outubro 30, 2010

Livros por ler na estante

Os livros, intocados que andam aqui pelas estantes:


O Retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde
"Em o O Retrato de Dorian Gray revela-se-nos o esteticismo de Oscar Wilde: a procura de sensações, a superação do verdadeiro artista sobre as regras da sociedade ou da moral. Nesta obra, a personalidade dividida de Dorian Gray é representada por uma inversão misteriosa da ordem natural, através da qual a sua verdadeira face conserva a juventude inviolada enquanto o retrato é macerado pelo passar dos anos, até ao dia em que a faca cravada na tela reconduz à arte a sua serenidade impassível e ao ser vivo a sua transição para a morte."

Comprado num alfarrabista, juntamente com o Um Certo Capitão Rodrigo, do Erico Veríssimo, já comentado aqui. Este do Oscar Wilde tem um cheiro delicioso, uma mistura de livro velho, de páginas amareladas com um inexplicável cheiro a chocolate. Juro, este livro cheira-me a chocolate. Sabe-se lá por onde já andou. :)

Os Irmãos Tanner - Robert Walser
"Tal como em O Ajudante e Jakob von Gunten, este romance de Robert Walser exprime a vocação errante do autor, a sua disponibilidade para deambular, nada produzindo além do prazer do seu leitor. Robert Walser é um dos escritores que maior influência exerceu sobre Kafka, Hesse ou Musil e tem conquistado um crescente número de leitores em vários países."

Livro adquirido na Festa do Livro no Avante deste ano. Embora numa altura de vacas magras (mais a dar para o cadavéricas) comprei-o porque ir à Festa do Avante e não trazer um livro seria deprimente e, porque me lembrei de ter lido uma boa crítica no blogue tonsdeazul. Com ele veio o Um Estranho em Goa do José Eduardo Agualusa (opinião aqui), oferta do meu mais que tudo. :)

A Fórmula de Deus - José Rodrigues dos Santos
"Nas escadarias do Museu Egípcio em pleno Cairo, Tomás Noronha é abordado por uma desconhecida. Chama-se Ariana Pakravan, é iraniana e traz consigo a cópia de um documento inédito, um velho manuscrito com um estranho título e um poema enigmático. O inesperado encontro lança Tomás numa empolgante aventura, colocando-o na rota da crise nuclear com o Irão e da mais importante descoberta jamais efectuada por Albert Einstein, um achado que o conduz ao maior de todos os mistérios: a prova científica da existência de Deus. Uma história de amor, uma intriga de traição, uma perseguição implacável, uma busca espiritual que nos leva à mais espantosa revelação mística de todos os tempos. Baseada nas últimas e mais avançadas descobertas científicas nos campos da física, da cosmologia e da matemática, A Fórmula de Deus transporta-nos numa surpreendente viagem até às origens do tempo, à essência do universo e o sentido da vida"

Este é da Feira do Livro do ano passado. Mal parou nas minhas mãos e foi logo emprestado. Só há pouco tempo regressou à casa mãe. Entretanto o facto de ser um livro com o Tomás de Noronha tem feito com que o tenha colocado no fundo da pilha. :/ Ainda não me esqueci do A Fúria Divina... Infelizmente... :(

Danças & Contradanças - Joanne Harris
"As sarcásticas histórias de Danças & Contradanças podem ser resumidas em duas palavras: malévolas e maliciosas. Como em muitos dos seus romances, Joanne Harris consegue combinar de uma forma única situações e personagens comuns - e até banais - com o extraordinário e o inesperado. Mais do que nunca, a autora dá largas à sua imaginação e apresenta-nos uma exuberante e prodigiosa caixa de Pandora que contém tudo quanto é extravagante, estranho misterioso e perverso. De bruxas suburbanas a velhinhas provocadoras, monstros envelhecidos, vencedores da lotaria suicidas, lobisomens, mulheres-golfinho e fabricantes de adereços eróticos, estas são vinte e duas histórias onde o fantástico anda de mãos dadas com o mundano, o amargo com o doce, e onde o belo, o grotesco, o sedutor e o perturbador estão sempre a um passo de distância. Escolham o vosso par, por favor. Danças & Contradanças é o primeiro livro de contos de Joanne Harris, que, com a mestria a que já nos habituou, consegue deliciar, surpreender, entreter e horrorizar em igual medida. Suficientemente longas para aguçar o apetite, e breves a ponto de serem lidas num piscar de olhos, estas são histórias maliciosas, divertidas, por vezes provocadoras, mas sempre pessoais e capazes de revelar uma faceta de Joanne Harris até agora desconhecida dos seus leitores."

