"Ela conhece-o há uma eternidade e, contudo, ela nunca o viu. É como se fosse invisível para a mulher que ama. Mas ele vê-a a ela: o cabelo; a boca; o rosto pequeno e pálido; o casaco vermelho-vivo na neblina matinal, como algo saído de um conto de fadas.
Até agora, ele nunca se apaixonou. Assusta-o um pouco: a intensidade dessa emoção, a maneira como os seus dedos traçam o nome dela, a maneira como tudo, de algum modo, conspira para que ela nunca lhe saia da cabeça...
Ela não sabe de nada, claro. Tem um ar muito inocente, com o seu casaco vermelho e o seu cesto. Mas por vezes os maus não se vestem de preto e por vezes uma menina perdida na floresta é bem capaz de fazer frente ao lobo mau..."
Até agora, ele nunca se apaixonou. Assusta-o um pouco: a intensidade dessa emoção, a maneira como os seus dedos traçam o nome dela, a maneira como tudo, de algum modo, conspira para que ela nunca lhe saia da cabeça...
Ela não sabe de nada, claro. Tem um ar muito inocente, com o seu casaco vermelho e o seu cesto. Mas por vezes os maus não se vestem de preto e por vezes uma menina perdida na floresta é bem capaz de fazer frente ao lobo mau..."
Nem sei bem por onde começar com o mais recente romance da Joanne Harris. Achei o livro, à falta de melhor expressão, estranho. Não é da obras mais bem conseguidas da escritora, e é com pena que o digo, pois acho que a história tinha potencial para ser maior. Na verdade achei este livro um pouco sem sal o que, lendo a sinopse, pode parecer esquisito mas, infelizmente nem sempre a sinopse espelha o livro, isto para o bem e para o mal. Foi o que aconteceu com O Rapaz de Olhos Azuis porque, quando li a sinopse e, conhecendo a escritora como conheço, fiquei a salivar por algo que depois não foi propriamente concretizado. Não vou dizer que não gostei, porque o livro tem alguns pontos muito positivos, mas que estava à espera de mais, isso estava. :)
Este é um daqueles livros em que o mais pequeno deslize da minha parte pode arruinar a história para quem ainda não o leu ou está a lê-lo, por isso, sobre a história não me vou alongar muito.
O Rapaz de Olhos Azuis está escrito ao estilo de um blogue, o webjournal, onde a personagem principal, o blueeyedboy criou um grupo denominado badguysrocks, onde publica as suas histórias. Uns são posts públicos, outros são restritos, uma espécie de diário online. Blueeydeboy descreve-se a si próprio como um homem de 42 anos que vive com a mãe, uma mulher possessiva, violenta e manipulativa. Vive na Internet, mais precisamente no webjournal onde descreve os homicídios (ficcionados ou reais?) que já cometeu, todos eles de pessoas que fizeram, de uma forma ou de outra, parte do seu passado e do da sua família, os dois irmãos e a estranha mãe.
A história que blueeyedboy nos conta está repleta de cor, sabores e cheiros, que raramente são agradáveis. Isto porque blueeyedboy é aquilo a que se chama um sinestésico, as palavras para ele têm uma cor, cheiro e por vezes sabor. Vê e vive o mundo de maneira diferente, o que lhe dificultou a vida na infância e contribuiu para que se tornasse num adulto, socialmente inadaptado, sem amigos e com uma relação com a mãe que tenho alguma dificuldade em classificar. É uma relação de ódio, de dependência e de medo. Percebemos desde o início que quer matá-la e desconfiamos que tudo o que vai fazendo ao longo do livro faz parte do plano que traçou para que finalmente se possa ver livre da mãe. Irá consegui-lo? Veremos se tudo é como parece à primeira vista. Ou se, como na Internet, as coisas nem sempre são o que aparentam.
Existem obviamente outras personagens, como a rapariga que é referida na sinopse, mas falar delas é perigoso porque pode revelar pormenores e dar dicas involuntárias que revelem demais.
Quanto à história propriamente dita fico-me por aqui.
Pontos positivos do livro:
- É um livro da Joanne Harris menos inspirado mas, não deixa de ser um livro diferente, com personagens atípicas e imperfeitas, com histórias de vida bizarras.
- Mais uma vez temos um livro que apela aos nossos sentidos. Está cheio de cor e de cheiros.
- É um livro que prende e que surpreende. A Joanne Harris aguça-nos a curiosidade e quando as peças vão encaixando nos seus devidos lugares vamos tendo aquela sensação de "aaahhhh! Então era por isso que....". E as peças encaixam muito bem umas nas outras. Nisso o livro é muito bom, as pistas estão lá, mas de uma forma tão natural que só quando as revelações são feitas é que nos lembramos daquela passagem, alguns capítulos atrás.
