"Quantas Madrugadas Tem a Noite está destinado a ser um marco na literatura angolana e na literatura de língua portuguesa em geral. Com uma extraordinária mestria narrativa, Ondjaki conta aqui uma história em que não se sabe o que admirar mais, se a fulgurante imaginação do autor, se a sua capacidade para a criação de tipos e situações carregados de significado, se a sua capacidade para elevar a linguagem coloquial a um altíssimo nível literário. O humor, a farsa, o lirismo, a tragédia, o horror, todos estes sentimentos são aqui convocados e expostos, com a fluência de quem conta, simplesmente uma história, na Luanda dos dias de hoje."
Foi por causa do nome que comecei a olhar para os livros deste escritor angolano, Ondjaki, tem uma sonoridade exótica, que me transporta para sítios desconhecidos, cheios de cor, música e aromas fortes. Não faço ideia o que quer dizer Ondjaki e porque é que o jovem (surpreendentemente jovem) escritor angolano, Nadlu de Almeida o escolheu para seu pseudónimo literário, o que sei é que gosto do nome e, agora que li o que escreve, também gosto do escritor. :)
Quantas Madrugadas Tem a Noite não é um livro fácil de ler. Apercebi-me enquanto o lia que o contacto que tive com a literatura lusófona e africana, basicamente Pepetela, Mia Couto e José Eduardo Agualusa, não me preparou para esta escrita tão intrinsecamente africana. Durante todo o livro vi-me forçada a consultar o glossário presente no fim do livro para perceber o que todas aquelas palavras significavam. Para além desses termos angolanos, que estão presentes em todo o livro, este está escrito numa linguagem muito oral, muito coloquial, propositadamente com erros ortográficos e gramaticais, o que torna a leitura, no inicio, um pouco difícil. No entanto, à medida que vamos entrando na história, a linguagem deixa de incomodar e conseguimos apreciar a beleza das palavras e das ideias. A beleza do mundo fantástico para onde Ondjaki nos leva e onde nos apresenta os protagonistas improváveis e caricatos desta história. Temos anão BurkinaFaçam, um homem de bom coração que vive dos típicos esquemas, sempre rodeado por duas prostitutas, Eva e Madalena. Temos o Jaí, um albino que é professor por vocação, honesto até à raiz dos seus cabelos amarelos. Temos Adolfodido (assim mesmo como está escrito), antigo combatente sem idade para combater, cuja morte põe o país em polvorosa, uma vez que, não se consegue decidir quem irá ser a primeira viúva do estado, se DonaDivina (ex-mulher) ou KiBebucha (actual companheira). Adolfodido nem na morte deixa de fazer jus ao nome de fodido. :) Temos a KotaDasAbelhas, que matou a abelha rainha e foi promovida a rainha da colmeia, comandando as abelhas no fabrico do melhor mel que já se provou. Com ela vive um cão, perdão, com ela vive O Cão. Um ser assustadoramente grande, que ocupa a melhor divisão da casa e que a KotaDasAbelhas serve. Todos o temem e ninguém sabe que criatura é e de onde veio, talvez do Inferno? Não sei. :)
Em troca de birras (cervejas) um homem, com uma sede que parece infinita, num qualquer bar de Luanda, conta esta história a um outro homem, pela noite fora até surgirem os primeiros sinais da madrugada: Num tenho dinheiro, num vale a pena te baldar. Mas, epá, vamos só desequilibrar umas birras; sentas aí, nas calmas, eu te pago em estória, isso mesmo, uma pura estória daquelas com peso de antigamente, nada de invencionices de baixa categoria, estorietas, coisas dos artistas: pura verdade, só acontecimentos factuais mesmo.
Não sei como são os outros livros de Ondjaki, mas sobre este só tenho coisas boas para dizer: é divertido, cheio de passagens inspiradas e inspiradoras e está muito bem escrito, ou melhor, a história está muito bem contada. Parece-me que ele consegue prender muito bem nas palavras o espírito luandense e é inevitável ficar rendida a toda a mística, que aparentemente só os escritores africanos parecem conseguir passar para o papel. Gostei muito e recomendo. :)
Tenho este na minha mesinha de cabeceira à espera de vez.
ResponderEliminarEstou cada vez mais curioso! :)
Confesso que de início fiquei preocupada pela dificuldade que senti em entrar na escrita. Ultrapassado esse obstáculo, o livro revelou-se muito bom. :)
ResponderEliminarTenho este também aqui na prateleira por ler. O primeiro que li dele "O Assobiador" gostei bastante e fiquei com aquele bichinho para conhecer muito mais da escrita de Ondjaki. :)
ResponderEliminarTenho este na minha minha listinha de espera, ainda não li nada deste escritor mas confesso que me fiquei curiosa.
ResponderEliminarBoas atmosferas. ;)
Realmente o livro é muito confusso, mas espero através dessa luz que vc nos deu, essa leitura se torne mais prazerosa. Obrigado!
ResponderEliminarAllê Santos: É confuso, mas se conseguir entrar no ritmo da narrativa, o livro acaba por ser muito bom. :)
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