"Do encontro entre um estudante angolano e uma jovem mongol, nos anos 60, em Moscovo, nasce um amor proibido.
Baseada em factos verídicos, ficcionados pelo autor, esta história põe em evidência a vacuidade de discursos ideológicos e palavras de ordem, que se revelam sem relação com a prática. Política internacional, guerra, solidariedade e amor, numa rota que liga um ponto perdido de África a outro da Ásia, passando pela Europa e até por Cuba. Uma viagem no tempo e no espaço, o de uma geração cansada de guerra num mundo cada vez mais pequeno. Maravilhoso e comovente, este é um romance sobre o triunfo do amor, contra todas as vontades e todas as fronteiras."
Mais um grande livro do Pepetela. À medida que vou lendo mais livros dele, vou como que revalidando a minha opinião sobre ele. Gosto muito dos livros dele, gosto da escrita, gosto das histórias, gosto do sentido de humor e da forma divertida como vai falando de assuntos tão sérios como a guerra. O Planalto e a Estepe não foi excepção, gostei muito. Embora as histórias de amor não surjam frequentemente nos livros dele como tema central, a verdade é que ele escreve muito bem sobre o amor e, acho mesmo que este foi um dos melhores livros que já li dele.
Os olhos dele continham o céu do Planalto,
Na Huíla, Serra da Chela, Dezembro, quando o azul mais fere.
Nos olhos dela estavam gravadas suaves ondulações da Estepe
mongol. Tons sobre o castanho.
Entremos primeiro no azul.
Assim começa o livro.
Júlio é um rapaz angolano, branco de olhos azuis, que se vê a estudar economia em Moscovo, com o apoio do partido comunista russo. Em Moscovo para além dos rudimentos da economia é-lhe também ensinada a cartilha socialista. Cartilha essa onde é apregoada a igualdade entre os povos, valores de fraternidade e a lealdade para com a causa e países socialistas.
Sarangerel é originária da Mongólia, país socialista, e que se encontra em Moscovo também a estudar. Sarangerel tem nos seu olhos castanhos a beleza das estepes da Mongólia e a força e coragem dos criadores de cavalos do seu país.
Júlio conhece Sarangerel e o amor que nasce entre os dois é daqueles que duram um vida e que nem com a morte desaparece. Ele apaixona-se pela sua cara de lua cheia e pela serenidade dos seus olhos castanhos, ela perde-se nos seus olhos azuis que lhe dizem mais do que Júlio poderia alguma vez exprimir por palavras.
A causa socialista que permitiu que se conhecessem não tolerou, no entanto, que se amassem e Sarangerel acaba repatriada para a Mongólia onde o pai, um graduado militar, era Ministro da Defesa. Júlio vê-se impossibilitado de entrar em contacto com ela, foram-lhe negados vistos de entrada na Mongólia e autorizações para sair da Rússia. As cartas eram controladas e quem os tentasse ajudar corria perigo. Aparentemente a apregoada igualdade entre os povos tinha alguns limites...
Separado de Sarangerel mas sem nunca desistir dela, Júlio, após terminar o curso, é enviado para o sul da Rússia para combater no Mar Negro. Inicia-se aí uma carreira militar brilhante que termina em Angola onde lutou anos a fio pela independência do país, sempre com a sua Sarangerel no coração e a certeza de que se voltariam a encontrar. Este pensamento deu-lhe esperança e coragem para enfrentar os horrores da guerra e provavelmente salvou-lhe a vida umas quantas vezes.
Muitas mais coisas haveria a dizer sobre estes dois mas se vos contasse tudo, porque haveriam de ler o livro? :)
Pepetela usa a história de amor entre o Planalto e da Estepe para nos ir contando sobre as tensões políticas da época e sobre as contradições de uma ideologia que carecia de poder de concretização e carecia sobretudo de homens que realmente acreditassem nela. Fala também sobre a guerra, sobre o racismo, mas também sobre a amizade, pois também as há eternas como o amor de Júlio e Sarangerel. Existe também alguma crítica ao estado actual de África, em geral, e de Angola em particular. Angola está em paz mas corrupta e cada vez mais desigual: Pobre África, viramos as costas uns aos outros e quem lucra é o antigo colonizador. Pois segundo Júlio, e provavelmente segundo Pepetela, é mais difícil ver duas empresas africanas a cooperarem do que uma africana com uma europeia. África tem um longo caminho a percorrer mas nada se fará sem envolver as populações educando-as e fornecendo-lhes as ferramentas necessárias para prosperarem sem ajuda exterior. Talvez um dia, quem sabe...
O Planalto e a Estepe é recomendadíssimo!
Boas leituras. :)
Não acabei ainda e por isso estava hesitante se lia ou não este texto, mas felizmente não contas como é que acaba :) Não tinha lido nada do Pepetela. Imaginava que escreveria de uma forma muito séria e distante e ao invés o que estou a ler parece-me próximo e real. Estou a gostar muito. Obrigada pela indicação :)
ResponderEliminarPor isso é que raramente leio críticas de livros que estou a ler ou pretendo ler brevemente. Só na diagonal para saber se gostaram ou não... :)
ResponderEliminarQuem inventou o Jaime Bunda, um agente policial angolano, não poderia ser sério e distante. :p Ainda bem que estás a gostar, eu já li uns quantos dele e acho este um dos melhores. Quando quiseres ler mais alguma coisa dele, experimenta A Gloriosa Família e o Mayombe. Os dois livros do Jaime Bunda também são bem divertidos. :)
Vou começar hoje mais um livro de Pepetela, depois de ter gostado bastante da "Parábola do Cágado Velho". O livro que referes também está na minha lista de próximas aquisições.
ResponderEliminarBoas leituras :)
Não li nada ainda deste autor, mas tenho na estante o livro da colecção da revista Visão, «Parábola do Cágado Velho». Comprei-o por essa mesma razão, para conhecer a escrita de Pepetela.
ResponderEliminarTenho este livrinho :) (mais um por ler), tenho de me lançar na sua leitura.
ResponderEliminarQuanto a mim, a história de amor entre as personagens é apenas um dos ingredientes deste livro. A reconstituição histórica é fantástica. Além de não a considerar uma obra-prima, recomendo a leitora deste livro, pois é um bom livro.
ResponderEliminarTiago M. Franco: Não é uma obra-prima mas é um livro que preenche como poucos. A história de amor é apenas um dos motivos pelo qual o livro é tão bom, mas no meu caso, em que estou habituada ao rigor histórico do Pepetela, achei a história de amor surpreendente e a grande responsável por este ser um dos que mais gosto dele. :)
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