abril 29, 2011

A Papisa Joana - Donna Woolfolk Cross

Título original: Pope Joan
Ano da edição original: 1996
Autor: Donna Woolfolk Cross
Tradução: Teresa Martinho Toldy
Editora: Editorial Presença

"Personagem histórica envolta em lenda, a papisa Joana protagoniza a notável ascensão de uma mulher que não aceita as limitações que a sua época e a sua religião lhe impõem. Dotada de uma inteligência esclarecida e livre, assim como de uma imensa força de carácter, esta mulher brilhante conquista o mais elevado grau da hierarquia religiosa da Igreja Católica. Apoiado numa investigação rigorosa, este romance não é por isso menos grandioso, cativante e verdadeiramente apaixonante, questiona causas que ainda hoje são polémicas e prende o leitor às complexidades da luta pelo poder, das conspirações e segredos políticos, dos fanatismos, das traições e das crises de fé que ameaçam fazer soçobrar a admirável Joana."

A Papisa Joana, relata a possível história de Joana, a menina de Inglehiem cuja sede de conhecimento, perspicácia e inteligência a levou a ocupar o lugar mais elevado na hierarquia da Igreja Católica, o de Papa.
Desafiando tudo e todos, Joana nunca deixou de questionar o mundo à sua volta, nunca baixou os braços perante os obstáculos que iam surgindo, nunca se resignou com respostas vagas que lhe não satisfaziam a imensa curiosidade pelo mundo que a rodeava. Enfrentou a violência e falta de amor do pai, fugindo para perseguir o seu sonho de estudar. Aguentou, por amor ao conhecimento, ser humilhada e comandada por homens bem menos capazes que ela, em funções de poder. Abdicando de tudo, do amor, da possibilidade de construir uma família e da vida como mulher, rompeu barreiras, ultrapassou os limites impostos pelos outros e conquistou o seu lugar no mundo. Não é por ter alcançado alguns dos seus feitos disfarçada de homem, que Joana deixa de ser uma personagem verdadeiramente inspiradora. :)
Uma mulher muito à frente do seu tempo, com uma visão desempoeirada do mundo, que baseava as suas acções na razão e não no que vinha escrito nos livros sagrados. Inteligente, perspicaz, de certa forma ingénua, tinha um coração grande e solidário, tratando todos de forma igual. Desejava melhorar a vida de todos os que a rodeavam, dar uma vida melhor ao povo, principalmente às mulheres.
Como disse, uma personagem verdadeiramente inspiradora. :)

Terá Joana existido ou não passa de um mito, uma lenda?
O livro é claramente um romance que tem como ponto de partida esta possibilidade mas, exceptuando alguns factos, tudo nele é ficção, pelo que acredito que Joana existiu, que chegou a Papisa, que a Igreja terá apagado o rasto histórico deste facto, mas não encaro este livro como a verdadeira biografia de Joana, aliás nem julgo ser essa a intenção de Donna Woolfolk Cross. O que este livro é, sem dúvida, é uma homenagem a todas a mulheres que, ao longo da história mundial, nunca baixaram os braços, que nunca se deixaram intimidar pelas adversidades, que nunca se resignaram à sua condição de seres inferiores e sem valor, mesmo que isso implicasse viver como um homem. Não sendo este um caso único na história, como a autora refere no fim do livro. O mais irónico nesta história é o facto de Joana nem sequer ser muito religiosa. A sua personalidade iquisitiva tinha alguma dificuldade em viver com verdades absolutas, impostas por homens que se escudavam atrás de um Deus que aparentemente considerava as mulheres seres inferiores, pouco mais que animais. Joana aproveitou-se de um sistema que a excluía e adaptou-se a este para que pudesse ser incluída e, para isso apenas teve de dizer que era um homem e não uma mulher. A partir desse momento todas as portas se abriram e ela teve acesso a todo o conhecimento disponível, conhecimento esse que pertencia à Igreja e só por isso ela acaba por fazer a "escola" católica toda e chega onde chegou.

