Título original: Lituma en los Andes
Ano da edição original: 1993
Autor: Mario Vargas Llosa
Tradução: Miguel Serras Pereira
Editora: Publicações Dom Quixote (Colecção Autor Nobel - Revista Sábado)
Ano da edição original: 1993
Autor: Mario Vargas Llosa
Tradução: Miguel Serras Pereira
Editora: Publicações Dom Quixote (Colecção Autor Nobel - Revista Sábado)
"Sob a ameaça constante dos guerrilheiros maoístas do Sendero Luminoso, o cabo Lituma e o seu adjunto Tomás vivem num acampamento mineiro das montanhas do Peru, onde inexplicáveis e obscuros desaparecimentos lhes prendem o interesse. Paralelamente, a vida pessoal de ambos - sobretudo o reaparecimento de um antigo amor de Tomás -, intrometer-se-à profundamente na investigação. O drama real das comunidades peruanas, nos anos 80, reféns da organização paramilitar de esquerda, e as dúvidas pessoais dos personagens cruzam-se durante todo o romance, tornando Lituma nos Andes uma obra ímpar no percurso literário de Mario Vargas Llosa, mas também umas das suas mais ferozes críticas à violência estrutural que afectou o Peru durante tantas décadas. Uma obra obrigatória em qualquer biblioteca."
Lituma nos Andes é o meu segundo livro de Mario Vargas Llosa
e começo a familiarizar-me com a sua escrita. Sim, porque os livros dele não são fáceis de ler, a forma como ele encadeia as diversas histórias em diversos
tempos exige concentração. Neste livro, à semelhança do outro que li dele (A Festa do Chibo, já aqui comentado), a
minha primeira reacção é de estranheza e penso sempre que não gosto muito dele.
No entanto, a verdade é que, em ambos os livros, fui sendo conquistada, sem que
me apercebesse disso, e no fim... no fim gosto e muito dos livros dele. Não é
um escritor fácil, não é um escritor vulgar e óbvio. O que ele é, é um escritor
inteligente, criativo e cativante.
Agora que já elogiei o criador, vamos lá falar do livro. :)
A história que Llosa nos conta passa-se na década de 80, no Peru, mais especificamente nos Andes, como titulo do livro indica. Esta foi uma década marcada pelas acções violentas de um grupo revolucionário, considerado hoje como terrorista, os Sendero Luminoso, oficialmente denominados por Partido Comunista do Peru. Este grupo que professava a igualdade e a melhoria das condições de vida dos camponeses, fazia passar a sua mensagem de forma extremamente violenta e pouco coerente.
É neste clima de terror que o cabo Lituma e o seu adjunto, Tomás Carreño (mais conhecido por Tomasito ou Carreñito) chegam ao posto da Guardia Civil de Naccos, uma antiga aldeia mineira, isolada na serra andina. Lituma e Carreñito têm como missão supervisionar a construção da estrada há muito ansiada pela população local, geradora de emprego e a última esperança de uma vida melhor para aqueles que permaneceram depois de a exploração mineira ter terminado na região.
Lituma sente muita dificuldade em ambientar-se à serra, tendo nascido e sido criado na zona costeira do Peru, não entende o carácter desconfiado dos serranos e as suas crenças e superstições. Vive, juntamente com Carreñito e o resto da população, com receio do ataque dos terrucos (guerrilheiros do Sendero). Dão por certa a sua vinda, só não sabem quando e ambos têm a certeza de que não sairão dali com vida. Para piorar a vida de Lituma e de Carreñito, quando três pessoas desaparecem sem deixar rasto, todos se fecham em copas e em nada contribuem para a resolução do mistério que acaba por se tornar numa obsessão para Lituma. O único momento de paz que o cabo Lituma experimenta naquele fim do mundo é à noite, quando Carreñito, partilha com ele história do seu amor com a bailarina Mercedes, a mulher que o levou ao desterro em Naccos. :)
Mais uma vez neste livro, Llosa cria uma rede de histórias, todas contadas ao mesmo tempo, que muitas vezes se tocam, onde conhecemos todas as personagens, não só o seu presente mas também o seu passado e o que as levou ali. Curiosamente, de todas as personagens aquela de quem acabamos por saber menos é Lituma, que sendo a personagem principal tem um papel mais de aglutinador, de ligação entre as diversas histórias e não um papel desencadeador dos acontecimentos.
