Ano da edição original: 1992
Autor: Donna Leon
Tradução: Lídia Geer
Editora: Editorial Presença
"O esplendor de Veneza. Onde o Tempo obedece a estranhas leis que nos fazem viajar para um outro século. Os labirínticos canais de escuras águas. Pórticos secretos que de repente se abrem para sítio nenhum em antiquíssimos muros. Este é o cenário onde decorre a intriga que conduz à morte do maestro Helmut Wellauer, encontrado morto no seu camarim, no intervalo de uma ópera. Guido Brunetti, atraente detective que Donna Leon criou, percorre os meandros de uma sociedade pervertida, onde a vingança é soberana, em busca da resposta. Mas esta irá introduzir uma inquietante ambiguidade nas suas próprias convicções..."
Andava com vontade de ler um policial porque, embora este não seja um género prefira, às vezes sinto vontade de ler algo dentro do estilo. Donna Leon surgiu, não só porque já tinha lido boas críticas aos livros dela mas, também porque li algures que seria a sucessora de Agatha Christie. Não sei se o é, porque se da Agatha Christie li um livro já foi muito. Como disse, não faz o meu género. No entanto, há vontades que se têm e que não sendo assim tão complicadas de realizar, porque não satisfaze-las? :) E assim Donna Leon e o seu detective Guido Brunetti vieram das estantes da biblioteca para as minhas mãos. E foi uma boa leitura, nada de muito surpreendente, mas boa.
A história propriamente dita começa com a morte do maestro Helmut Wellauer, um dos músicos mais respeitados pelos críticos, um génio musical, que é encontrado morto no seu camarim, envenenado. Helmut morreu durante o intervalo da ópera que estava a dirigir na altura, no teatro La Fenice, um lugar emblemático em Veneza. Guido Brunetti é destacado para investigar a estranha e inesperada morte do maestro. Não havendo um suspeito óbvio, a única solução que Brunetti encontra para desvendar o mistério é tentar perceber quem era o maestro, na sua vida privada, longe das luzes da ribalta e dessa forma esperar encontrar quem lhe quisesse fazer mal.
O livro acaba por ser essa deambulação do detective, pelo passado do maestro, interrogando as pessoas que dele fizeram parte, mas também as pessoas que no presente conviviam com ele, quer profissionalmente, quer na intimidade.
Brunetti com as suas perguntas que aparentemente não tinham importância acaba por levar a investigação a bom porto e o mistério por detrás da vida e morte do maestro acaba por vir ao de cima. O que Brunetti não estava à espera era de descobrir o que acabou por descobrir e que essa descoberta o fizesse violar algumas regras morais e de comportamento a que está obrigado por pertencer a uma força policial. Mas sobre isso não digo mais nada. Digo apenas que me agradou muito que o detective Guido Brunetti não fosse um super-polícia, com uma inteligência e poder de dedução para além dos limites humanamente possíveis. Gostei que fosse um polícia do qual emanava até alguma preguiça, um homem que não era obcecado pelo trabalho, não o levando para casa. Gostei deste polícia mais humano e por isso mais real.
Gostei da forma como Veneza é descrita, não conheço a cidade, mas sinto que o livro me passou alguma da mística que a cidade carrega. Gostei que Donna Leon não tivesse enaltecido a cidade, retratou-a como a cidade velha que é, mas também como a cidade histórica que é, com os seus encantos escondidos e o seu ambiente por vezes mágico. Gostei! :)
O que não me entusiasmou assim tanto, foi o facto de o livro ser um pouco parado. Muita da investigação de Brunetti é feita a partir de conversas informais às pessoas que privavam com a vítima, muitas perguntas, muita conversa fiada e pouco desenvolvimentos no crime propriamente dito. Achei, nesse aspecto o livro menos bem conseguido, embora a sua leitura até tenha sido rápida porque a escrita é fluída. Mas não senti uma curiosidade assim tão grande, porque o clima que se cria não o proporciona. O final foi, de certa forma, inesperado e só mesmo na parte final senti alguma urgência em desvendar o mistério.
Outro pormenor que me fez franzir o sobrolho algumas vezes foi a fixação da autora por olhos e narizes, as descrições de grande parte das personagens incluíam olhos "bem espaçados" e narizes às vezes demasiado longos e outras vezes com o tamanho perfeito. :)
É um livro com uma escrita acessível, com uma história relativamente bem estruturada e com personagens interessantes e suficientemente ambíguas para que não as descartássemos como possíveis assassinos. Pessoalmente o que mais gostei no livro foi mesmo do cenário de Veneza, a dinâmica da cidade e dos seus habitantes foi o que mais me agradou descobrir neste livro.
Gostei. Se vou ler mais algum da autora? Não sei... se se proporcionar não vejo porque não.
Boas leituras!
Excerto:
"Contudo, aquelas eram as horas em que, para Brunetti, a cidade adquiria mais beleza, altura em que ele, veneziano até à medula, conseguia apreender alguma da sua glória passada. As trevas da noite ocultavam o musgo que cobria os degraus de pedra dos palazzi que flanqueavam o Grande Canal, cobriam as fendas das paredes das igrejas, ocultando ainda os bocados de estuque que haviam caído das fachadas dos edifícios públicos. Tal como muitas mulheres de uma certa idade, a cidade tinha necessidade de uma luz enganadora, que mostrasse favoravelmente uma beleza que se havia dissipado."