Outra questão que este livro acaba por levantar é a fiabilidade dos factos históricos que temos como certos hoje em dia. Quantos desses factos não serão baseados em documentos e provas, interpretadas de forma errada por nós, porque na altura em que foram produzidos escondiam interesses cuja compreensão é para nós impossível de atingir? Quantos desses documentos, escritos por Homens, não têm segundas intenções, não satisfaziam interesses pessoais da época, deturpando assim o legado que foi deixado para as gerações futuras? Dá que pensar... :)

Não fiquei especialmente impressionada com a escrita ou com a forma como as personagens foram criadas. Achei a Joana boazinha demais, demasiado perfeita e algumas situações demasiado forçadas para que Joana demonstrasse, mais uma vez, a sua superioridade mental e humana. Por vezes tive a sensação que estava a ler um romance cor-de-rosa, talvez porque senti alguma imaturidade na escrita de Donna Woolfolk Cross, mas a verdade é que este livro acaba por demonstrar que quando a história é boa, o que acabei de referir não passam de pormenores. Pela homenagem, pela pertinência do tema, pelo interesse que a época em causa levanta, este é um livro a não perder e que aconselho sem qualquer hesitação. Leiam! :)

Excerto:
"A partir daí, aquilo tornou-se uma espécie de jogo entre eles. Sempre que havia oportunidade, não tantas vezes quanto Joana desejava, Mateus mostrava-lhe como desenhar letras no chão. Ela era uma aluna ávida de aprender; apesar de estar ciente das consequências, Mateus não conseguia resistir ao seu entusiasmo. Ele também adorava aprender; a paixão dele falava-lhe ao coração. Mesmo assim, até ele ficou chocado quando Joana veio ter com ele um dia, carregando a enorme Bíblia com encadernação em madeira, que pertencia ao pai de ambos.
- O que estás a fazer? - gritou ele. - Vai pôr isso no sítio; nunca lhe devias ter mexido!

- Ensina-me a ler.

- O quê?

A audácia dela era espantosa.

- Ora, vamos lá, irmãzinha, isso é pedir muito.
- Porquê?

- Bem... porque ler é muito mais difícil do que limitarmo-nos a aprender o alfabeto. Duvido mesmo que fosses capaz de aprender.

- Porque não? Tu aprendeste.

Ele sorriu indulgentemente:

- Sim, mas eu sou um homem."


Notas: Algumas páginas na internet sobre a existência ou não de uma Papisa Joana.
E muitos mais existem, é só pesquisarem. :)

E o trailer do filme que estreou em Portugal em Setembro de 2010 (existe ainda um filme de 1972 também acerca do mesmo tema):

abril 18, 2011

Jaime Bunda, Agente Secreto - Pepetela

Título original: Jaime Bunda, Agente Secreto
Ano da edição original: 2001
Autor: Pepetela
Editora: Publicações Dom Quixote

"A moça se despediu da amiga e avançou para a avenida. Ainda conservava nos lábios o sorriso da despedida, quando parou bruscamente, assustada com o automóvel preto. O carro também estacou de súbito. O condutor viu o sorriso desaparecer dos lábios dela. Mediu num relance o tamanho dos seios pontudos, querendo furar o vestido muito curto. Esperou gentilmente que se refizesse do susto e continuasse a travessia. Ela hesitou, mas depois agradeceu com um vago sorriso para os vidros escuros e correu à frente do carro, mostrando o corpo meio de menina meio de mulher, moldado pelo vestido justo. Uma gazela, uma cabra de rabo de leque, pensou o motorista, sentindo compulsivos apetites de caçador. Arrancou com o carro e seguiu até ao fundo da Ilha."