As mudanças bruscas de história, muitas vezes sem qualquer a estrutura no texto que indique essa mudança de tempo ou mesmo de narrador, deixou-me baralhada no início, no entanto foi algo a que me fui habituando ao longo do livro.
Tal como no A Festa do Chibo, primeiro estranhei, depois entranhou-se e na verdade acho que posso dizer que gosto de Mario Vargas Llosa. Gosto que ele conte a história de forma pouco óbvia, conseguindo manter uma narrativa coerente e onde todas as ligações acabam por bater certo. Gosto da forma como escreve e das personagens que cria. Gosto dos temas, gosto que fale da América Latina e dos seus povos culturalmente tão interessantes e ricos. Enfim, gosto deste senhor! :)
Recomendo sem qualquer reserva!
Boas leituras!
É neste clima de terror que o cabo Lituma e o seu adjunto, Tomás Carreño (mais conhecido por Tomasito ou Carreñito) chegam ao posto da Guardia Civil de Naccos, uma antiga aldeia mineira, isolada na serra andina. Lituma e Carreñito têm como missão supervisionar a construção da estrada há muito ansiada pela população local, geradora de emprego e a última esperança de uma vida melhor para aqueles que permaneceram depois de a exploração mineira ter terminado na região.
Lituma sente muita dificuldade em ambientar-se à serra, tendo nascido e sido criado na zona costeira do Peru, não entende o carácter desconfiado dos serranos e as suas crenças e superstições. Vive, juntamente com Carreñito e o resto da população, com receio do ataque dos terrucos (guerrilheiros do Sendero). Dão por certa a sua vinda, só não sabem quando e ambos têm a certeza de que não sairão dali com vida. Para piorar a vida de Lituma e de Carreñito, quando três pessoas desaparecem sem deixar rasto, todos se fecham em copas e em nada contribuem para a resolução do mistério que acaba por se tornar numa obsessão para Lituma. O único momento de paz que o cabo Lituma experimenta naquele fim do mundo é à noite, quando Carreñito, partilha com ele história do seu amor com a bailarina Mercedes, a mulher que o levou ao desterro em Naccos. :)
Mais uma vez neste livro, Llosa cria uma rede de histórias, todas contadas ao mesmo tempo, que muitas vezes se tocam, onde conhecemos todas as personagens, não só o seu presente mas também o seu passado e o que as levou ali. Curiosamente, de todas as personagens aquela de quem acabamos por saber menos é Lituma, que sendo a personagem principal tem um papel mais de aglutinador, de ligação entre as diversas histórias e não um papel desencadeador dos acontecimentos.
As mudanças bruscas de história, muitas vezes sem qualquer a estrutura no texto que indique essa mudança de tempo ou mesmo de narrador, deixou-me baralhada no início, no entanto foi algo a que me fui habituando ao longo do livro.
Tal como no A Festa do Chibo, primeiro estranhei, depois entranhou-se e na verdade acho que posso dizer que gosto de Mario Vargas Llosa. Gosto que ele conte a história de forma pouco óbvia, conseguindo manter uma narrativa coerente e onde todas as ligações acabam por bater certo. Gosto da forma como escreve e das personagens que cria. Gosto dos temas, gosto que fale da América Latina e dos seus povos culturalmente tão interessantes e ricos. Enfim, gosto deste senhor! :)
Recomendo sem qualquer reserva!
Boas leituras!
Excerto:
"(...) mal e quando, como agora em Naccos, em toda a serra e talvez no mundo inteiro, só se sofre e já ninguém se lembra do que era gozar. Antigamente as gentes atreviam-se a fazer frente aos grandes estragos através das expiações. Era assim que se mantinha o equilíbrio. A vida e a morte como uma balança de dois pratos com o mesmo peso, como dois carneiros com a mesma força que marram um no outro sem que nenhum deles avance e nenhum recue."