Nota: Embora ache Lisboa linda, tanto de dia como à noite, a verdade é que algumas descrições de Veneza me fizeram lembrar Lisboa e o seu envelhecimento cada vez mais visível. Foi estranho...
Andava com vontade de ler um policial porque, embora este não seja um género prefira, às vezes sinto vontade de ler algo dentro do estilo. Donna Leon surgiu, não só porque já tinha lido boas críticas aos livros dela mas, também porque li algures que seria a sucessora de Agatha Christie. Não sei se o é, porque se da Agatha Christie li um livro já foi muito. Como disse, não faz o meu género. No entanto, há vontades que se têm e que não sendo assim tão complicadas de realizar, porque não satisfaze-las? :) E assim Donna Leon e o seu detective Guido Brunetti vieram das estantes da biblioteca para as minhas mãos. E foi uma boa leitura, nada de muito surpreendente, mas boa.
A história propriamente dita começa com a morte do maestro Helmut Wellauer, um dos músicos mais respeitados pelos críticos, um génio musical, que é encontrado morto no seu camarim, envenenado. Helmut morreu durante o intervalo da ópera que estava a dirigir na altura, no teatro La Fenice, um lugar emblemático em Veneza. Guido Brunetti é destacado para investigar a estranha e inesperada morte do maestro. Não havendo um suspeito óbvio, a única solução que Brunetti encontra para desvendar o mistério é tentar perceber quem era o maestro, na sua vida privada, longe das luzes da ribalta e dessa forma esperar encontrar quem lhe quisesse fazer mal.
O livro acaba por ser essa deambulação do detective, pelo passado do maestro, interrogando as pessoas que dele fizeram parte, mas também as pessoas que no presente conviviam com ele, quer profissionalmente, quer na intimidade.
Brunetti com as suas perguntas que aparentemente não tinham importância acaba por levar a investigação a bom porto e o mistério por detrás da vida e morte do maestro acaba por vir ao de cima. O que Brunetti não estava à espera era de descobrir o que acabou por descobrir e que essa descoberta o fizesse violar algumas regras morais e de comportamento a que está obrigado por pertencer a uma força policial. Mas sobre isso não digo mais nada. Digo apenas que me agradou muito que o detective Guido Brunetti não fosse um super-polícia, com uma inteligência e poder de dedução para além dos limites humanamente possíveis. Gostei que fosse um polícia do qual emanava até alguma preguiça, um homem que não era obcecado pelo trabalho, não o levando para casa. Gostei deste polícia mais humano e por isso mais real.
Gostei da forma como Veneza é descrita, não conheço a cidade, mas sinto que o livro me passou alguma da mística que a cidade carrega. Gostei que Donna Leon não tivesse enaltecido a cidade, retratou-a como a cidade velha que é, mas também como a cidade histórica que é, com os seus encantos escondidos e o seu ambiente por vezes mágico. Gostei! :)
O que não me entusiasmou assim tanto, foi o facto de o livro ser um pouco parado. Muita da investigação de Brunetti é feita a partir de conversas informais às pessoas que privavam com a vítima, muitas perguntas, muita conversa fiada e pouco desenvolvimentos no crime propriamente dito. Achei, nesse aspecto o livro menos bem conseguido, embora a sua leitura até tenha sido rápida porque a escrita é fluída. Mas não senti uma curiosidade assim tão grande, porque o clima que se cria não o proporciona. O final foi, de certa forma, inesperado e só mesmo na parte final senti alguma urgência em desvendar o mistério.
Outro pormenor que me fez franzir o sobrolho algumas vezes foi a fixação da autora por olhos e narizes, as descrições de grande parte das personagens incluíam olhos "bem espaçados" e narizes às vezes demasiado longos e outras vezes com o tamanho perfeito. :)
É um livro com uma escrita acessível, com uma história relativamente bem estruturada e com personagens interessantes e suficientemente ambíguas para que não as descartássemos como possíveis assassinos. Pessoalmente o que mais gostei no livro foi mesmo do cenário de Veneza, a dinâmica da cidade e dos seus habitantes foi o que mais me agradou descobrir neste livro.
Gostei. Se vou ler mais algum da autora? Não sei... se se proporcionar não vejo porque não.
Boas leituras!
Excerto:
"Contudo, aquelas eram as horas em que, para Brunetti, a cidade adquiria mais beleza, altura em que ele, veneziano até à medula, conseguia apreender alguma da sua glória passada. As trevas da noite ocultavam o musgo que cobria os degraus de pedra dos palazzi que flanqueavam o Grande Canal, cobriam as fendas das paredes das igrejas, ocultando ainda os bocados de estuque que haviam caído das fachadas dos edifícios públicos. Tal como muitas mulheres de uma certa idade, a cidade tinha necessidade de uma luz enganadora, que mostrasse favoravelmente uma beleza que se havia dissipado."
Nota: Embora ache Lisboa linda, tanto de dia como à noite, a verdade é que algumas descrições de Veneza me fizeram lembrar Lisboa e o seu envelhecimento cada vez mais visível. Foi estranho...
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