Este veio como oferta, do site da Fnac, na compra do O Rapaz de Olhos Azuis.


A Guerra dos Tronos - George R. R. Martin
"Quando Eddard Stark, lorde do castelo de Winterfell, recebe a visita do velho amigo, o rei Robert Baratheon, está longe de adivinhar que a sua vida, e a da sua família, está prestes a entrar numa espiral de tragédia, conspiração e morte. Durante a estadia, o rei convida Eddard a mudar-se para a corte e a assumir a prestigiada posição de Mão do Rei. Este aceita, mas apenas porque desconfia que o anterior detentor desse título foi envenenado pela própria rainha: uma cruel manipuladora do clã Lannister. Assim, perto do rei, Eddard tem esperança de o proteger da rainha. Mas ter os Lannister como inimigos é fatal: a ambição dessa família não tem limites e o rei corre um perigo muito maior do que Eddard temia! Sozinho na corte, Eddard também se apercebe que a sua vida nada vale. E até a sua família, longe no norte, pode estar em perigo."

Este está na estante há não sei quanto tempo. É um daqueles que veio como oferta na campanha 2+3 da Saída de Emergência. Não o li ainda porque andava demasiado zunzum à volta da saga. Agora que parece ter acalmado um pouco, vou começar a lê-lo. Espero gostar... :)


O Último Cabalista de Lisboa - Richard Zimler
"Em Abril de 1506, durante as celebrações da Páscoa, cerca de 2000 cristãos-novos foram mortos num pogrom em Lisboa e os seus corpos queimados no Rossio. Reinava então D. Manuel I, o Venturoso, e os frades incitavam o povo à matança, acusando os cristãos-novos de serem a causa da fome e da peste que flagelavam a cidade. Os Zarco, uma família de cristãos-novos residentes em Alfama, tinham como patriarca Abraão Zarco, iluminador e membro respeitado da célebre escola cabalística de Lisboa. Depois do pogrom, Berequias Zarco, sobrinho e discípulo de Abraão, vai encontrar o tio e uma jovem desconhecida mortos numa cave que servia de templo secreto desde que a sinagoga fora encerrada pelos cristãos-velhos. Um e outro estão nus e banhados em sangue. Estranhamente, a porta está fechada por dentro. Um manuscrito iluminado, recentemente terminado por Abraão Zarco, em que os rostos dos seus vizinhos e amigos representam personagens bíblicas, desapareceu do seu esconderijo secreto. O assassino teria sido um cristão ou, como os indícios fazem crer, outro judeu? Quem seria a rapariga morta? Estaria o rosto do assassino representado no manuscrito roubado? O Último Cabalista de Lisboa é um extraordinário romance histórico tendo como pano de fundo os eventos verídicos desse mês de Abril de 1506 e pode ser lido a vários níveis, na tradição de um verdadeiro livro cabalístico."

Última aquisição. Aquisição feita num dia menos bom. Há quem coma chocolates, chore, compre roupa... Eu comprei este livro. ;) Já ando para ler alguma coisa deste autor há imenso tempo e estou curiosíssima para ver se realmente é bom! :)


Por último, mandei vir da Amazon, aproveitando a encomenda da prenda para o namorado, estes dois livros:

The Pillars Of The Earth - Ken Follett
"In 12th-century England, the building of a mighty Gothic cathedral signals the dawn of a new age. This majestic creation will bond clergy and kings, knights and peasants together in a story of toil, faith, ambition and rivalry. A sweeping tale of the turbulent middle ages, The Pillars of the Earth is a masterpiece from one of the world's most popular authors."









The Cider House Rules - John Irving
"The reason Homer Wells kept his name was that he came back to St Cloud’s so many times, after so many failed foster homes, that the orphanage was forced to acknowledge Homer’s intention to make St Cloud’s his home.’ Homer Wells’ odyssey begins among the apple orchards of rural Maine. As the oldest unadopted child at St Cloud's orphanage, he strikes up a profound and unusual friendship with Wilbur Larch, the orphanage’s founder - a man of rare compassion and an addiction to ether. What he learns from Wilbur takes him from his early apprenticeship in the orphanage surgery, to an adult life running a cider-making factory and a strange relationship with the wife of his closest friend…"





Não sou de comprar muitos livros, mas gosto de ter opções em casa. É um pouco como levar imensa roupa só para um fim-de-semana fora; sei lá o que me vai apetecer vestir! :p

Boas leituras!

