Ano da edição original: 1996
Autor: Donna Woolfolk Cross
Tradução: Teresa Martinho Toldy
Editora: Editorial Presença
"Personagem histórica envolta em lenda, a papisa Joana protagoniza a notável ascensão de uma mulher que não aceita as limitações que a sua época e a sua religião lhe impõem. Dotada de uma inteligência esclarecida e livre, assim como de uma imensa força de carácter, esta mulher brilhante conquista o mais elevado grau da hierarquia religiosa da Igreja Católica. Apoiado numa investigação rigorosa, este romance não é por isso menos grandioso, cativante e verdadeiramente apaixonante, questiona causas que ainda hoje são polémicas e prende o leitor às complexidades da luta pelo poder, das conspirações e segredos políticos, dos fanatismos, das traições e das crises de fé que ameaçam fazer soçobrar a admirável Joana."
A Papisa Joana, relata a possível história de Joana, a menina de Inglehiem cuja sede de conhecimento, perspicácia e inteligência a levou a ocupar o lugar mais elevado na hierarquia da Igreja Católica, o de Papa.
Desafiando tudo e todos, Joana nunca deixou de questionar o mundo à sua volta, nunca baixou os braços perante os obstáculos que iam surgindo, nunca se resignou com respostas vagas que lhe não satisfaziam a imensa curiosidade pelo mundo que a rodeava. Enfrentou a violência e falta de amor do pai, fugindo para perseguir o seu sonho de estudar. Aguentou, por amor ao conhecimento, ser humilhada e comandada por homens bem menos capazes que ela, em funções de poder. Abdicando de tudo, do amor, da possibilidade de construir uma família e da vida como mulher, rompeu barreiras, ultrapassou os limites impostos pelos outros e conquistou o seu lugar no mundo. Não é por ter alcançado alguns dos seus feitos disfarçada de homem, que Joana deixa de ser uma personagem verdadeiramente inspiradora. :)
Uma mulher muito à frente do seu tempo, com uma visão desempoeirada do mundo, que baseava as suas acções na razão e não no que vinha escrito nos livros sagrados. Inteligente, perspicaz, de certa forma ingénua, tinha um coração grande e solidário, tratando todos de forma igual. Desejava melhorar a vida de todos os que a rodeavam, dar uma vida melhor ao povo, principalmente às mulheres.
Como disse, uma personagem verdadeiramente inspiradora. :)
Terá Joana existido ou não passa de um mito, uma lenda?
O livro é claramente um romance que tem como ponto de partida esta possibilidade mas, exceptuando alguns factos, tudo nele é ficção, pelo que acredito que Joana existiu, que chegou a Papisa, que a Igreja terá apagado o rasto histórico deste facto, mas não encaro este livro como a verdadeira biografia de Joana, aliás nem julgo ser essa a intenção de Donna Woolfolk Cross. O que este livro é, sem dúvida, é uma homenagem a todas a mulheres que, ao longo da história mundial, nunca baixaram os braços, que nunca se deixaram intimidar pelas adversidades, que nunca se resignaram à sua condição de seres inferiores e sem valor, mesmo que isso implicasse viver como um homem. Não sendo este um caso único na história, como a autora refere no fim do livro. O mais irónico nesta história é o facto de Joana nem sequer ser muito religiosa. A sua personalidade iquisitiva tinha alguma dificuldade em viver com verdades absolutas, impostas por homens que se escudavam atrás de um Deus que aparentemente considerava as mulheres seres inferiores, pouco mais que animais. Joana aproveitou-se de um sistema que a excluía e adaptou-se a este para que pudesse ser incluída e, para isso apenas teve de dizer que era um homem e não uma mulher. A partir desse momento todas as portas se abriram e ela teve acesso a todo o conhecimento disponível, conhecimento esse que pertencia à Igreja e só por isso ela acaba por fazer a "escola" católica toda e chega onde chegou.
