Título original: A Storm of Swords (part 1)
Ano da edição original: 2000
Autor: George R. R. Martin
Tradução: Jorge Candeias
Editora: Saída de Emergência
"Os Sete Reinos estremecem quando os terríveis selvagens do lado de lá da Muralha se aproximam, numa maré interminável de homens, gigantes e terríveis bestas. Jon Snow, o Bastardo de Winterfell, encontra-se entre eles, debatendo-se com a sua consciência e o papel que é forçado a desempenhar.
Todo o território continua a ferro e fogo. Robb Stark, o Jovem Lobo, vence todas as batalhas, mas será ele capaz de vencer as mais subtis, que não se travam pela espada? A sua irmã Arya continua em fuga e procura chegar a Correrrio, mas mesmo alguém tão desembaraçado como ela terá dificuldade em ultrapassar os obstáculos que se aproximam.
Na corte de Joffrey, em Porto Real, Tyrion luta pela vida, depois de ter sido gravemente ferido na Batalha da Água Negra, e Sansa, livre do compromisso como o rapaz cruel que ocupa o Trono de Ferro, tem de lidar com as consequências de ser segunda na linha de sucessão de Winterfell, uma vez que Bran e Rickon se julgam mortos.
No Leste, Daenerys Targaryen navega na direcção das terras da sua infância, mas antes terá de aportar às cidades dos esclavagistas, que despreza. Mas a menina indefesa transformou-se numa mulher poderosa. Quem sabe quanto tempo falta para se transformar numa conquistadora impiedosa?"
*Pode conter spoilers*
Esta primeira parte do terceiro volume (5º da Saída de Emergência) das
Crónicas de Gelo e Fogo, é muito boa! Todas as personagens importantes parecem cada vez mais perdidas, presas a situações para as quais não encontram saída. E começa-se a adivinhar um rumo que me parece promissor, com Daenerys Targaryen, a Mãe dos Dragões, a ganhar importância e com os Selvagens a trazerem um novo ponto de vista sobre os Sete Reinos e sobre as infindáveis batalhas que os assolam. É impressionante a capacidade de
George R. R. Martin para conseguir renovar a história e mantê-la empolgante.
Resumindo, neste 5º volume, temos Porto Real a gozar a estrondosa vitória na Batalha da Água Negra que praticamente dizimou o exército de Stannis Baratheon, que recuou para lamber as feridas e congeminar o próximo ataque com a ajuda de Melisandre, a Mulher de Vermelho. Esta é uma das personagens que nos volumes anteriores me pareceu detestável e extremamente perigosa mas que, neste volume, depois de algumas explicações sobre o que a move, embora continue a ser muito dúbia, acabei a simpatizar um pouco com ela. ;)
Tyrion a recuperar de uma tentativa de assassinato que o deixou desfigurado e às portas da morte, tenta perceber qual será o seu papel agora que o pai, Tywin assumiu o cargo de Mão do Rei. É um Tyrion meio perdido e sem grande capacidade de manter a sua inusitada inteligência ao serviço do reino (seja qual for o rei que acabará por favorecer) que encontramos neste volume. Ele acaba mesmo por ser o protagonista, forçado, de um dos acontecimentos que mais me surpreendeu... O que irá resultar daquela união tão improvável? ;)
Arya continua a sua interminável viagem de regresso a Correrrio, na companhia de Gendry e Tarte-Quente. Mas é mais do que óbvio que nem tudo vai correr como ela esperava. Continua a ser uma miúda surpreendente e muito divertida. Por muito forte que seja, só queremos que volte para junto da mãe, antes que seja tarde demais. É de partir o coração o desgosto de Catelyn que acredita ter perdido Bran e Rickon, que não sabe se Arya está viva ou morta, que tem Robb a arriscar a vida nos campos de batalha e Sansa refém dos Lannister. Queremos muito que descubra de uma vez por todas que, com Arya não tem de se preocupar e que os seus filhos mais novos estão vivos... É tamanho o desespero que surpreende todos quando liberta Jaime Lannister das masmorras de Correrrio, para que Brienne o leve até Porto Real como moeda de troca pelas filhas que os Lannister supostamente mantêm cativas.
Este volume mostra-nos um Jaime Lannister que continua a ser detestável mas, ao mesmo tempos mais digno de pena. Compreendemos melhor algumas das suas atitudes e personalidade. É provável que venha a ser uma peça muito importante no desenrolar dos acontecimentos e pode ser que faça pender a balança para o lado menos provável.
É por causa de Arya que vamos conhecer um grupo de foras-da-lei, uma espécie de exército rebelde, que luta, não por nenhum dos candidatos ao Trono de Ferro, mas pela união do reino, pelo povo a morrer de fome e violentado, e por um reino mais justo. E é esta ideia de uma alternativa à lei estabelecida, da sucessão de reis e de batalhas pelo poder, que parece insinuar-se em mais do que uma das vertentes da história, que torna este livro intrigante e abre uma série de possibilidades para o futuro da história.
Para lá da Muralha, a Patrulha da Noite enfrenta um dos seus maiores desafios. Irão conseguir travar a marcha dos Selvagens até à Muralha de Gelo? Serão os Selvagens a verdadeira ameaça? As respostas que obtêm não terão tido um custo demasiado elevado?
Jon Snow, infiltrado entre os Selvagens, dá-nos a conhecer um lado que nos outros livros sempre foi tocado muito ao de leve. O Povo Livre pode até ser selvagem e violento, mas tem uma forma de pensar que faz Snow questionar a sua fidelidade para com a Patrulha da Noite e os Sete Reinos.
Gostei particularmente dos capítulos de Jon Snow por me permitir conhecer a perspectiva dos Selvagens, os que ficaram do outro da Muralha de Gelo, quando foram instituídos os Sete Reinos.
Por último, a história de Daenerys começa finalmente a desenvolver-se. A Mãe dos Dragões inicia o seu tão ansiado regresso a Westeros para reconquistar um trono que acredita ser seu por direito. Daenerys não é uma mulher normal e só George R. R. Martin sabe (ou não) o que o futuro lhe reserva. Adivinha-se um caminho difícil na sua ascensão ao Trono de Ferro, que acredito vai ser seu. Conto que a sua luta seja épica e gloriosa! Gosto dela... ;)
Enfim, acho que até agora este foi o volume que mais gostei de ler. Só não vou pegar no 6º volume porque, para além de ter de o reservar na biblioteca, queria mesmo retomar a leitura do Pillars
of the Earth que tive de interromper. Uma grande obra de cada vez... É melhor não dispersar mais a minha, cada vez menor capacidade de concentração! :)
Recomendo este e toda a saga até ao momento! Boas leituras!
Excerto:
"Mas se parasse, morria. Sabia-o. Todos o sabiam, os poucos que restavam. Tinham sido cinquenta quando fugiram do Punho, talvez mais, mas alguns haviam.se perdido na neve, alguns dos feridos tinham sangrado até à morte... e por vezes Sam ouvia gritos atrás de si, vindos da retaguarda, e uma vez ouvira um berro horrível. Quando ouvira aquilo, correra, vinte ou trinta metros, tanto e tão depressa como fora capaz, levantando neve com os pés meio congelados. Ainda estaria a correr se as suas pernas fossem mais fortes. Eles estão atrás de nós, eles ainda estão atrás de nós, estão a levar-nos um por um."