julho 15, 2010

[ebook] Dom Casmurro - Machado de Assis

Não vou colocar sinopse porque as que estão nas diversas edições deste livro são escandalosamente reveladoras da história. Tamanha indiscrição, não matando a história tira-lhe parte do encanto. Feito o esclarecimento, passemos ao livro.

Dom Casmurro é a a alcunha que Bentinho Santiago recebe de um desconhecido e que é adoptada de imediato pelos seus conhecidos, por ser introspectivo e solitário. Bentinho, filho único de Dona Glória, estava destinado à vida eclesiástica. Seria padre porque a mãe assim o tinha prometido aquando do seu nascimento, como reconhecimento a Deus por finalmente conseguir levar uma gravidez a bom termo. Bentinho cresce mimado pela mãe, que o venera e protege de tudo. Com eles viviam também o Tio Cosme, irmão da mãe, a Prima Justina e João Dias, amigo e conselheiro da família. Bentinho é uma criança de imaginação fértil, mimado por todos que se torna num adulto de certa forma infantil e pouco determinado.
Capitu, vizinha dos Santiago, era a única companheira de brincadeiras de Bentinho. Cresceram juntos, inseparáveis nas suas brincadeiras. Até ao dia em que Bentinho vê aproximar-se o dia em que terá de entrar no seminário e assim cumprir a promessa que a mãe fez. Bentinho não deseja ser padre, não sente vocação, muito menos agora que descobriu sentir por Capitu mais do que amizade. Descobriu-se a encontrar nela encantos antes inexistentes. Ama-a, do alto dos seus 15 anos, com a intensidade do primeiro amor que, ainda por cima, é correspondido. Obediente e submisso à mãe, aflige-se por não saber como fugir a este destino sem desgostar a mãe, que venera e ama incondicionalmente. O que acontecerá a Bentinho e Capitu? Ficarão juntos ou Bentinho acabará a presidir ao casamento de Capitu com outro homem e a baptizar o seu primeiro filho? A estas questões não dou resposta, terão de ler, porque não me atrevo a contar mais nada. Gostei da expectativa e apreensão que senti enquanto lia o livro e por isso não vos vou roubar esse gostinho. :) Só vos posso dizer que o final vale bem cada minuto gasto na leitura deste livro surpreendente. :) E quanto à história fico-me por aqui, acrescentando apenas que a história é narrada pelo próprio Bentinho, muito mais velho e a viver numa casa igualzinha à casa da sua infância. Estará Capitu com ele? Leiam e logo verão! :)

Primeira palavra que me ocorre quando li as últimas palavras foi: Adorei! Gostei da escrita, gostei da história e da forma como ela é contada, gostei das personagens, sobre as quais nunca temos certezas pois são, na narração que Bentinho faz, inocentes e puras mas com um ou outro pormenor que as torna de repente ambíguas, com segundas intenções. Gostei, especialmente da contemporaneidade que encontrei na escrita. Esperava encontrar os floreados típicos do século XIX mas, ou no Brasil a tendência não era a mesma ou Machado de Assis foi pioneiro. A escrita é fluída, limpa e muito eficaz na mensagem que pretende passar. Se não soubesse que estava a ler uma obra publicada nos finais do século XIX, em 1899, não ficaria surpreendida se descobrisse ter sido escrita o ano passado. :) Este é daqueles que vou querer ter na minha estante para poder reler um dia.

Gostei muito e recomendo!

Nota: Existe um filme baseado na história do livro de Machado de Assis, chama-se "Dom" (trailer aqui) e é realizado por Moacyr Goés. Pelo trailer, sinceramente não me parece lá grande coisa... Existe ainda uma minisérie, "Capitu" (trailers aqui), produzida pela Globo, que me parece mais fiel ao livro.

5 comentários:

  1. Gostei da tua opinião! Convincente, nada reveladora e suscitando a curiosidade! ;)
    Sabia que ias adorar, pois eu quando o terminei fiquei com a mesma sensação! Não o tirei da prateleira não imaginava que iria surpreender-me com uma história tão deliciosa! :)

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  2. Adorei! E acho que adorei também porque fui para o livro sem saber nada sobre a história. A minha curiosidade foi sendo espicaçada ao longo de todo o livro, o que é óptimo! :)

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  3. De Machado de Assis já li 2 livros, este e "As Memórias Póstumas de Brás Cubas" e gostei de ambos. Gosto do estilo de escrita que ele adoptou, em que parece que Machado de Assis quer interagir com os seus leitores, leva-los a pensar em certas situações ou conceitos.

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  4. Sinto-me feliz por ver que leem-se os brasileiros fora daqui do Brasil. Machado de Assis é um dos maiores nomes da nossa literatura e realmente foi pioneiro - na maneira como comunica-se com o leitor, de maneira a fazê-lo de bobo: parece querer que pare de ler quando, na verdade, o faz não conseguir largar o livro, o que fica bem claro no "Memórias Póstumas de Brás Cubas", o meu livro preferido dele. O capítulo "o delírio", desse último, está entre as melhores coisas que já li na vida. Leiam também Quincas Borba.

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  5. Olá Jayane. Não tenho ideia se se lê muitos autores brasileiros em Portugal. No meu caso, comecei agora a descobri-los e o Machado de Assis foi uma surpresa muito boa! Gostei imenso do Dom Casmurro e, todos os outros dele, publicados em Portugal, estão na minha lista de livros a ler.

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