"Na Barcelona turbulenta dos anos 20, um jovem escritor obcecado com um amor impossível recebe de um misterioso editor a proposta para escrever um livro como nunca existiu a troco de uma fortuna e, talvez, muito mais. Com deslumbrante estilo e impecável precisão narrativa, o autor de A Sombra do Vento transporta-nos de novo para a Barcelona do Cemitério dos Livros Esquecidos, para nos oferecer uma aventura de intriga, romance e tragédia, através de um labirinto de segredos onde o fascínio pelos livros, a paixão e a amizade se conjugam num relato magistral."
Não sei bem o que dizer acerca deste livro. O que normalmente até é uma coisa boa, neste caso não é bem assim. Não sei o que dizer porque cheguei ao fim do livro sem qualquer nota mental acerca das coisas que gostaria de destacar ou que gostaria de não esquecer.
É claro que posso falar da história, posso até destacar uma ou outra passagem mas, a realidade é que o livro me pareceu... demasiado normal. Fui passando as páginas com algum interesse, mas ao mesmo tempo sentia que nada do que lia iria ganhar raízes na minha memória.
O livro lê-se bem, a escrita é fluída, a história é intrigante, as personagens criam alguma empatia com o leitor mas, não sabendo precisar o porquê, senti sempre alguma distância da minha parte relativamente ao que lia. Não sei se é por achar, como já tinha acontecido com o
A Sombra do Vento (a minha opinião
aqui), que as personagens e as suas acções não são credíveis, o tom dos diálogos e as expressões usadas pareceram-me muitas vezes inadequados para a época retratada e a linguagem pareceu-me dirigida a um público mais novo. No entanto, nas descrições a linguagem que
Carlos Ruiz Zafón utiliza é extremamente rica e bem conseguida. É nos diálogos e na interacção das personagens que sinto alguma imaturidade e daí a sensação de que se dirige a um público mais jovem.
Acho que o autor se perdeu um pouco no final, não sabendo como por um ponto final e justificar todas as suspeitas que vai criando no leitor. Confesso que acabei por não perceber muito bem o objectivo de todo aquele desfilar de mortes violentas e de todas aquelas fugas e regressos de Daniel Martín, o protagonista. Não percebi bem o que, ou quem, era Corelli, o editor misterioso de Martín, e o final pareceu-me despropositado... :/
Enfim, não vale a pena continuar a dissertar sobre a estranheza que os livros de Carlos Ruiz Zafón me provocam. Até porque, não posso dizer que não gostei do livro, só não o achei nada de extraordinário. E isto é algo que me custa admitir, porque sei que este é um autor que tem seguidores acérrimos que defendem os seus livros com unhas e dentes. Sinto com Carlos Ruiz Zafón o mesmo que sinto por não conseguir apreciar Ernest Hemingway, simplesmente não percebo o que prende tanto os leitores... Falha minha? Provavelmente... :)
Mas, deixemos para trás os sentimentos menos positivos que este livro me despertou e vamos falar das coisas boas que, tanto neste
O Jogo do Anjo, como no
A Sombra do Vento, se podem encontrar! :)
Acho que um dos pontos mais positivos deste livro é a capacidade que o autor tem em criar ambientes sinistros, opressivos e soturnos. Não só Barcelona me parece assustadora como qualquer outro ambiente descrito no livro é arrepiante, quer seja uma rua, quer seja uma casa, ou simplesmente um sombra. Foi uma das coisas que mais gostei, neste livro e que é comum ao
A Sombra do Vento.
Foi bom regressar ao Cemitério dos Livros Esquecidos e à familiar livraria dos Sempere, desta vez com o avô e o pai de Daniel Sempere, o jovem protagonista do
A Sombra do Vento, à frente do negócio. Mais uma vez, gostei muito do Sempere pai, deste livro. E achei curioso conhecer um pouco da vida do pai de Daniel Sempere, por ter sido uma das personagens que mais gostei no
A Sombra do Vento.
No início achei Daniel Martín, o protagonista deste livro, cativante mas, dei por mim, a páginas tantas, a achar que ele tinha perdido qualquer coisa pelo caminho. A determinada altura houve uma mudança demasiado brusca na sua personalidade que, na minha opinião o descaracterizou e me fez perder algum interesse por ele. Senti alguma confusão e, por momentos, pensei que tinha baralhado nomes,e que estava a confundi-lo com outra personagem. Curiosamente, acho que é com os protagonistas, que Carlos Ruiz Zafón tem mais dificuldade, sendo as personagens secundárias mais interessantes. Nisso, e em finalizar a história de forma mais ou menos coerente, sem que se fique com a sensação de que teve de acabar tudo à pressa por falta de tempo ou perda de inspiração... :/
Não vou falar da história propriamente dita porque acho que é um daqueles casos em que, ou contamos tudo ou o pouco que desvendamos parece insignificante e pouco apelativo. É uma história misteriosa que me manteve intrigada ao longo de quase todo o livro. Digo quase todo o livro, porque a revelação dos segredos não é tão bem conseguida como a montagem de toda aquela "conspiração".
Concluindo e baralhando: achei o livro banal, talvez porque é, na minha opinião, muito parecido com o
A Sombra do Vento e, daí pouco original. Aliás o facto de o livro ser referido tantas vezes nesta minha opinião é sintomático das similaridades que fui encontrando ao longo da leitura. Se eu tivesse gostado mais do
A Sombra do Vento, do que gostei na realidade, talvez me tivesse sabido bem regressar aos lugares e às personagens aí retratadas, como não foi esse o caso, achei o regresso um pouco cansativo.
Embora para mim tenha sido uma leitura pouco memorável, não posso deixar de o recomendar porque tenho perfeita consciência que a minha dificuldade com os livros de Carlos Ruiz Zafón é a mesma que tenho com Ernest Hemingway, não me identifico com a escrita nem com a forma que têm de contar uma história. É apenas e só uma questão de gosto pessoal e nada mais, por isso, leiam e quase de certeza que vão gostar. :)
Boas leituras!
Excerto:
"O táxi subia lentamente até aos confins do bairro de Gracia, em direcção ao solitário e sombrio recinto do Park Güell. A colina estava pontilhada de casarões que já tinham visto melhores dias assomar no meio de um arvoredo que se agitava ao vento como água negra. Vislumbrei no alto da ladeira a grande porta do recinto. (...) Esquecido e abandonado, o jardim de colunas e torres fazia agora lembrar um éden maldito. Fiz sinal ao motorista para que parasse diante do gradeamento da entrada e paguei-lhe a corrida.
- O senhor tem a certeza de que quer sair aqui? - perguntou o motorista, com o credo na boca. - Se quiser, posso esperar uns minutos por si...
- Não é preciso.
O ruído do táxi perdeu-se colina abaixo e fiquei sozinho com o eco do vento entre as árvores. As folhas caídas arrastavam-se à entrada do parque e redemoinhavam aos meus pés."