquer consultório médico deste país. No meu caso não tanto, pois gosto de silêncio para ler... :)
Os que voltavam do exílio andavam desorientados, a cidade não era a mesma, procuravam os seus bares e encontravam lojas de chineses, na farmácia da sua infância havia um bar de topless, a velha escola era agora um concessionário de automóveis, o cinema do bairro uma igreja dos irmãos pentecostais. Sem os avisarem, tinham-lhes mudado o país.
Os que voltaram ao Chile depois de anos no exílio, devido à ditadura de Pinochet, sentem-se perdidos num país que mudou tanto desde que tiveram de o abandonar.
Cacho Salinas e Lolo Garmendia, dois sexagenários, são exemplo disso mesmo. Antigos comunistas, antigos não, porque o comunismo é como uma verruga moral que nunca se arranca, viveram anos exilados, casaram, tiveram filhos, divorciaram-se e regressaram ao Chile sozinhos, com a sensação de que alguma coisa falhou, talvez as suas vidas... Lucho Arencibia, outro sexagenário, mecânico, não abandonou o Chile e por isso os homens maus fundiram-lhe um fusível, mas continua a pé firme. Perdeu os dois irmãos durante a ditadura e é um homem solitário. Reencontram-se os três após mais de trinta anos, mais gordos e mais carecas a pedido de Pedro Nolasco González, um revolucionário idealista que pretende por em prática o último golpe contra o capitalismo instalado no país.
Estes quatro sexagenários e antigos revolucionários são deliciosos. Luís Sepúlveda retrata-os de uma forma muito carinhosa, é impossível não sentirmos empatia por eles. Travaram uma luta importante, pelo bem-estar dos chilenos, perderam o país que amam (ou amavam?) e não foram recompensados pelos sacrifícios que fizeram. É triste... Acho que fazem falta mais Homens como estes nos dias de hoje, honestos e de bom coração, dispostos a por em causa as suas vidas pelo bem comum.
Também gostei muito do Inspector Crespo, que não parece ter dificuldade em distinguir um criminoso sem escrúpulos de um homem que para fazer passar uma mensagem comete crimes. Homem que pertence à geração dos sexagenários da história e que, escolhendo o lado da lei, não deixou de dar o seu contributo para a revolução. Personagem muito interessante.
O livro é muito divertido, cheio de frases que nos fazem rir e sorrir, embora não seja um livro sobre alegrias, mas sim sobre as voltas que a vida dá, onde nem sempre aquilo que desejamos é aquilo que temos. Fala do futuro, mas sobretudo do passado. De como vivemos presos ao passado comprometendo dessa forma o presente. Fala do Chile, país que conheço apenas dos livros do Luís Sepúlveda e da Isabel Allende, do seu povo e das suas idiossincrasias.
É definitivamente um livro a ler.
E agora vou fazer uma pausa nas leituras sobre a América do Sul e vou para outras paragens. Vou até à América do Norte com A Caixa em Forma de Coração, livro do filho do Stephen King e que é bem capaz de me provocar alguns pesadelos... :p
Na verdade este novo livro do Luis Sepúlveda soube-me a pouco (já dizia o Sérgio Godinho). É daqueles que se conseguem ler enquanto estamos numa sala de espera de um qualquer consultório médico deste país. No meu caso não tanto, pois gosto de silêncio para ler... :)
Os que voltavam do exílio andavam desorientados, a cidade não era a mesma, procuravam os seus bares e encontravam lojas de chineses, na farmácia da sua infância havia um bar de topless, a velha escola era agora um concessionário de automóveis, o cinema do bairro uma igreja dos irmãos pentecostais. Sem os avisarem, tinham-lhes mudado o país.
Os que voltaram ao Chile depois de anos no exílio, devido à ditadura de Pinochet, sentem-se perdidos num país que mudou tanto desde que tiveram de o abandonar.
Cacho Salinas e Lolo Garmendia, dois sexagenários, são exemplo disso mesmo. Antigos comunistas, antigos não, porque o comunismo é como uma verruga moral que nunca se arranca, viveram anos exilados, casaram, tiveram filhos, divorciaram-se e regressaram ao Chile sozinhos, com a sensação de que alguma coisa falhou, talvez as suas vidas... Lucho Arencibia, outro sexagenário, mecânico, não abandonou o Chile e por isso os homens maus fundiram-lhe um fusível, mas continua a pé firme. Perdeu os dois irmãos durante a ditadura e é um homem solitário. Reencontram-se os três após mais de trinta anos, mais gordos e mais carecas a pedido de Pedro Nolasco González, um revolucionário idealista que pretende por em prática o último golpe contra o capitalismo instalado no país.
Estes quatro sexagenários e antigos revolucionários são deliciosos. Luís Sepúlveda retrata-os de uma forma muito carinhosa, é impossível não sentirmos empatia por eles. Travaram uma luta importante, pelo bem-estar dos chilenos, perderam o país que amam (ou amavam?) e não foram recompensados pelos sacrifícios que fizeram. É triste... Acho que fazem falta mais Homens como estes nos dias de hoje, honestos e de bom coração, dispostos a por em causa as suas vidas pelo bem comum.
Também gostei muito do Inspector Crespo, que não parece ter dificuldade em distinguir um criminoso sem escrúpulos de um homem que para fazer passar uma mensagem comete crimes. Homem que pertence à geração dos sexagenários da história e que, escolhendo o lado da lei, não deixou de dar o seu contributo para a revolução. Personagem muito interessante.
O livro é muito divertido, cheio de frases que nos fazem rir e sorrir, embora não seja um livro sobre alegrias, mas sim sobre as voltas que a vida dá, onde nem sempre aquilo que desejamos é aquilo que temos. Fala do futuro, mas sobretudo do passado. De como vivemos presos ao passado comprometendo dessa forma o presente. Fala do Chile, país que conheço apenas dos livros do Luís Sepúlveda e da Isabel Allende, do seu povo e das suas idiossincrasias.
É definitivamente um livro a ler.
E agora vou fazer uma pausa nas leituras sobre a América do Sul e vou para outras paragens. Vou até à América do Norte com A Caixa em Forma de Coração, livro do filho do Stephen King e que é bem capaz de me provocar alguns pesadelos... :p
Fascinam-me as leituras dos autores sul-americanos! Ainda não li este, mas já está na lista de espera..
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