Outra questão que este livro acaba por levantar é a fiabilidade dos factos históricos que temos como certos hoje em dia. Quantos desses factos não serão baseados em documentos e provas, interpretadas de forma errada por nós, porque na altura em que foram produzidos escondiam interesses cuja compreensão é para nós impossível de atingir? Quantos desses documentos, escritos por Homens, não têm segundas intenções, não satisfaziam interesses pessoais da época, deturpando assim o legado que foi deixado para as gerações futuras? Dá que pensar... :)
Não fiquei especialmente impressionada com a escrita ou com a forma como as personagens foram criadas. Achei a Joana boazinha demais, demasiado perfeita e algumas situações demasiado forçadas para que Joana demonstrasse, mais uma vez, a sua superioridade mental e humana. Por vezes tive a sensação que estava a ler um romance cor-de-rosa, talvez porque senti alguma imaturidade na escrita de Donna Woolfolk Cross, mas a verdade é que este livro acaba por demonstrar que quando a história é boa, o que acabei de referir não passam de pormenores. Pela homenagem, pela pertinência do tema, pelo interesse que a época em causa levanta, este é um livro a não perder e que aconselho sem qualquer hesitação. Leiam! :)
Excerto:
"A partir daí, aquilo tornou-se uma espécie de jogo entre eles. Sempre que havia oportunidade, não tantas vezes quanto Joana desejava, Mateus mostrava-lhe como desenhar letras no chão. Ela era uma aluna ávida de aprender; apesar de estar ciente das consequências, Mateus não conseguia resistir ao seu entusiasmo. Ele também adorava aprender; a paixão dele falava-lhe ao coração. Mesmo assim, até ele ficou chocado quando Joana veio ter com ele um dia, carregando a enorme Bíblia com encadernação em madeira, que pertencia ao pai de ambos.
- O que estás a fazer? - gritou ele. - Vai pôr isso no sítio; nunca lhe devias ter mexido!
- Ensina-me a ler.
- O quê?
A audácia dela era espantosa.
- Ora, vamos lá, irmãzinha, isso é pedir muito.
- Porquê?
- Bem... porque ler é muito mais difícil do que limitarmo-nos a aprender o alfabeto. Duvido mesmo que fosses capaz de aprender.
- Porque não? Tu aprendeste.
Ele sorriu indulgentemente:
- Sim, mas eu sou um homem."
Notas: Algumas páginas na internet sobre a existência ou não de uma Papisa Joana.
E o trailer do filme que estreou em Portugal em Setembro de 2010 (existe ainda um filme de 1972 também acerca do mesmo tema):
A Papisa Joana, relata a possível história de Joana, a menina de Inglehiem cuja sede de conhecimento, perspicácia e inteligência a levou a ocupar o lugar mais elevado na hierarquia da Igreja Católica, o de Papa.
Desafiando tudo e todos, Joana nunca deixou de questionar o mundo à sua volta, nunca baixou os braços perante os obstáculos que iam surgindo, nunca se resignou com respostas vagas que lhe não satisfaziam a imensa curiosidade pelo mundo que a rodeava. Enfrentou a violência e falta de amor do pai, fugindo para perseguir o seu sonho de estudar. Aguentou, por amor ao conhecimento, ser humilhada e comandada por homens bem menos capazes que ela, em funções de poder. Abdicando de tudo, do amor, da possibilidade de construir uma família e da vida como mulher, rompeu barreiras, ultrapassou os limites impostos pelos outros e conquistou o seu lugar no mundo. Não é por ter alcançado alguns dos seus feitos disfarçada de homem, que Joana deixa de ser uma personagem verdadeiramente inspiradora. :)
Uma mulher muito à frente do seu tempo, com uma visão desempoeirada do mundo, que baseava as suas acções na razão e não no que vinha escrito nos livros sagrados. Inteligente, perspicaz, de certa forma ingénua, tinha um coração grande e solidário, tratando todos de forma igual. Desejava melhorar a vida de todos os que a rodeavam, dar uma vida melhor ao povo, principalmente às mulheres.
Como disse, uma personagem verdadeiramente inspiradora. :)
Terá Joana existido ou não passa de um mito, uma lenda?
