fevereiro 16, 2011

Crónica de Uma Morte Anunciada - Gabriel García Márquez

Título original: Crónica de Una Muerte Anunciada
Ano da edição original: 1981
Autor: Gabriel García Márquez
Tradução: Fernando Assis Pacheco
Editora: Colecção Biblioteca Sábado

"Esta é a história de um assassinato numa pequena localidade colombiana, próxima da costa caribenha, cuja única ligação com o exterior é um rio. Toda a localidade celebra o casamento de Bayardo San Róman, rico e recém-chegado, com Ángela Vicario. Mas Bayardo descobre que a sua esposa não é virgem e devolve-a à casa dos pais. Ángela acusa Santiago Nasar, um rico jovem de origem árabe. Obrigados pela defesa da honra familiar, os irmãos de Ángela anunciam aos quatro ventos a sua determinação de acabar com a vida de Santiago. Todos os habitantes da localidade conhecem as intenções dos dois irmãos menos o interessado, e ninguém faz ou pode fazer nada para evitar o desenlace trágico... Passados mais de vinte anos, um cronista reconstrói passo a passo os acontecimentos."

Estive tempo demais sem ler Gabriel García Márquez e isso não pode voltar a acontecer! :)

Crónica de Uma Morte Anunciada é isso mesmo: a crónica de uma morte mais que anunciada, a morte de Santiago Nasar. Acusado de ser o responsável pela desonra de Ángela Vicario, os irmãos desta, Pablo e Pedro Vicario, não encontram outra alternativa senão matar o jovem Santiago, para limpar a honra da irmã, devolvida na noite de núpcias por Bayardo San Róman, por não ser virgem.
Não existem dúvidas ao longo de todo o livro que Santiago irá morrer, o autor/narrador inicia o 1º capítulo desta forma: "No dia em que iam matá-lo, Santiago Nasar levantou-se às 5:30 da manhã para esperar o barco em que chegava o bispo." e termina o capítulo dizendo "Já o mataram." Não existem dúvidas de que estas serão as últimas horas de vida de Santiago. Então o que nos faz continuar a ler um livro do qual já sabemos o fim? Primeiro queremos saber o que fez um jovem de 21 anos, rico e bem-parecido para que o queiram matar, depois queremos saber como é que vai ser morto (um pouco mórbido, eu sei), por último, o que queremos mesmo descobrir é como é que raio toda a gente sabia menos ele! A escrita de García Márquez ajuda a que o relato nos vá prendendo e a verdade é que este livro se lê de uma assentada, e não é só por ser pequeno. É quase como se não quiséssemos adiar a leitura, porque era como adiar a morte de Santiago Nasar e que sentido existe em adiar um acontecimento que é tão certo como... a morte?

Mais de vinte anos depois de Santiago Nasar ter sido brutalmente assassinado pelos irmãos Vicario, o narrador/autor procura reconstituir as últimas horas de vida do então amigo. Através das conversas com os habitantes da aldeia e com as pessoas mais próximas da vítima e carrascos, vamos descobrindo uma história feita de coincidências difíceis de acreditar. Toda a gente sabia que Pablo e Pedro queriam matar Santiago, pois não fizeram disso um segredo, fizeram até questão de o dizer a todos os que com eles se cruzavam, talvez esperançados de que alguém os impedisse. Toda a gente sabia, uns não acreditaram na coragem dos irmãos para levar até ao fim a ameaça, outros sabiam e nada fizeram porque intimamente queriam a morte de Santiago, outros sabiam mas nada conseguiram fazer para impedir a tragédia e por fim, muitos simplesmente não conceberam que Santiago não soubesse; como é possível que não soubesse que tinha a cabeça a prémio? Bem, tanto é possível que o foi. Talvez tenha morrido sem sequer perceber porquê, uma vez que provavelmente nem sequer era ele o homem que desflorou Ángela Vicario. A justiça popular tem destas particularidades e a defesa da honra não se faz com perguntas, faz-se agindo.

É um livro que me deu gozo ler. É um relato por vezes desapaixonado e conciso, onde não há um desenvolvimento das diversas personagens que nele vão aparecendo mas estão lá os elementos que tornam os livros de García Márquez obras tão especiais: a fantasia e o irreal narrado como se real fosse, com as intuições e as situações bizarras, a crítica social e as personagens estranhas. Para além disso, a escrita de García Márquez é muito boa, acho que até uma lista de compras ele seria capaz de tornar interessante. :p

Por todas as razões e mais algumas, é um livro que recomendo.

Boas leituras!

Excerto:
"Ninguém tinha a certeza de ele se referir ao estado do tempo. Muita gente coincidia na recordação de que era uma manhã radiante com uma brisa marinha que chegava por entre os bananais, como era de admitir que assim fosse num bom Fevereiro daquela época. Mas a maioria estava de acordo em que fazia um tempo fúnebre, com um céu turvo e baixo e um cheiro intenso a águas paradas, e que no preciso instante da desgraça caía uma chuva miúda como a que Santiago vira no bosque do sonho."

12 comentários:

  1. Já o li há alguns anos. Na altura pareceu-me terrivelmente triste para a mãe, a forma como o filho morria.
    Gostei muito mais de O Amor em tempo de Cólera.

    beijinho

    Gábi

    ResponderEliminar
  2. Redonda: Tens razão a forma como ele morre é terrível. Gostei deste livro, mas sem dúvida que também gostei muito mais do O Amor nos Tempos da Cólera e o Cem Anos de Solidão. Obras imperdíveis. :)

    ResponderEliminar
  3. Este é um dos livros de Marquez que ainda não li. Já anotei; a tua opinião fez-me lembrar esta lacuna. E tenho a certeza que vou gostar tanto como tu.

    ResponderEliminar
  4. Manuel Cardoso: É impossível não gostar dos livros de GGM e este é um exemplo disso. História simples, escrita de forma simples mas que funciona muito bem. :)

    ResponderEliminar
  5. Sim também concordo, vale a pena a leitura.
    O livro tem passagens fascinantes, mas para mim, a melhor é o facto de, além de toda as pessoas na aldeia saberem das intenções dos irmãos Buendia, ninguém avisar Santiago Nasal que ía ser assassinado.

    ResponderEliminar
  6. GGM-é para ler e chorar por mais. Já leram A HISTÓRIA DE UM NÁUFRAGO? pois não percam, aliás não percam nenhum dele, é absolutamente imperdível.

    ResponderEliminar
  7. SEVE: A História de um Náufrago é um pequeno tesouro do GGM, absolutamente imperdível, tem toda a razão.

    ResponderEliminar
  8. Como grande fã que sou da obra de Gabo, este é sem dúvida das melhores obras dele. A seguir ao "Cem anos de solidão", expoente máximo da literatura e o meu livro preferido, gostaria de ter aqui a sua critica/opinião sobre o mesmo.
    Mais uma vez parabens. Já sigo e já guardei nos meus favoritos este blog encantador q descobri hoje.

    ResponderEliminar
  9. Leninha: Obrigada pelos comentários tão simpáticos. :)
    Tenho planeado reler os Cem Anos de Solidão e, nessa altura, se o Quero Um Livro ainda existir, partilharei a minha opinião, que só poderá ser boa! Gosto muito de Gabriel Garcia Márquez!

    ResponderEliminar
  10. Preciso de fazer um trabalho, uso este resumo???????????????

    ResponderEliminar