Um Amor Sem Tempo - Carlos Machado

"Após seis anos de ausência, Eduardo regressa à ladeia onde nasceu para vender a propriedade da família, votada ao abandono desde a morte do avô. Estava uma tarde quente, modorrenta, que lhe despertou as memórias das longas tardes douradas da infância e adolescência. «Ia ficar pouco tempo», pensava encostado a uma árvore do carvalhal que bordejava a aldeia. Mas, subitamente, uma sucessão seca de tiros fez reverberar o ar sólido do estio e acabou com a paz daquele dia. Os famosos pombos-correios de Severino Sarmento, o homem mais poderoso da terra, tinham sido traiçoeiramente abatidos. E é, então, que numa atmosfera espessa e perturbada se dá o reencontro de Eduardo com o seu passado e como todos aqueles que o marcaram de forma indelével. Sobretudo Mariana, a bela filha de Severino e o seu grande amor. Partindo deste facto aparentemente inócuo, Carlos Machado, num romance apaixonante, conduz-nos através de uma trama que tem lugar nos tempos agitados do pós-25 de Abril e que nos coloca, sem moralismos, perante fraquezas e grandezas da natureza humana."

Nunca tinha lido nada do Carlos Machado e o que encontrei foi um Engenheiro Electrotécnico que escreve sobre o amor de uma forma que me surpreendeu. Surpreendeu-me ainda mais a riqueza do vocabulário, onde é notória a preocupação de tornar o texto o mais rico possível aproveitando a diversidade da língua portuguesa. Posso ter achado esse esforço às vezes um pouco deslocado mas, fiquei rendida quando ele conseguiu colocar a expressão "eixos da cristalografia" num romance pós-25 de Abril, de uma forma tão natural. ;)

A história em si, não traz nada de muito novo. É sobre um amor que não conhece o significado da palavra tempo, um amor que dura uma vida toda e que resiste às adversidades saindo delas amadurecido e fortalecido. Assim é o amor de Eduardo e Mariana, um amor sem tempo.
Eduardo passava todos os Verões na aldeia, em casa dos avós. Mariana é a filha do homem mais poderoso da aldeia, Severino Sarmento, homem ambicioso e implacável. Mariana cheira a pêssego e frutos silvestres, cheira a Verão e para Eduardo é a sua paixão de Verão ano após ano. Namoram, de forma inocente durante o Verão e separam-se todos os anos com o regresso de Eduardo a Lisboa, onde vive com os pais. Num Verão, Eduardo não regressa, pois com a morte do avô deixou de fazer sentido o regresso à aldeia, como se mais nada o prendesse ao local. Quando seis anos depois, Eduardo volta e reencontra Mariana, encontra uma jovem amargurada e desiludida com a vida. Para Eduardo, mortificado pela culpa de nunca mais ter dado notícias, ela continua a cheirar a Verão e embora tenha medo de o admitir, continua a amá-la da mesma forma. O Eduardo que regressa é um jovem de esquerda, cheio de sonhos e certezas quanto ao futuro do país. No entanto, não se sente preparado para viver com Mariana o amor que sentem um pelo outro e parte novamente, não se permitindo descobrir como cheira Mariana no Outono, no Inverno ou mesmo na Primavera. Resistirá este amor a mais uma separação? É o que poderão descobrir se lerem o livro. Para além disso, vão ainda descobrir, com Eduardo, uma aldeia que pouco mudou desde que ele partiu, uma aldeia por onde a Revolução dos Cravos parece não ter passado pois, quem tinha poder continua a tê-lo e quem obedecia continua a fazê-lo, de forma resignada. Encontrarão também muitas referências históricas, do 25 de Abril e não só, encontrarão algum mistério e intriga, aventura e livros. Sim, porque um Engenheiro que escreve da forma que Carlos Machado escreve só pode gostar muito de livros e de os ler. :)