Para desanuviar de umas leituras mais pesadas, em termos de temas, nada melhor do que ter o Jaime Bunda, do Pepetela, como companhia. Uma personagem com este nome só pode proporcionar uma leitura divertida. :) Foi o que aconteceu com este livro, que me fez sorrir, enquanto o lia no metro e que deve ter provocado alguns sorrisos, também, àqueles que repararam na capa, no título e, já agora no meu "delicioso" marcador! :p

Embora possa parecer um livro diferente daqueles a que o Pepetela nos acostumou, a verdade é que a única diferença é o tom em que está escrito, mais irónico e divertido. Fala de Angola independente e de toda a corrupção que parece proliferar por lá. Das desigualdades sociais e da facilidade com que se gasta o muito dinheiro que o país tem. Fala um pouco do deslumbramento em que alguns angolanos parecem viver, ansiando por uma posição que lhes dê poder e acesso ao tal dinheiro que parece perseguir os governantes do país e aqueles que gravitam à volta destes. O tema pode não ser novo, mas a forma como é abordado é uma novidade, não tanto para mim que já tinha lido o Jaime Bunda e a Morte do Americano (segundo livro com esta personagem de anca larga) e tendo em conta que o Jaime Bunda é uma personagem deliciosa, não há forma de não se gostar deste livro.

De uma forma muito resumida a história de Jaime Bunda, Agente Secreto é a história de um estagiário dos SIG (espécie de serviços secretos angolanos) que de repente é chamado a investigar a violação e homicídio de uma menina de 14 anos, uma "catorzinha". Jaime Bunda, alcunha que lhe serve como uma luva, é um jovem viciado em policiais americanos, única fonte dos seus conhecimentos de investigação criminal, que decide agarrar esta oportunidade com unhas e dentes. Com uma imaginação galopante e um instinto (ou sorte) extraordinário acaba, no decorrer da sua investigação, por "tropeçar" numa figura sinistra que todos temem. Numa história cheia de mal-entendidos, meias-verdades e golpes de sorte, Jaime Bunda acaba por se ver envolvido numa investigação que o vai tornar numa espécie de herói e tirá-lo da posição de eterno estagiário no Bunker (nome porque também são conhecidos os SIG). Nos entretantos, Jaime Bunda tem ainda de lidar com Florinda, a sua namorada que é casada com um traficante de diamantes que vai, finalmente tornar o seu negócio legal com a ajuda de um General. Tem ainda de aturar a má vontade da mulher do tio, a Tia Sãozinha, que não perdoa o facto de ter Jaime Bunda a viver no anexo de sua casa e de graça, sem receber um único dos ansiados dólares.

Como podem ver é um livro que promete e, digo-vos eu, que cumpre. No entanto e porque, como muito bem se diz por ai, "não há amor como o primeiro", gostei mais do Jaime Bunda e a Morte do Americano. Mas, é sem qualquer hesitação que recomendo este primeiro livro do Jaime Bunda! Este e qualquer outro do Pepetela, já que estamos numa de recomendações. :)

Boas leituras!

Excerto:
"Mas foi numa aula de educação física, mais propriamente de vólei, que surgiu a alcunha. Às tantas, o professor, irritado com a falta de jeito ou de empenho do aluno, gritou:
- Jaime, salta. Salta com a bunda, porra!

A partir daí, ficou Jaime Bunda para toda a escola. De facto, as suas nádegas exageravam. Ele, aliás, era todo para os redondos, até mesmo os olhos que gostava de esbugalhar à frente do espelho, treinando espantos. A mãe é que não gostou nada quando ouviu colegas tratarem-no assim, és um mole, não devias que te chamassem um nome ofensivo, mas ele encolheu os ombros, a minha bunda é mesmo grande, vou fazer mais como então?"

abril 13, 2011

Derrocada - Ricardo Menéndez Salmón

Título original: Derrumbe
Ano da edição original: 2008
Autor: Ricardo Menéndez Salmón
Tradução: Helena Pitta
Editora: Porto Editora

"Uma terrível ameaça recai sobre Promenadia, uma pacata cidade costeira. O Mal irrompe sob a forma de um assassino em série, que seduz vítimas e verdugos, actores e espectadores, transformando-se na sombra da comunidade. Os pilares de uma sociedade de escassos valores são infectados pela chaga do Terror - um prenúncio da derrocada - a que ninguém, nem mesmo Manila, o cismático polícia encarregado da investigação dos vários crimes, fica imune. Quem é vítima e quem é carrasco? Um homem perverso que não tem nada a perder; duas famílias que crêem ter perdido tudo; três jovens que encontram na violência uma forma de expulsar o tédio. Em Derrocada, a única justiça é o horror, a única vocação é a atracção pelo Mal."