- O livro passou-me uma sensação de irrealidade que, julgo ter sido propositada, uma vez que fala daquela faceta da Internet em que todos nós podemos ser e dizer o que quisermos, sem grandes consequências. Essa irrealidade e liberdade que a Internet permite está impregnada no livro, sentimo-la como se estivéssemos nós próprios num mundo virtual onde as leis da física fossem diferentes. Mérito da escritora, mais uma vez.
No entanto, com este livro houve coisas que, para mim, não correram tão bem assim:
- Começo por dizer que a estrutura, em género de blogue, para mim não funcionou. Não me consegui habituar à forma como a escritora nos vai contando a história, achei que tornou tudo um pouco confuso e mais impessoal. Não sei se foi intencional mas, intencional ou não, não gostei, principalmente dos comentários dos seguidores do blueeyedboy. Irritavam-me... não há grande coisa que possa fazer quanto a isso... :)
- Ao contrário do que costuma acontecer com os outros livros da Joanne Harris, as personagens deste livro não me cativaram, não criei qualquer empatia com elas. Não sei se foi por a história ser tão estranha e irreal ou porque está contada da maneira que está mas, a verdade é que nem por um momento eu deixei de ter a noção de que estava a ler um livro. Ou seja, não houve aquele transportar para dentro do livro e que nos permite viver a história quase como se fosse nossa. Não achei, nem a história nem as personagens credíveis.
- As descrições dos supostos homicídios são pouco empolgantes e, de certa forma, pueris. A escritora é capaz de muito melhor, que eu sei. :)
Resumindo e baralhando, de uma forma geral, gostei do livro mas estava à espera de mais. Se calhar o mais correcto será dizer que estava à espera de outra coisa, porque tanto a sinopse como o primeiro capitulo pareciam apontar noutra direcção.
Com este não aconselho ou deixo de aconselhar, porque Joanne Harris não é unânime e tenho a certeza de que há pessoas que gostaram imenso do livro. Experimentem e logo verão. :)
Boas leituras!
Este é um daqueles livros em que o mais pequeno deslize da minha parte pode arruinar a história para quem ainda não o leu ou está a lê-lo, por isso, sobre a história não me vou alongar muito.
O Rapaz de Olhos Azuis está escrito ao estilo de um blogue, o webjournal, onde a personagem principal, o blueeyedboy criou um grupo denominado badguysrocks, onde publica as suas histórias. Uns são posts públicos, outros são restritos, uma espécie de diário online. Blueeydeboy descreve-se a si próprio como um homem de 42 anos que vive com a mãe, uma mulher possessiva, violenta e manipulativa. Vive na Internet, mais precisamente no webjournal onde descreve os homicídios (ficcionados ou reais?) que já cometeu, todos eles de pessoas que fizeram, de uma forma ou de outra, parte do seu passado e do da sua família, os dois irmãos e a estranha mãe.
A história que blueeyedboy nos conta está repleta de cor, sabores e cheiros, que raramente são agradáveis. Isto porque blueeyedboy é aquilo a que se chama um sinestésico, as palavras para ele têm uma cor, cheiro e por vezes sabor. Vê e vive o mundo de maneira diferente, o que lhe dificultou a vida na infância e contribuiu para que se tornasse num adulto, socialmente inadaptado, sem amigos e com uma relação com a mãe que tenho alguma dificuldade em classificar. É uma relação de ódio, de dependência e de medo. Percebemos desde o início que quer matá-la e desconfiamos que tudo o que vai fazendo ao longo do livro faz parte do plano que traçou para que finalmente se possa ver livre da mãe. Irá consegui-lo? Veremos se tudo é como parece à primeira vista. Ou se, como na Internet, as coisas nem sempre são o que aparentam.
Existem obviamente outras personagens, como a rapariga que é referida na sinopse, mas falar delas é perigoso porque pode revelar pormenores e dar dicas involuntárias que revelem demais.
Quanto à história propriamente dita fico-me por aqui.
Pontos positivos do livro:
- É um livro da Joanne Harris menos inspirado mas, não deixa de ser um livro diferente, com personagens atípicas e imperfeitas, com histórias de vida bizarras.
- Mais uma vez temos um livro que apela aos nossos sentidos. Está cheio de cor e de cheiros.
- É um livro que prende e que surpreende. A Joanne Harris aguça-nos a curiosidade e quando as peças vão encaixando nos seus devidos lugares vamos tendo aquela sensação de "aaahhhh! Então era por isso que....". E as peças encaixam muito bem umas nas outras. Nisso o livro é muito bom, as pistas estão lá, mas de uma forma tão natural que só quando as revelações são feitas é que nos lembramos daquela passagem, alguns capítulos atrás.
