Título original: Cold Spring Harbor
Ano da edição original: 1986
Autor: Richard Yates
Tradução: Nuno Guerreiro Josué
Editora: Quetzal Editores (Círculo de Leitores)
"Cold Spring Harbor é um subúrbio tradicional de Nova Iorque, o pano de fundo de um retrato da América dos anos quarenta, na ressaca de uma guerra e sob a ameaça de outra. Charles Shepard é um militar na reforma, que vive resignadamente a frustração de nunca ter combatido; Gloria Drake é uma mulher abandonada à solidão e à proximidade da loucura, fumando e falando sem cessar; Evan Shepard é um jovem à deriva, que procura uma formação superior, mas a quem os casamentos, que faz e desfaz distraidamente, travam o passo; Rachel Drake entrega-se a um marido imperfeito e ausente, tentando cumprir o papel da «esposa perfeita». Nesta América deprimida e imóvel, cada um desempenha o papel que lhe cabe desempenhar. Porém, no coração de alguns brilha o desejo e germina a semente de um futuro maior."
Ano da edição original: 1986
Autor: Richard Yates
Tradução: Nuno Guerreiro Josué
Editora: Quetzal Editores (Círculo de Leitores)
"Cold Spring Harbor é um subúrbio tradicional de Nova Iorque, o pano de fundo de um retrato da América dos anos quarenta, na ressaca de uma guerra e sob a ameaça de outra. Charles Shepard é um militar na reforma, que vive resignadamente a frustração de nunca ter combatido; Gloria Drake é uma mulher abandonada à solidão e à proximidade da loucura, fumando e falando sem cessar; Evan Shepard é um jovem à deriva, que procura uma formação superior, mas a quem os casamentos, que faz e desfaz distraidamente, travam o passo; Rachel Drake entrega-se a um marido imperfeito e ausente, tentando cumprir o papel da «esposa perfeita». Nesta América deprimida e imóvel, cada um desempenha o papel que lhe cabe desempenhar. Porém, no coração de alguns brilha o desejo e germina a semente de um futuro maior."
De Richard Yates apenas li mais um livro, Revolutionary Road, já aqui comentado e que adorei. Este Perto da Felicidade embora não tenha a força do primeiro livro que escreveu é também muito bom.
Charles Shepard é um militar do exército reformado que nunca combateu. Para sua grande frustração desembarcou em solo Europeu uns dias depois da 1ª Grande Guerra ter terminado. Quando Pearl Harbor é atacado e os EUA se vêem forçados a intervir no conflito mundial, Charles ainda pensa em tentar uma nova incorporação, no entanto a sua gradual mas constante perda de visão levam-no a desistir da ideia. Charles é casado com Grace Shepard, uma mulher de quem apenas sabemos que é muito doente, sem que seja especificada a doença que a aflige desde sempre e que levou Charles a abandonar a carreira militar, numa altura em que até começava a sentir-se realizado nela, pois Grace não suportava continuar a viver em bases militares. O que sabemos desta mulher é que, para além de ser alcoólica, passa os dias sentada numa cadeira na varanda da casa de ambos em Cold Spring Harbor, nos subúrbios de Nova Iorque. Aparentemente sofre dos nervos, é depressiva, não sei, para mim é apenas preguiçosa e egoísta. Não tem uma vida social e é o marido que trata de tudo em casa, inclusive da educação do filho Evan Shepard.
Evan Shepard foi um miúdo rebelde na adolescência até que descobriu a paixão pelos automóveis. A única coisa em que é realmente bom é a conduzi-los e sabe tudo o que há para saber da sua mecânica. Sonha tirar um curso de Engenharia Mecânica, mas vai adiando o seu sonho, primeiro por causa do seu primeiro casamento com a namorada que engravidou e, depois por causa do seu segundo casamento com a namorada que não engravidou, mas cuja pressão familiar acabou por resultar igualmente num casamento apressado e inconsciente. A trabalhar numa fábrica desde o seu primeiro casamento, Evan torna-se um fantasma daquilo que o pai sonhou para ele, é desinteressado, sem ambição e energia para lutar por aquilo que deseja, é manipulável e desinteressante. Casa com Rachel Drake, em segundas núpcias, nem se sabe bem porquê. Antes de a conhecer tinha planos para entrar na faculdade, conhece-a, não é arrebatado por nada nela, gosta dela, é certo, mas não a ama, isso é visível. Rachel é uma miúda de aparência frágil que se encanta pela beleza física de Evan e pela segurança das suas acções, pela sua postura, pelos seus movimentos e pela sua galantearia. Rachel tenta ser feliz, representa o papel da esposa perfeita da forma que acha que Evan gosta. Tive sempre a sensação de que ela estava a viver como se estivesse dentro de um filme ou de um romance. Pouco natural nas suas expressões e na maneira como lidava com todos à sua volta. É, no entanto, a par com Charles Shepard a personagem mais equilibrada e menos deprimida da história.
Nos primeiros tempos o casal parece ter encontrado o seu lugar no mundo, vivendo felizes mas, depois de se mudarem para uma casa com a mãe de Rachel, Gloria Drake, por razões económicas, as coisas começam a não correr tão bem.