Parti com algumas expectativas para este segundo volume da Trilogia do Mal de Ricardo Menéndez Salmón. Outra coisa não seria de esperar depois de ter sido surpreendida pela carga emocional de A Ofensa (opinião aqui), que gostei bastante de ler. Em Derrocada, embora o tema do Mal seja abordado de uma forma mais violenta e explícita, não me senti tão tocada e por isso o livro, para mim, está uns degraus abaixo do primeiro. :)

O livro está dividido em três partes que têm em comum, para além do Mal e do Medo, Manila, um polícia, pai de uma menina pequena e casado com Mara, grávida do segundo filho do casal.
Na primeira parte, Manila é integrado na força policial destacada para investigar uma série de mortes violentas que têm vindo a ocorrer. O assassino deixa junto a todas as vítimas um sapato da vítima anterior e mata, aparentemente de forma aleatória, sem qualquer razão aparente e de forma extremamente violenta. A narração vai alternando entre a descrição das mortes, a investigação dos crimes e na forma como Manila lida com o medo que um monstro como este provoca. Ricardo Menéndez Salmón explora aqui o medo de perdermos as pessoas que mais amamos de forma violenta e inesperada. Mas não se limita a explorar o medo, explora também a perda e todos os sentimentos que daí vêm. É talvez a parte do livro que mais custa a ler, por ser muitas vezes chocante e por lidar com sentimentos que todos nós podemos conceber.
Na segunda parte do livro três pessoas, disfarçadas de bobos, anunciam publicamente serem os responsáveis pela colocação das agulhas nos pacotes de leite que provocaram algumas mortes e ferimentos graves, sendo este apenas um dos muitos actos de Terror que pretendem levar a cabo. Porquê? Apenas e só porque o podem fazer, porque retiram prazer no medo das pessoas e porque isso lhes dá uma sensação de poder inigualável. Violência arbitrária e gratuita é o que temos aqui. Esta parte da história para mim não foi tão envolvente, não sei bem porquê, mas não a senti muito credível.
Na terceira e última parte, as duas histórias anteriores caminham paralelamente para um fim. É um desfecho feliz? Infeliz? Não sei, muitas vezes o que se tem não é uma coisa nem a outra, é apenas e só um desfecho, uma espécie de trégua ao sofrimento que se vive.

É um livro que pode ser chocante e desconfortável mas que, curiosamente a mim me deixou um pouco indiferente e, mais por isso do que pelo que ia lendo, me senti desconfortável. Porquê a indiferença numa leitura assim? Por um lado porque acho que a violência é algo tão presente no nosso dia-a-dia, principalmente através das notícias, mas também nos livros que lemos e nos filmes que vemos, que se torna mais difícil emocionarmos-nos com ela. E aperceber-me disso deixou-me desconfortável. No entanto, em minha defesa, que aparentemente corro o risco de me transformar num cubo de gelo, achei a escrita menos bem conseguida. Acho que o que me surpreendeu no A Ofensa foi o facto de a escrita ser mais subtil. Neste segundo volume o apelo ao sentimentalismo é mais notório e talvez por isso tenha ficado mais na defensiva. :)

O problema de RMS com os pontos finais persiste mas estranhamente, neste livro, fiquei até com a sensação de ideias sucintas, passadas através de frases curtas. Folheando o livro para tirar as teimas apercebo-me, agora e não durante a leitura, que RMS não tem meio termo, ora usa frases muito curtas, ora escreve autênticas teses entre um ponto final e o outro. Aparentemente neste as frases curtas devem estar em maioria.

