maio 07, 2023

Um Dia Diferente - John Steinbeck

Título original: Sweet Thursday
Ano da edição original: 1954
Autor: John Steinbeck
Tradução: João Belchior Viegas
Editora: Livros do Brasil

"Com o deflagrar da Segunda Guerra Mundial, o biólogo marinho que todos conhecem por Doutor é mobilizado. Não é exatamente o mesmo homem que volta a Cannery Row um par de anos mais tarde, mas Cannery Row não é também o mesmo bairro.

O Laboratório Biológico tem a porta empenada pela humidade e o interior repleto de pó e bolor. Dora, a madame, morreu durante o sono, deixando o bordel nas mãos da sua irmã Fauna. Henri, o pintor, abandonou a cidade intempestivamente, e não foi o único.

Parece que só Mack ficou onde estava, procurando pôr as coisas em ordem. Em Um Dia Diferente, Steinbeck regressa ao Bairro da Lata e aos dramas quotidianos daquelas personagens unidas por um destino sem esperança, no centro das quais se encontra o Doutor. Após o absurdo da guerra, ele procura retomar a normalidade da vida dedicando-se à recolha e venda de animais marinhos. Até que da água lhe surge uma outra imagem de salvação: na figura da linda e impulsiva Suzy."

Regressar a Cannery Row é à comunidade de Bairro da Lata (a minha opinião aqui) é quase como saber notícias de velhos conhecidos dos quais guardamos boas memórias e por quem temos carinho. São assim estes livros de John SteinbeckBairro da Lata e agora este Um Dia Diferente e, que foi companhia certa nas férias de Verão do ano passado. Estes dois são muito parecidos com O Milagre de São Francisco (a minha opinião aqui) que também aconselho a lerem.

Como é dito na sinopse o Doutor é mobilizado para a 2ª Grande Guerra e, quando regressa, todo o bairro lhe parece diferente. A guerra acabou por afetar, mesmo que de forma indireta, todos e, sem o Doutor para os orientar, todos parecem estar meio à deriva.
Não é só o bairro e as suas gentes que lhe parecem diferentes, o próprio Doutor se sente cansado, desiludido com a vida e cada vez mais sozinho.

O regresso do Doutor é festejado por todos mas todos se apercebem que o homem que voltou não é o mesmo que partiu e ficam preocupados com o desalento que sentem ter tomado conta dos dias do homem que tanto admiram. É por isso que Mack e o seu grupo de inadaptados decidem que têm de fazer alguma coisa para animar e ajudar o Doutor.

Suzy é uma jovem mulher que aparece em Cannery Row, sozinha, à procura de algo que a faça feliz. Quer mudar de vida e vem de braços abertos, preparada para abraçar todos os desafios que a possam esperar. É inteligente e aguerrida e é por isso que chama a atenção de todos, sendo unânime para todos que Suzy é a mulher perfeita para acabar com a solidão do Doutor.
Mack e todos em Cannery Row vão fazer tudo para que os dois se apaixonem e vivam felizes para sempre.

E é mais ou menos isto, uma história de amor, de preconceitos e de desencontros e, mais uma vez, uma história de amizades improváveis, com gente boa, cheia de boas intenções.

É um livro divertido e bem escrito, com a qualidade certificada de John Steinbeck. :)

E foi bom voltar a estas personagens e ao ambiente de Cannery Row.

Recomendo sem hesitações. Aconselho, no entanto a que leiam primeiro o Bairro da Lata para conhecerem as personagens melhor e este não vos pareça meio desenquadrado.

Boas leituras!

Excerto (pág. 11)
"Quando a guerra chegou a Monterey e a Cannery Row todos lutaram mais ou menos, duma maneira ou doutra. Quando as hostilidades cessaram todos tinham as suas cicatrizes.
As fábricas de conservas lutaram também a seu modo, desprezando as limitações impostas e pescando todo o peixe possível. Tudo por razões patrióticas, se bem que isso não voltasse a dar vida aos peixes. Exatamente como as ostras da Alice no País das Maravilhas, «comeram tudo». De resto, o mesmo nobre impulso devastou as florestas do Oeste e levou a que hoje em dia  a água seja puxada à bomba das profundezas do subsolo da Califórnia em quantidades nunca comparáveis às que chovem do céu. Se o deserto alastrar, toda a gente ficará triste, tão triste como Cannery Row quando todas as sardinhas foram pescadas, enlatadas e comidas. As fábricas de chapa ondulada de um cinzento-pérola estavam envoltas em silêncio e toda a vida que tinham era a dum pacífico guarda. A rua, que estremecera com camiões, estava sossegada e deserta.
De facto a guerra tocara a todos. O Doutro fora mobilizado. Deixara como encarregado do Laboratório Biológico Ocidental o seu amigo Old Jingleballicks e cumprira o seu serviço como sargento num posto antivenéreo.
O Doutor encarou a situação com filosofia. Entretinhas as horas livres com uma quantidade apreciável de álcool fornecido pelo Governo, arranjou amizades e evitou ser promovido. Quando a guerra acabou foi mantido no serviço por gratidão do Governo a fim de destrinçar certos problemas menos claros de inventário, tarefa que lhe incumbia, aliás, por a ele se dever em grande parte a sua pouca clareza. Dois anos após a vitória, o Doutor foi finalmente desmobilizado com todas as honras."

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