É um livro interessante, especialmente pela forma como está escrito, onde existe um cuidado na escolha das palavras e na descrição quase poética dos cenários exteriores, bem como na descrição das sensações e lembranças que o protagonista vai vivendo. Gostei da personagem do Eduardo e da sua evolução, sincero e ingénuo no seu regresso à aldeia e, mais terra a terra no final do livro. Gostei do retrato que o autor faz da vida pós-25 de Abril numa aldeia afastada dos grandes centros urbanos, onde se concentrava quase toda a acção política. Gostei também das boas lembranças que me trouxe, porque facilmente a aldeia do livro é a aldeia dos nossos avós onde passamos, em crianças, dos melhores momentos das nossas vidas. E por isso, também foi muito penoso identificar-me com o afastamento que, de forma quase inevitável, acontece quando crescemos. Esta familiaridade que o autor consegue criar tornou a leitura próxima e portadora de um certo aconchego gostoso. :) Esta é uma característica que dificilmente encontro em autores estrangeiros e, é por isso que ler escritores portugueses e histórias portuguesas como esta é por vezes uma necessidade física, porque tudo nos é familiar, coisas que fazem parte da nossa memória colectiva e que provocam um sentimento de pertença que dificilmente vivenciamos com autores estrangeiros.
Por isso, o facto de a história não ser muito original e de por vezes o palavreado ser exagerado e onde facilmente se identificava a formação técnica do autor, não é muito relevante para o sentimento final que fica depois de lermos a última página, que é de que acabei de ler um bom livro escrito de uma forma que me surpreendeu.

Recomendo. ;)

Nota: Obrigada, mais uma vez, ao blogue ...Viajar Pela Leitura..., pela oferta do livro e à Editorial Presença pela disponibilização do livro para oferta e pela rapidez no envio. :)

outubro 20, 2010

Um Estranho em Goa - José Eduardo Agualusa

" Um Estranho em Goa é uma pequena maravilha. Assim entrei em Goa. Este livro mistura a literatura de viagens com uma aventura exótica, uma espécie de mistério que o autor não deslinda mas que lhe serve de ponto de apoio para mover as personagens que enlaçam a Índia e a África com Portugal e o Brasil. Goa, Luanda, Lisboa e o Rio de Janeiro. A Goa de Agualusa, tão bem vista e descrita, tão bonita, e o Brasil dele, ou a melancolia angolana, enlaçam emoções e estabelecem uma pátria espiritual onde todos nós, portugueses da língua, nos reconhecemos. Sem carregar a prosa com pretensa literacite, comovendo sem ornamento, fazendo poesia ao de leve, abraçando a delicadeza e a estranheza do mundo, Agualusa fez-me viajar com palavras. Estou agradecida ao escritor."

Clara Ferreira Alves, Expresso

"Uma das obras mais aclamadas e que serviu de redescoberta literária de Goa a milhares de leitores. Nela o autor angolano José Eduardo Agualusa desvenda, de forma misteriosa e singular, a identidade pós-colonial de Goa. Um livro-chave para compreender a Goa de hoje."

Constantino Hermanns Xavier, SuperGoa


Gosto de José Eduardo Agualusa, embora dele tenha lido muito pouco, dois, três livros com este Um Estranho em Goa. A verdade é que, mesmo tendo lido tão pouco de um autor que já tem uma quantidade considerável de obras publicadas, ele é daqueles que incluo na minha lista de autores favoritos. Parece-me ser muito versátil nos temas que aborda, na maneira como escreve e acima de tudo é um escritor africano que também escreve como um escritor não africano. Foge um pouco ao estereótipo dos escritores africanos. Não sei se me fiz entender, mas sinto que José Eduardo Agualusa escreve como um lusófono e não como africano, português ou brasileiro. Este livro é um bom exemplo dessa multiculturiedade do escritor, que transporta para a exótica Goa o resultado de todas as suas vivências em Portugal, Angola e Brasil.

Em Um Estranho em Goa, Agualusa, como num livro de viagens relata-nos a sua (do narrador) estadia em Goa, onde foi com o objectivo de encontrar Plácido Domingo, ex-comandante do MPLA, ex-agente da PIDE e refugiado em Goa. A busca de Plácido Domingo serve de pretexto para conhecermos a Goa indiana, mas sobretudo a Goa marcada pela presença dos portugueses. A Goa católica, hindu e muçulmana, numa convivência nem sempre pacífica. A Goa multicultural onde o taxista, que acompanha o narrador durante as sua estadia, se chama Sal, diminutivo de Salazar, um grande homem, nas palavras do homónimo taxista. O mesmo taxista que tem uma Nossa Senhora no táxi, católico convicto, descendente de católicos convertidos, e que acha todos os hindus criaturas malignas com as suas divindades meio animais meio humanas e cheias de braços extra. :) A Goa que nunca desejou ser independente e cuja sociedade sempre esteve dividida entre os que desejavam a anexação por parte da Índia e os que preferiam permanecer com Portugal. A Goa turística e hospitaleira com as suas muitas igrejas, templos, feiras de rua, festividades e superstições. A Goa, estado mais pequeno e o mais rico da Índia, da diversidade e das desigualdades. Por fim, a Goa barulhenta, que parece em permanente festa ou permanente protesto, dependendo do ponto de vista, com o seu calor húmido e ar irrespirável onde o narrador sempre se sentiu um estranho, deslocado, como numa espécie de estado hipnótico.