Gloria é um mulher à beira da loucura que fala sem parar, extremamente solitária e necessitada de atenção. É uma personagem de quem, embora sentisse alguma pena, não se consegue gostar. É muito chata, muito pegajosa, muito presente em tudo, descontrolada e, embora não seja má mãe, também não é assim lá grande coisa como tal. Como personagem literária é das criaturas mais infelizes que já conheci, tal é a sofrimento interior que sentimos emanar dela. Phil é o seu filho mais novo, irmão de Rachel.
Phil é um adolescente quando Evan entra na vida da sua irmã. É um rapaz franzino, pequeno para a idade, mais dado a leituras e ao pensamento que ao desporto e à brincadeira de rua. Evan têm por ele uma aversão instantânea, achando-o amaricado. Phil sente essa aversão desde o início e apenas o amor que sente pela irmã e a sua cobardia natural o coíbe de expressar tudo o que pensa do cunhado. É um miúdo solitário, que tem vergonha da mãe e que apenas quer estar longe de casa. Internado num colégio interno, sonha com o dia em que terá idade suficiente para ser incorporado no exército e ir combater na Europa, mais ainda depois do cunhado ter sido dispensado por razões médicas. A guerra parece ser a única saída para os jovens na altura, a única perspectiva de vida que conseguiam conceber.
Perto da Felicidade não é um livro bonito, com personagens felizes e com finais felizes. É sim, um livro depressivo, angustiante, muitas vezes exasperante e triste. Com pessoas que levam vidas miseráveis, frustrantes, deprimidas e sem qualquer esperança de dias melhores. Pessoas que se agarram a qualquer migalha de felicidade e a tentam fazer durar até ao absurdo. É um livro carregado de inércia e de inacção, as pessoas limitam-se a viver o dia-a-dia e a fazer aquilo que é esperado delas. Vivem como a sociedade espera que elas vivam, mesmo que dessa forma acabem por abandonar os seus projectos para um futuro mais risonho.
O título que a edição portuguesa adoptou é muito acertado, todas as personagens passam por momentos em que a felicidade espreita, quase a conseguem tocar, mas acontece sempre qualquer coisa que os torna a arrastar para a vida triste e monótona que levavam. Richard Yates parece perito em arruinar os sonhos das suas personagens e em fazê-las cada vez mais angustiadas. Nada de finais felizes nos livros deste senhor, que levou ele próprio uma vida depressiva e problemática e portanto sabe que na vida real é raro haver finais felizes.
Não é tão bom como o Revolutionary Road, falta-lhe talvez alguma da sua eficácia em nos fazer sentir o que as personagens sentem, e que é uma das suas mais-valias. Perto da Felicidade é, no entanto, um livro muito bem escrito e que vale a pena ler. Se andarem um pouco deprimidos com as vossa vidas eu aconselharia que adiassem esta leitura para tempos mais risonhos, que ao contrário do que Richard Yates julgava, também acabam por surgir na vida das pessoas reais. :)
Boas leituras!
Excertos:
"Ela podia não ter mais de cinquenta anos, mas pouco restava do que quer que em tempos tivera de aparência física. O seu cabelo era uma mistura de amarelo desbotado e cinzento claro, como que pintado por muitos anos de fumo de cigarro à deriva, e ainda que se pudesse dizer que o seu corpo tinha mantido a linha, era uma linha tão frágil, frouxa e miúda que não se podia imaginar que fizesse outra coisa que não sentar-se ali, naquele sofá manchado de café. A sua própria maneira de sentar sugeria uma ansiosa necessidade de ser ouvida e compreendida, e, se possível, que gostassem dela: encurvada para a frente, com os antebraços sobre os joelhos, e as mãos juntas contorcendo-se ao ritmo da sua própria conversa."
"«Oh, mas que agradável», dizia Gloria frequentemente na iminência de um jantar, e se Phil porventura olhasse para ela podia sempre ver como naquela noite ela estava com medo, uma vez mais, que não houvesse à volta da mesa outra voz que não a dela. Por duas vezes durante as primeiras semanas ela tornou o desconforto de todos ainda maior ao queixar-se: «Bem, sempre pensei que a hora de jantar fosse para conversar.» E nem o próprio filho conseguia reunir coragem para olhar para ela quando ela disse aquilo."
Bem N. Martins andas a ler a uma velocidade estonteante! Nem te consigo acompanhar na leitura das opiniões! ;)
ResponderEliminarEu ainda só li "Os Pilares da Terra". Ando muito preguiçosa neste início de ano.
Quanto a este autor tenho vontade de ler algo mais dele, pois também fiquei muito bem impressionada com o "Revolutionary Road".
tonsdeazul: Estou com um bom ritmo, é verdade. Mas os livros também são pequeninos... :)
ResponderEliminarPara quando a opinião do "Os Pilares da Terra"?
Pois eu nem pequenos, N. Martins!
ResponderEliminarPor acaso gostava de escrever a opinião sobre o livro, mas não sei se irei conseguir. Por isso prefiro não prometer nada. O que posso dizer é que foi uma leitura que me agarrou bastante à história e gostei muito.