A acção de
The Pillars of the Earth percorre quase todo o século XII. Começa com o fim do reinado de
Henry I, passa pelo de
Stephen e termina com o de
Henry II. Tendo como pano de fundo o sonho de construir uma catedral, a maior e mais bela catedral de Inglaterra, Ken Follett leva-nos a viajar por uma época difícil, onde a guerra pelo trono é uma constante, a tirania dos grandes senhores é lei e onde o poder da Igreja, embora muitas vezes ameaçado e posto em causa, é inegável e muitas vezes nefasto. Na luta do bem contra o mal, o bem não parece ter grandes hipóteses contra adversários tão determinados.
Podemos considerar que existem, neste livro, três grandes núcleos - o núcleo do povo, constituído pela gente trabalhadora e/ou pobre, o núcleo dos nobres ou donos de cargos de poder na sociedade e dos religiosos.
Do lado do povo temos Ellen, Jack, juntamente com Tom Builder e a família.
Ellen e Jack, são mãe e filho e viviam numa gruta na floresta, afastados do
mundo, até se cruzarem com a
família de Tom Builder. Ellen é filha de um nobre, demasiado "avançada" para a época em que
nasceu, por ser tudo menos uma mulher submissa. É, pelo contrário, independente, sem papas na língua e incute algum receio nos outros por acharem que é uma bruxa com acesso a poderes ocultos. É uma mulher que ama a vida e o filho, acima de tudo, e que encontra novamente o amor junto de Tom Builder, que acabará por ser o único pai que Jack alguma vez conhecerá.
Tom Builder é-nos apresentado como um homem muito inteligente, com uma mente aberta à mudança. É um homem fisicamente possante que amou sem reservas a mulher, Agnes, que morre durante o parto, e os filhos. O seu maior sonho é construir uma catedral. Quer desenhá-la e construi-la à medida da sua imaginação. É trabalhador e determinado nos objectivos que traçou para a sua vida.
Aliena e Richard fazem parte do núcleo dos nobres, embora vivam, ao longo de toda a história, momentos de verdadeira penúria. Aliena e Richard são irmãos e assistiram impotentes à invasão
do castelo onde viviam com o pai, o Conde de Shiring. Preso por conspirar contra o rei, deixa os filhos, ainda adolescentes, abandonados e arruinados. Aliena é uma personagem extraordinária que vale a pena conhecer.
Uma mulher de armas que não baixa nunca os braços perante as inúmeras
adversidades e contratempos que vai encontrando ao logo da história.
Dona de uma beleza extraordinária e de uma não menos extraordinária personalidade, é protagonista de uma das cenas mais
chocantes do livro, quando é violada por William Hamleigh e os seus
homens, em frente ao irmão Richard. A vida das mulheres neste livro é
tudo menos glamorosa...
William Hameleigh, é a
personificação de todo o mal. Conhecemo-lo quando invade o Castelo de
Shiring, um rapaz inseguro que encontra na violência um escape para os seus
demónios interiores. Seguimos o seu percurso errático, pertubamo-nos com os seus
desejos irracionais, por Aliena, pelo poder, pelo reconhecimento público e por
sangue. O seu fim não poderia ser diferente daquele que Ken Follett lhe reservou. :)
Do lado da Igreja, temos Philip e Waleran. Os dois representam o melhor e o pior que a Igreja pode criar.
Philip é o prior de Kingsbridge quando Tom Builder chega à vila e depressa embarca no sonho do construtor. Em criança assistiu ao
assassinato dos pais tendo sido salvo, juntamente com o irmão mais novo, por um religioso que os acolheu num mosteiro e os educou como filhos. Extremamente inteligente e determinado, o seu calcanhar de Aquiles é o orgulho, o único pecado mortal de que pode ser acusado. Orgulho por ter transformado Kingsbridge numa cidade cada vez maior e mais próspera, e por estar a construir a maior e mais bela catedral do mundo. Comete alguns erros e toma decisões que podemos considerar menos cristãs, tudo para
salvaguardar a obra que quer deixar feita. Mas é, na sua essência, um
homem bom, um verdadeiro cristão, por vezes inocente, moralmente muito
rígido e justo que acredita piamente estar a cumprir a vontade de Deus.
Waleran é a antitese de Philip, dono de uma ambição sem limite, utiliza a sua posição como Bispo para satisfazer os seu desejos pessoais, não olhando a meios para atingir os seus fins. Tem por Philip um ódio de morte e chega a ser frustrante ver o esforço que faz para acabar com Philip e que este consiga sempre dar a volta por cima. :)
The Pillars of the Earth é a história de Ellen, de Jack, de Tom Builder, de Aliena, de Philip, de William e Waleran. Estes são os seu nomes mas podiam ser outros, porque as histórias contadas não são exclusivamente suas. Ken Follett junta todas estas personagens, tendo como força motriz a construção da catedral de Kingsbridge e aproveita para nos falar de como era a vida na Inglaterra do século XII. Como viviam as pessoas nessa altura, do que viviam, o que comiam, porque casavam, como nasciam e como morriam. Que papel assumia a Igreja, em que acreditavam as pessoas da época, o que temiam e como rezavam. Que importância tinha o Rei na vida dos seus súbditos, quando decisões tomadas a quilómetros de distância por razões, raramente compreensíveis, podiam virar a vida do comum dos mortais de pernas para o ar.
Neste aspecto o livro é bem sucedido, uma vez que, faz isto integrando os factos históricos na história ficcionada que conta, com pormenores que vamos absorvendo de forma natural.
Os pormenores da construção da catedral são fascinantes, e é engraçado intuir nas preocupações que consumiam Tom Builder e mais tarde Jack, o início de uma nova era para a engenharia civil. Com o acesso ao conhecimento tão limitado, onde os únicos livros disponíveis pertenciam à Igreja, é fascinante como já se sabia tanto, ou como a intuição de Jack estava tão perto da verdade.
Talvez por ter visto a mini-série
primeiro, o meu entusiasmo durante a leitura acabou por não ser uma
constante, no entanto, não posso deixar de concordar com a maioria das
opiniões já escritas sobre esta obra de Ken Follett, é grande e tem
momentos verdadeiramente grandiosos.
The Pillars of the Earth é
um daqueles livros que vale essencialmente pela história que nos conta e
menos pela qualidade da escrita. A genialidade de Ken Follett revela-se
na história e não propriamente na forma como a conta. Confesso que não
sou grande fã da escrita dele, que acho demasiado linear e, neste livro,
acaba por ser até um pouco repetitivo nas ideias. Mas, embirranços à parte foi um
livro que me deu muito gozo ler e que me deixou com vontade de ler o
The World Without End e a trilogia do século XX
, Winter of the World, que ele já começou a escrever.
Ainda não foi este que arrebatou as 5 estrelas na classificação do Goodreads, mas leva umas confortáveis 4 estrelas, sem hesitações.
Recomendo, embora seja um livro grande, em termos de dimensões, é um livro que se lê bastante bem sem grande espaço para nos aborrecermos. Recomendo também a
mini-série, embora não seja completamente fiel ao livro vale a pena ver.
Boas leituras!