É um livro que vale a pena ler e que me permitiu conhecer um pouco mais de Goa, uma das ex-colónias menos falada mas que, a julgar pelo livro, tem ainda muito de Portugal e onde, aparentemente o ex-coloniador continua a ser recordado com carinho, se bem que nem sempre pelas melhores razões, lembrem-se do taxista Sal. Uma ex-colónia atípica, portanto. :)

Leiam que vale a pena!

outubro 14, 2010

O Rapaz de Olhos Azuis - Joanne Harris

"Ela conhece-o há uma eternidade e, contudo, ela nunca o viu. É como se fosse invisível para a mulher que ama. Mas ele vê-a a ela: o cabelo; a boca; o rosto pequeno e pálido; o casaco vermelho-vivo na neblina matinal, como algo saído de um conto de fadas.
Até agora, ele nunca se apaixonou. Assusta-o um pouco: a intensidade dessa emoção, a maneira como os seus dedos traçam o nome dela, a maneira como tudo, de algum modo, conspira para que ela nunca lhe saia da cabeça...
Ela não sabe de nada, claro. Tem um ar muito inocente, com o seu casaco vermelho e o seu cesto. Mas por vezes os maus não se vestem de preto e por vezes uma menina perdida na floresta é bem capaz de fazer frente ao lobo mau..."

Nem sei bem por onde começar com o mais recente romance da Joanne Harris. Achei o livro, à falta de melhor expressão, estranho. Não é da obras mais bem conseguidas da escritora, e é com pena que o digo, pois acho que a história tinha potencial para ser maior. Na verdade achei este livro um pouco sem sal o que, lendo a sinopse, pode parecer esquisito mas, infelizmente nem sempre a sinopse espelha o livro, isto para o bem e para o mal. Foi o que aconteceu com O Rapaz de Olhos Azuis porque, quando li a sinopse e, conhecendo a escritora como conheço, fiquei a salivar por algo que depois não foi propriamente concretizado. Não vou dizer que não gostei, porque o livro tem alguns pontos muito positivos, mas que estava à espera de mais, isso estava. :)

Este é um daqueles livros em que o mais pequeno deslize da minha parte pode arruinar a história para quem ainda não o leu ou está a lê-lo, por isso, sobre a história não me vou alongar muito.
O Rapaz de Olhos Azuis está escrito ao estilo de um blogue, o webjournal, onde a personagem principal, o blueeyedboy criou um grupo denominado badguysrocks, onde publica as suas histórias. Uns são posts públicos, outros são restritos, uma espécie de diário online. Blueeydeboy descreve-se a si próprio como um homem de 42 anos que vive com a mãe, uma mulher possessiva, violenta e manipulativa. Vive na Internet, mais precisamente no webjournal onde descreve os homicídios (ficcionados ou reais?) que já cometeu, todos eles de pessoas que fizeram, de uma forma ou de outra, parte do seu passado e do da sua família, os dois irmãos e a estranha mãe.
A história que blueeyedboy nos conta está repleta de cor, sabores e cheiros, que raramente são agradáveis. Isto porque blueeyedboy é aquilo a que se chama um sinestésico, as palavras para ele têm uma cor, cheiro e por vezes sabor. Vê e vive o mundo de maneira diferente, o que lhe dificultou a vida na infância e contribuiu para que se tornasse num adulto, socialmente inadaptado, sem amigos e com uma relação com a mãe que tenho alguma dificuldade em classificar. É uma relação de ódio, de dependência e de medo. Percebemos desde o início que quer matá-la e desconfiamos que tudo o que vai fazendo ao longo do livro faz parte do plano que traçou para que finalmente se possa ver livre da mãe. Irá consegui-lo? Veremos se tudo é como parece à primeira vista. Ou se, como na Internet, as coisas nem sempre são o que aparentam.
Existem obviamente outras personagens, como a rapariga que é referida na sinopse, mas falar delas é perigoso porque pode revelar pormenores e dar dicas involuntárias que revelem demais.
Quanto à história propriamente dita fico-me por aqui.