- O livro passou-me uma sensação de irrealidade que, julgo ter sido propositada, uma vez que fala daquela faceta da Internet em que todos nós podemos ser e dizer o que quisermos, sem grandes consequências. Essa irrealidade e liberdade que a Internet permite está impregnada no livro, sentimo-la como se estivéssemos nós próprios num mundo virtual onde as leis da física fossem diferentes. Mérito da escritora, mais uma vez.
No entanto, com este livro houve coisas que, para mim, não correram tão bem assim:
- Começo por dizer que a estrutura, em género de blogue, para mim não funcionou. Não me consegui habituar à forma como a escritora nos vai contando a história, achei que tornou tudo um pouco confuso e mais impessoal. Não sei se foi intencional mas, intencional ou não, não gostei, principalmente dos comentários dos seguidores do blueeyedboy. Irritavam-me... não há grande coisa que possa fazer quanto a isso... :)
- Ao contrário do que costuma acontecer com os outros livros da Joanne Harris, as personagens deste livro não me cativaram, não criei qualquer empatia com elas. Não sei se foi por a história ser tão estranha e irreal ou porque está contada da maneira que está mas, a verdade é que nem por um momento eu deixei de ter a noção de que estava a ler um livro. Ou seja, não houve aquele transportar para dentro do livro e que nos permite viver a história quase como se fosse nossa. Não achei, nem a história nem as personagens credíveis.
- As descrições dos supostos homicídios são pouco empolgantes e, de certa forma, pueris. A escritora é capaz de muito melhor, que eu sei. :)
Resumindo e baralhando, de uma forma geral, gostei do livro mas estava à espera de mais. Se calhar o mais correcto será dizer que estava à espera de outra coisa, porque tanto a sinopse como o primeiro capitulo pareciam apontar noutra direcção.
Com este não aconselho ou deixo de aconselhar, porque Joanne Harris não é unânime e tenho a certeza de que há pessoas que gostaram imenso do livro. Experimentem e logo verão. :)
Boas leituras!
obrigada pela dica!
ResponderEliminarTenho que ler algo desta escritora. Vi o filme Chocolate baseado no seu livro mas nunca li nada.
ResponderEliminarBoa leitura;)
Carlinha: Gosto muito do filme Chocolate, mais do que do livro, talvez porque o li depois de ver o filme. E gosto muito da autora e se gostaste do filme, o livro é um bom livro para se começar a ler Joanne Harris. :)
ResponderEliminarGostei do que escreveste sobre o livro (não sei se já o tinha escrito num comentário anterior, mas não gostei de como terminava)
ResponderEliminarEntretanto, tive uma trabalheira enorme para encontrar o livro do Agualusa (só o consegui ontem) e espero que não estejas a ler muito depressa, que é para eu ter tempo de ler, pelo menos uma partinha, antes do teu texto sobre o livro. Gosto de ler o que escreves sobre livros, especialmente quando já os li ou como sugestão para vir a ler.
redonda: Acho que o meu maior problema com o livro foi mesmo a estrutura em blogue. Regra geral não gosto de ler diários, que é o que acaba por ser este livro.
ResponderEliminarJá li o do Agualusa mas ainda não escrevi a crítica. Tenho andado pouco inspirada... :)
Ainda bem que gostas das sugestões/opiniões. Eu no teu blogue vou tirando sugestões de filmes e sigo o que escreves, fora sugestões culturais, porque acho que escreves de uma forma muito divertida. :)
:) Obrigada por achares isso :)
ResponderEliminarAcabei de ler o livro ontem e confesso que tenho uma opiniao completamente contraria à tua. No inicio a historia estava a ser um bocadinho seca. . . mas à medida que se foi desenrolando conseguiu surpreender me pela positiva. Achei incrivel o modo como Joanne Harris conseguiu interlaçar todos os detalhes. É sem duvida um livro que merece uma segunda leitura.
ResponderEliminarQuanto à escrita em formato de blog. Achei uma ideia interessante. Acho que a escritora tentou mostrar até que ponto as pessoas mudam a sua identidade na internet(publico) e fora da internet(restrito). Os comentarios irritantes... acho que pretendiam isso mesmo... ser irritantes.
Cumps!
Alu
Ana Luísa Alves: Concordo contigo nesses pontos que referes, nunca disse o contrário. Mas a questão de ser escrito em formato de blogue a mim aborrece-me (gosto pessoal, aí não há nada a fazer) e não senti empatia com as personagens o que nunca me aconteceu com os outros livros dela. Não acho que seja um livro mau, longe disso, mas estava à espera de uma coisa diferente. E mesmo não sendo o meu preferido dela, não disse que não gostei. :) Ainda bem que para ti resultou melhor. :)
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