É um livro que se lê num ápice e que nos mantém interessados até à última página e que faz uma reflexão muito interessante sobre o Mal, na sua forma mais pura e assustadora. Recomendo-o! ;)

Excerto:
"O mal encontra justificação na sua existência. O mal não precisa de prova ontológica, nem de redução ao absurdo, nem de fé ou de profetas. O mal é a sua própria expectativa.
A minha vida ensinou-me que é o bem que precisa de justificação. É o bem que precisa de um porquê, de uma causa, de um motivo. É o bem que, na realidade, constitui o mais profundo dos enigmas."

abril 10, 2011

Gente Feliz Com Lágrimas - João de Melo

Título original: Gente Feliz Com Lágrimas
Ano da edição original: 1988
Autor: João de Melo
Editora: "Colecção BIIS" da Leya

"Uma saga que irresistivelmente arrasta o leitor ao longo de cinco mundos, vividos e pensados através da obsessiva busca da felicidade que move os seus protagonistas. Concebida polifonicamente como a descrição dos vários modos de viver a amargura que medeia entre o abandono da terra e o retorno ao domínio do que é familiar, esta peregrinação possível em tempos de escassez de aventura é a definitiva lição de que o regresso se não limita a perfazer o círculo e constitui uma visão fascinante do Portugal que todos, de uma maneira ou de outra, conhecemos."

Este demorou algum tempo a ler, não porque não estivesse a gostar mas porque o próprio livro exige uma leitura mais sossegada e calma. Chegado ao fim, digo que gostei e muito. :)

Gente Feliz Com Lágrimas é um livro triste, muitas vezes violento e tão estranhamente próximo que se torna por vezes incómodo. Nele é narrada a história de Nuno e da sua família. Nuno é açoriano e o quarto filho de uma família onde as crianças nascem a um ritmo acelerado, "roubando" aos irmãos mais velhos a infância e a pouca ternura que os pais lhes dispensavam.
O livro está dividido em cinco partes. Na primeira parte Maria Amélia, Luís e Nuno contam-nos a infância dura que tiveram, numa família que gravitava em torno dos humores da figura paterna, um homem violentíssimo e duro, que espancava os filhos e os considerava apenas como braços para trabalhar que cedo tinham de começar a merecer o pão que comiam. A mãe era uma mulher que, ao contrário do que seria de esperar, não era submissa, mas sim desligada dos inúmeros filhos que lhe iam crescendo no ventre, era mesquinha e a versão feminina do marido para as filhas que com ela ficavam a gerir a casa. Este casal era, de certa forma, perfeito um para o outro, todo o amor que sentiam era direccionado para eles próprios, os filhos eram uma consequência da paixão animalesca que viviam.
Desta forma, Maria Amélia, a primogénita, tornou-se a única figura maternal que muitos dos irmãos conheceram. Com 4 ou 5 anos já tomava conta dos irmãos que iam nascendo a um ritmo alucinante, cozinhava e geria a casa. Nos intervalos dessas tarefas levava porrada da mãe se se distraia nalgum devaneio de criança ou se a sua tenra idade lhe dificultava a execução de algumas tarefas. Tornou-se uma menina triste e uma adulta amargurada e de olhos cansados.
Luís, o segundo filho, era um miúdo de bom coração que tentava proteger os irmãos travando a violência do pai. Começou, como todos os irmãos, a ajudar o pai nas tarefas diárias que a quinta exigia. E tal como todos os irmãos sentiu desde cedo a mão pesada do pai.
Nuno nasceu pequenino, o gémeo que sobreviveu, e cresceu frágil, magro, de pele clara e com os olhos azuis da mãe. Tão diferente do pai e dos irmãos foi sempre perseguido pelo pai que o achava um inútil que pouco contribuía para a economia da família.
Para fugirem aos trabalhos desumanos da quinta e à falta de amor dos pais, Maria Amélia ingressou num convento em Lisboa, Nuno num seminário, também no Continente e, Luís voluntariou-se para a tropa acabando por ser enviado para guerra na Guiné. Maria Amélia acabou por ser expulsa do convento gerido por freiras pouco caridosas e formou-se enfermeira ficando livre da influência dos pais. Nuno tem o mesmo destino, sendo expulso do seminário por se ter começado a interessar por política e a questionar em demasia. Torna-se professor e mais tarde um escritor relativamente bem sucedido, é o intelectual da família, de quem acaba por se afastar.
Nas restantes partes do livro, a história é narrada na perspectiva de Nuno, que entretanto se casou com Marta, a mulher que sempre idealizou mas por quem acaba por se desencantar. Conhecemos a sua vida e a dos irmãos que se encontram todos a viver no Canadá, para onde os pais também foram e onde acabam por morrer. Tanto Nuno como os irmãos vivem uma vida superficial, uma felicidade que nunca poderá ser livre de lágrimas, são todos eles "gente feliz com lágrimas".