Pontos positivos do livro:
- É um livro da Joanne Harris menos inspirado mas, não deixa de ser um livro diferente, com personagens atípicas e imperfeitas, com histórias de vida bizarras.
- Mais uma vez temos um livro que apela aos nossos sentidos. Está cheio de cor e de cheiros.
- É um livro que prende e que surpreende. A Joanne Harris aguça-nos a curiosidade e quando as peças vão encaixando nos seus devidos lugares vamos tendo aquela sensação de "aaahhhh! Então era por isso que....". E as peças encaixam muito bem umas nas outras. Nisso o livro é muito bom, as pistas estão lá, mas de uma forma tão natural que só quando as revelações são feitas é que nos lembramos daquela passagem, alguns capítulos atrás.
- O livro passou-me uma sensação de irrealidade que, julgo ter sido propositada, uma vez que fala daquela faceta da Internet em que todos nós podemos ser e dizer o que quisermos, sem grandes consequências. Essa irrealidade e liberdade que a Internet permite está impregnada no livro, sentimo-la como se estivéssemos nós próprios num mundo virtual onde as leis da física fossem diferentes. Mérito da escritora, mais uma vez.

No entanto, com este livro houve coisas que, para mim, não correram tão bem assim:
- Começo por dizer que a estrutura, em género de blogue, para mim não funcionou. Não me consegui habituar à forma como a escritora nos vai contando a história, achei que tornou tudo um pouco confuso e mais impessoal. Não sei se foi intencional mas, intencional ou não, não gostei, principalmente dos comentários dos seguidores do blueeyedboy. Irritavam-me... não há grande coisa que possa fazer quanto a isso... :)
- Ao contrário do que costuma acontecer com os outros livros da Joanne Harris, as personagens deste livro não me cativaram, não criei qualquer empatia com elas. Não sei se foi por a história ser tão estranha e irreal ou porque está contada da maneira que está mas, a verdade é que nem por um momento eu deixei de ter a noção de que estava a ler um livro. Ou seja, não houve aquele transportar para dentro do livro e que nos permite viver a história quase como se fosse nossa. Não achei, nem a história nem as personagens credíveis.
- As descrições dos supostos homicídios são pouco empolgantes e, de certa forma, pueris. A escritora é capaz de muito melhor, que eu sei. :)

Resumindo e baralhando, de uma forma geral, gostei do livro mas estava à espera de mais. Se calhar o mais correcto será dizer que estava à espera de outra coisa, porque tanto a sinopse como o primeiro capitulo pareciam apontar noutra direcção.

Com este não aconselho ou deixo de aconselhar, porque Joanne Harris não é unânime e tenho a certeza de que há pessoas que gostaram imenso do livro. Experimentem e logo verão. :)

Boas leituras!

Prenda do ...Viajar Pela Leitura...

Já chegou o livro que me calhou em sorte no sorteio que a Paula do ...Viajar Pela Leitura... fez aquando do 2º aniversário do blogue. Receber livros é sempre bom. Recebe-los quando não estamos à espera, porque nada fizemos para os ganhar, é ainda melhor. :)

O livro é Um Amor Sem Tempo do Carlos Machado. Não conheço este escritor, mas a história parece-me bastante apelativa e é uma excelente oportunidade para conhecer um autor português de quem nunca ouvi falar.

Assim que ler o livro publicarei aqui a minha opinião sobre ele.

Mais uma vez agradeço ao ...Viajar Pela Leitura... pelo presente e aproveito para, publicamente, dar os Parabéns à Paula pelo excelente trabalho que faz no Viajar. É uma referência incontornável no mundo dos blogues literários. :)

Boas leituras!

outubro 02, 2010

Lançamento: "A Última Noite em Twisted River" de John Irving

E eis que vai ser lançado, pela Civilização em Outubro, o mais recente livro do John Irving, A Última Noite em Twisted River.

Não é segredo que gosto muito do John Irving, considero-o um dos meus favoritos e ver o último livro dele editado e traduzido é algo que me deixa muito contente. Estou em pulgas para poder comprá-lo e lê-lo. Os livros dele são sempre uma lufada de ar fresco. Adoro!!!! ;)

Boas leituras.