O livro é claramente um romance que tem como ponto de partida esta possibilidade mas, exceptuando alguns factos, tudo nele é ficção, pelo que acredito que Joana existiu, que chegou a Papisa, que a Igreja terá apagado o rasto histórico deste facto, mas não encaro este livro como a verdadeira biografia de Joana, aliás nem julgo ser essa a intenção de Donna Woolfolk Cross. O que este livro é, sem dúvida, é uma homenagem a todas a mulheres que, ao longo da história mundial, nunca baixaram os braços, que nunca se deixaram intimidar pelas adversidades, que nunca se resignaram à sua condição de seres inferiores e sem valor, mesmo que isso implicasse viver como um homem. Não sendo este um caso único na história, como a autora refere no fim do livro. O mais irónico nesta história é o facto de Joana nem sequer ser muito religiosa. A sua personalidade iquisitiva tinha alguma dificuldade em viver com verdades absolutas, impostas por homens que se escudavam atrás de um Deus que aparentemente considerava as mulheres seres inferiores, pouco mais que animais. Joana aproveitou-se de um sistema que a excluía e adaptou-se a este para que pudesse ser incluída e, para isso apenas teve de dizer que era um homem e não uma mulher. A partir desse momento todas as portas se abriram e ela teve acesso a todo o conhecimento disponível, conhecimento esse que pertencia à Igreja e só por isso ela acaba por fazer a "escola" católica toda e chega onde chegou.
Outra questão que este livro acaba por levantar é a fiabilidade dos factos históricos que temos como certos hoje em dia. Quantos desses factos não serão baseados em documentos e provas, interpretadas de forma errada por nós, porque na altura em que foram produzidos escondiam interesses cuja compreensão é para nós impossível de atingir? Quantos desses documentos, escritos por Homens, não têm segundas intenções, não satisfaziam interesses pessoais da época, deturpando assim o legado que foi deixado para as gerações futuras? Dá que pensar... :)
Não fiquei especialmente impressionada com a escrita ou com a forma como as personagens foram criadas. Achei a Joana boazinha demais, demasiado perfeita e algumas situações demasiado forçadas para que Joana demonstrasse, mais uma vez, a sua superioridade mental e humana. Por vezes tive a sensação que estava a ler um romance cor-de-rosa, talvez porque senti alguma imaturidade na escrita de Donna Woolfolk Cross, mas a verdade é que este livro acaba por demonstrar que quando a história é boa, o que acabei de referir não passam de pormenores. Pela homenagem, pela pertinência do tema, pelo interesse que a época em causa levanta, este é um livro a não perder e que aconselho sem qualquer hesitação. Leiam! :)
Excerto:
"A partir daí, aquilo tornou-se uma espécie de jogo entre eles. Sempre que havia oportunidade, não tantas vezes quanto Joana desejava, Mateus mostrava-lhe como desenhar letras no chão. Ela era uma aluna ávida de aprender; apesar de estar ciente das consequências, Mateus não conseguia resistir ao seu entusiasmo. Ele também adorava aprender; a paixão dele falava-lhe ao coração. Mesmo assim, até ele ficou chocado quando Joana veio ter com ele um dia, carregando a enorme Bíblia com encadernação em madeira, que pertencia ao pai de ambos.
- O que estás a fazer? - gritou ele. - Vai pôr isso no sítio; nunca lhe devias ter mexido!
- Ensina-me a ler.
- O quê?
A audácia dela era espantosa.
- Ora, vamos lá, irmãzinha, isso é pedir muito.
- Porquê?
- Bem... porque ler é muito mais difícil do que limitarmo-nos a aprender o alfabeto. Duvido mesmo que fosses capaz de aprender.
- Porque não? Tu aprendeste.
Ele sorriu indulgentemente:
- Sim, mas eu sou um homem."
Notas: Algumas páginas na internet sobre a existência ou não de uma Papisa Joana.
- http://en.wikipedia.org/wiki/Pope_Joan
- http://www.museumofhoaxes.com/hoax/archive/permalink/pope_joan/
- http://www.newadvent.org/cathen/08407a.htm
- http://www.usnews.com/usnews/doubleissue/mysteries/pope.htm
- http://abcnews.go.com/Primetime/story?id=1453197&page=1
- http://atheism.about.com/od/popesandthepapacy/a/popejoan.htm
E o trailer do filme que estreou em Portugal em Setembro de 2010 (existe ainda um filme de 1972 também acerca do mesmo tema):