É um livro pesado, muitas vezes doloroso e estranhamente comovente porque é desesperante a forma como todas aquelas crianças procuravam um gesto de ternura, de como mesmo sendo maltratadas não conseguiram nunca odiar os pais, tendo até tornado os seus últimos anos de vida o menos dolorosos possível. Que este pai me tenha conseguido surpreender com alguns gestos de genuína afeição no meio de tanta violência e descontrolo e que esses gestos tenham sido guardados nas memórias de infância daqueles adultos como se se tratassem de preciosidades é de cortar o coração. É na realidade um livro de cortar o coração e real demais.
O que me fez mais confusão foi o facto de eles nem serem uma família considerada pobre. Tinham algumas posses, eram proprietários de algumas terras e possuíam muitos animais. Trabalhavam muito é certo e tinham muitos filhos, mas a pobreza neste caso não era desculpa para a violência a que as crianças eram sujeitas desde cedo, forçadas a trabalhos pesados e a responsabilidades completamente desadequadas às suas idades. Não existiam atenuantes para a falta de amor daquele pai e daquela mãe e isso foi o que mais confusão me fez. Isso e o facto de toda a vizinhança saber do tratamento que era dado às crianças da família e nada fazer para além de criticar, virar costas ao pai e mais tarde ostracizar os filhos por serem filhos de quem eram.
É um livro muito duro mas que está escrito com algum sentido de humor e onde a crítica social está bem evidenciada. Retrata uns Açores agrestes, onde a natureza quase selvagem tornava a vida de gente já muito pobre ainda mais difícil. Bonitos e magníficos mas onde era extremamente duro viver e cujos habitantes eram eles próprios duros e tristes e cansados e desesperados.

Concluíndo, é um livro que está escrito numa linguagem extremamente rica e poética, cuja história é do mais angustiante que já li e que recomendo sem qualquer hesitação.

Excerto:
"Não compreendera ainda como o tinha eu salvo da crucificação. Mas quando os seus braços musculados se abriram para o meu corpo delgado, senti que o peito se lhe tornara discretamente ofegante, ao reconciliar-se com o meu. E, estando eu morto, ressuscitei. E, pedindo-me ele de novo que comesse, agarrei na tigela com as mãos muito trémulas e pus-me a sorver, em apressados e sôfregos tragos, aquele delicioso caldinho de farinha, com cujo sabor se cruzou para sempre a memória doce da minha infância. E os olhos dele, rasando-se de lágrimas, eram afinal olhos felizes com lágrimas - assim você me perdoe o facto de a minha história comportar também episódios felizes..."

março 23, 2011

O Estranho Caso de Benjamin Button - F. Scott Fitzgerald

Título original: Tales Of The Jazz Ages: Fantasies
Ano da edição original: 1922
Autor: F. Scott Fitzgerald
Tradução: Nuno Castro
Editora: "Colecção Livros de Filmes" da Revista Visão

"Benjamin Button é um homem com uma vida ao contrário: nasce como um velho e à medida que vai vivendo, vai rejuvenescendo, o que lhe permite ver sociedade que o rodeia com um olhar crítico, mas também experimentar uma série de problemas muito diferentes dos do comum dos mortais. Juntamente com a história protagonizada por Benjamin Button, este volume recolhe as outras histórias catalogadas pelo autor como Fantasias, entre as quais se destaca Um Diamante tão Grande como o Ritz."

Começo por esclarecer que na verdade este livro é um livro composto por quatro contos, incluindo O Estranho Caso de Benjamin Button, que dá nome a esta edição da revista Visão. Este conjunto de contos, Fantasies, faz parte de uma colectânea de textos de F. Scott Fitzgerald, Tales of the Jazz Age. Feito o esclarecimento passemos aos textos.

