dezembro 12, 2010

O Retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde

"Em O Retrato de Dorian Gray revela-se-nos e esteticismo de Oscar Wilde: a procura de sensações, a superação do verdadeiro artista sobre as regras da sociedade ou da moral. Nesta obra, a personalidade dividida de Dorian Gray é representada por uma inversão misteriosa da ordem natural, através da qual a sua verdadeira face conserva a juventude inviolada enquanto o retrato é macerado pelo passar dos anos, até ao dia em que a faca cravada na tela reconduz à arte a sua serenidade impassível e ao ser vivo a sua transição para a morte."

O único romance do poeta e contista Oscar Wilde é um livro que gerou em mim sentimentos ambíguos de impaciência e fascinação. Não poderei dizer que não gostei mas, tenho igual dificuldade em afirmar que gostei... Livros assim marcam e acredito que Dorian Gray e o seu retrato vão ficar na minha memória por muito tempo. E não é isso, também, que procuramos num livro? Que nos marque, que nos mude um pouco a forma de pensar e de ler? Que nos prepare para outro tipo de obras e nos faça ultrapassar barreiras literárias? Acho que O Retrato de Dorian Gray de certa forma fez isso comigo.

Escrito de uma forma poética, Oscar Wilde relata-nos a história da degradação moral de Dorian Gray um jovem detentor de uma beleza fora do comum, com um rosto que emanava pureza e inocência. Basílio Hallward, pintor, fica fascinado por ele e pede-lhe que o deixe pintar. A imortalização da beleza de Dorian Gray na tela torna-se a obra-prima de Basílio. Nunca mais ele pintou nada tão belo e um pouco de si ficou naquele retrato.
Quando Dorian vê o retrato terminado, toma consciência da sua beleza, mas também da efemeridade da mesma e deseja nunca envelhecer, deseja que seja o quadro a sofrer "na pele" as marcas que os anos deixam no nosso físico. A realidade é que no dia em que Dorian trata de forma cruel a sua namorada, levando-a ao suícidio, é no retrato que surge a expressão de crueldade e maldade. A imagem reflectida no espelho continua a mesma: um rosto belo e sereno. Depois do susto de ver o seu desejo tornado realidade, vamos assistindo às mudanças de personalidade que Dorian vai sofrendo. Serão mesmo mudanças ou apenas características da sua personalidade que encontraram espaço e liberdade para se expandirem? Dorian, um jovem inocente e pueril começa a viver uma vida dedicada ao prazer e às coisas belas. Nada é mais importante para ele do que viver a vida de forma despreocupada, aproveitando todos os prazeres que esta lhe possa proporcionar, incluíndo aqueles que provocam sofrimento nos outros. Dorian torna-se egoísta e egocêntrico, frio e calculista. O seu único medo é que o quadro seja descoberto e com ele a verdade sobre ele próprio, que a sua alma podre seja exposta. Para evitar isso, Dorian é capaz de tudo.
Ao fim de alguns anos de uma vida desregrada e degradante o quadro retrata um Dorian envelhecido e abjecto, o espelho de uma alma doentia. Dorian torna-se paranóico e vive cheio de medo. Será tarde demais para Dorian recuperar a beleza interior que perdeu com acções imorais e egoístas? Será possível redimir anos e anos de más acções e devolver à alma a sua pureza inicial? Voltará o quadro a reflectir um rosto belo? Acham o ser humano capaz de mudar, de forma honesta? Pessoalmente não acredito nisso. Se Dorian tem um fim feliz? Bem, depende do ponto de vista. :)

A minha dúvida em afirmar se gostei ou não deste livro prende-se com algumas partes mais enfadonhas da escrita, com muitos floreados e algumas dissertações que me aborreceram e que confesso ter saltado. Não ando com muita paciência... :)
Gostei de tudo o resto, da história, da forma como está contada e das personagens. Surpreendeu-me que Oscar Wilde tenha dado a este romance uma certa atmosfera de terror e um tom divertido sem no entanto deixar de o fazer com uma escrita poética e clássica. Estava à espera de uma coisa mais linear e encontrei algo bem mais interessante.
O tema é muito pertinente numa época como a nossa, onde a aparência é tantas vezes mais importante que tudo o resto e onde as pessoas vivem de forma superficial, sem se envolverem e sem se interessarem por mais ninguém a não por elas próprias. Por isto, mas não só é que sinto que Dorian Gray me vai ficar na memória por muito tempo. E é por isto, mas não só que a leitura deste livro só pode ser recomendada!

Boas leituras! :)

7 comentários:

  1. Li-o há muitos anos e porque o fixei e pensei depois nele, marcou-me.

    (tenho andado mais afastada porque os dois livros anteriores estão na minha lista de próximos livros a ler e resolvi adiar o que escreveste para depois de os ler :)

    um beijinho

    Gábi

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  2. É um livro absolutamente fantástico, dos melhores que li até à data.

    Cumprimentos,
    Filipe de Arede Nunes

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  3. Vejo que te causou alguns dos sentimentos que também me causaram a mim.
    No princípio da leitura também me irritou certas partes da história, mas quando o tinha terminado vi que estava perante um livro absolutamente extraordinário!
    Revela-nos muito nas entrelinhas... Que somos capazes de fazer pela beleza eterna?
    Brrrr... Que frio! Boas leituras!

    Nota: Tens um miminho no tonsdeazul. Fico a aguardar o teu contacto. :)

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  4. redonda: Eu não sou de "spoilar" mas fazes bem em não ler o que escrevi. ;) É sempre melhor ir para um livro sem saber o que vais encontrar.
    Espero que gostes, dos dois. :) Bom fim-de-semana!

    Filipe de Arede Nunes: É realmente um bom livro. São poucos os que, ao acabar de os ler, me deixam a sensação de que não os vou esquecer tão rápido. É caso deste livro. Foi uma boa surpresa. :)

    tonsdeazul: Obrigada! Estava a precisar de um mimo e, mesmo sem saber o que é, fiquei contente por ter sido a feliz contemplada. :)
    Tenho que começar a jogar no euromilhões, já é o segundo presente que recebo este ano sem ter feito nada por isso... :p
    Bom fim-de-semana!

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  5. Um livro realmente fantástico que até agora o cinema não conseguiu traduzir para a sua linguagem. Acontece amiúde.

    Beijos.

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  6. Olá :) Em primeiro lugar, BOM ANO!
    Curiosamente, li este livro por volta dos meus 17 ou 18 anos e, sem o ter adorado, nunca me esqueci dele. Recordo-me que o livro (igualzinho a este, de uma colecção enorme que o meu pai tinha e tem)ficou carregado de sublinhados a lápis e notas nas margens. Quando um livro me marca, trabalho-o. O mesmo aconteceu-me, anos mais tarde, com As Velas Ardem até ao Fim. Não posso dizer que tenhas gostado muito do livro porque houve partes em que o achei um pouco entediante e também saltei algumas linhas (shame on me! Lol) mas, de facto, ainda hoje recorro a algumas citações dele porque me marcaram e muito.
    Há livros assim. Que não são de eleição mas que me apetece citar repetidamente!
    Obrigada pela passagem lá no meu blog. Volta sempre!

    http://timebite.blogspot.com/

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  7. Mais um livro que me marcou!

    Li o livro pela primeira vez aos 14 anos e desde então olho o mundo de maneira diferente.

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