O Diamante Tão Grande Como o Ritz:
Esta é a estranha história de um diamante tão grande como o Ritz, uma montanha que é na verdade feita de diamante. O dono dessa montanha é um homem estranho e extremamente perigoso. John T. Unger, é convidado por Percy, seu amigo e filho do homem mais rico do mundo, a passar as férias no castelo da família Washington, na montanha de diamante. Deslumbrado com toda a riqueza e poder que encontra, o jovem não se apercebe do que perigo que corre.

"Estava a divertir-se tanto quanto podia. A felicidade da juventude, bem como a sua insuficiência, reside em que não pode viver no presente, tendo sempre de comparar o dia que passa com o futuro radiantemente imaginado: flores e ouro, raparigas e estrelas, não são mais do que premonições e profecias do incomparável e inalcançável sonho juvenil."

O Estranho Caso de Benjamin Button:
Benjamin Button nasceu com cerca de setenta anos. Nasceu velho, com barba e olhos cansados. Benjamin Button morreu, ao fim de setenta anos de vida, com a aparência e a mente de um bebé. Nos entretantos viveu uma vida extraordinária! :)
Embora tenha gostado deste texto, não posso deixar de o comparar com o filme que achei de longe muito melhor. É verdade que a originalidade da ideia me foi apresentada no filme, mas no texto a sensação de absurdo acompanhou-me sempre, enquanto que no filme se consegue uma profundidade maior e, a ideia de alguém nascer velho não parece assim tão estranha. :)

"Os olhos do senhor Button seguiram o dedo da enfermeira, e isto foi o que viram: envolto numa volumosa manta branca e parcialmente incrustado num dos berços, havia um homem de idade, que aparentava uns setenta anos. (...) O velho olhou para o senhor Button com olhos apagados e murchos, nos quais se escondia uma pergunta perplexa."

O Tarquínio de Cheapside:
Sapatos Ligeiros é perseguido por Botas Fluidas. Que fez Sapatos Ligeiros às Botas Fluídas, para que estas o persigam de forma tão decisiva? Wessel Caxter, um leitor ávido, vê a sua leitura ser abruptamente interrompida por Sapatos Ligeiros e pelos seus perseguidores. Uma vez a salvo, Sapatos Ligeiros escreve o que se passou para que Wessel o possa ler. :)

"Sapatos Ligeiros atravessa disparado uma faixa de luar e depois lança-se como uma flecha para um labirinto de ruelas onde se converte numa perturbação intermitente na escuridão que o envolve.Atrás dele lançam-se as Botas Fluídas, com espadas curtas desembainhadas e longas plumas meio caídas, arranjando fôlego suficiente para maldizer Deus e as escuras vielas de Londres."

A Bruxa do Cabelo Avermelhado:
Merlin Grainger é o jovem empregado da livraria Moonlight Quill. Não gosta particularmente do que faz mas falta-lhe a coragem para arriscar voos mais altos. Merlin é apaixonado pela rapariga que vê da janela do seu quarto, Caroline. Um dia Caroline visita-o na livraria e provoca em Merlin um desassossego que nunca mais o abandona. Passam-se os anos e Merlin entretanto casou-se com uma outra rapariga. A sua vida é feita de rotinas e vazia de imprevistos até ao dia em que Caroline entra novamente na livraria e ele se apercebe de que a vida passou por ele sem que ele a vivesse. Triste a vida de Merlin.

"Mas era demasiado tarde. Enfurecera a Providência por resistir a demasiadas tentações. Só lhe restava o céu, onde só encontraria aqueles que, como ele, tinham desperdiçado a sua passagem pela terra."


Resumindo e baralhando, gostei destes textos de F. Scott Fitzgerald e acho que foi uma boa introdução à escrita deste tão aclamado escritor.

Boas leituras!

março 20, 2011

[ebook] Animal Farm - George Orwell

Título original: Animal Farm
Ano da edição original: 1945
Autor: George Orwell

"When the downtrodden animals of Manor Farm overthrow their master Mr Jones and take over the farm themselves, they imagine it is the beginning of a life of freedom and equality. But gradually a cunning, ruthless elite among them, masterminded by the pigs Napoleon and Snowball, starts to take control."

Animal Farm, A Quinta dos Animais na mais recente edição portuguesa, é um livro que deveria ser de leitura obrigatória. Para além de muito bem escrito, é um livro que expõe de uma forma extremamente simples o comportamento humano, personificado na revolta dos animais da Quinta Manor, dirigida pelo desleixado Mr Jones. Nessa revolta todos os animais da quinta estavam unidos pelo desejo de uma vida livre onde não houvesse falta de comida, chicotadas ao fim de um dia de trabalho, e que não tivessem de dar todo o produto do seu trabalho aos humanos que nada faziam. A revolta dos animais é bem sucedida e toda a família Jones é expulsa da quinta. Como se vão organizar os animais na gestão da quinta? Como vão entender-se animais tão diferentes - cães, cavalos, galinhas, ratos, pombos e porcos? Como nos comportaríamos nós, humanos, numa situação semelhante? Ver-nos, de um momento para o outro, sem governo, sem liderança e completamente livres, como nos organizaríamos?, porque neste caso a resposta não é o caos.
Quase instantaneamente, os porcos Snowball e Napoleon, assumem a liderança, por se considerar que os porcos são animais mais inteligentes, aprenderam a ler em três meses, e por isso mais bem preparados para governar a quinta e todos os seus habitantes. Reunindo todos os animais, são tomadas as primeiras decisões: mudam o nome da quinta para Animal Farm, cantam o seu hino Beasts of England e estabelecem os sete princípios do Animalismo:
  1. Tudo o que ande sob duas patas é inimigo;
  2. Tudo o que ande nas quatro patas, ou tiver asas é amigo;
  3. Nenhum animal deverá usar roupa;
  4. Nenhum animal deverá dormir em camas;
  5. Nenhum animal deverá beber álcool;
  6. Nenhum animal deverá matar outro animal;
E o mais importante de todos:
7. Todos os animais são iguais.

No fim da primeira reunião, o leite que tinham conseguido ordenhar das vacas aflitas, desaparece... E este é o primeiro sinal de que nem tudo irá correr como o planeado.

Inicialmente tudo corre bem, mas com o passar do tempo, quem tem o poder, neste caso os porcos, começa devagarinho, através de estratagemas e mentiras, a organizar-se de forma a serem beneficiados. Os outros animais, menos inteligentes, em desvantagem por não saberem ler, são facilmente manobráveis e sem que se apercebam disso acabam a trabalhar mais horas e a ter menos comida disponível. Acham, no entanto, que a liberdade e o trabalharem para si próprios é por si só uma mais valia. Seria se essa fosse a realidade, o que não é, porque gradualmente, os animais da quinta chegam a uma situação em que em vez de serem governados por Mr Jones são escravizados por Napoleon, que se transforma num ditador tirano.

No fim, todos os fundamentos da Animalismo são subvertidos e o sétimo passa a ser:
All animals are equal but some animals are more equal than others.

Na verdade, nada do que Orwell diz será uma novidade, porque é da natureza do Homem liderar e ser liderado e a partir desse momento, a ideia de que todos somos iguais cai por terra, porque a realidade é que uns são mais iguais do que outros. É assim que o Homem funciona e é assim que sempre funcionará. A ideia de que um dia viveremos num mundo justo onde todos seremos igualmente ricos e felizes é uma utopia, e por isso mesmo não realizável. Mais importante do que o fim, a dita utopia, é o que se consegue mudar no processo. Umas vezes avançasse no sentido de uma sociedade mais justa, outras vezes afastamo-nos desse desejo, mas o que realmente importa é que no processo de perseguir essa utopia, vamos evoluindo como sociedade e como seres humanos. O que é realmente importante é continuar a acreditar que podemos fazer a diferença pela positiva, no mundo que deixamos aos nossos filhos. :)

É um livro muito bom, imprescindível e que se lê de um folêgo. A escrita de Orwell é fluida, directa, simples e eficaz. É, para além disso, um livro que poderá ser lido por miúdos e graúdos, com as devidas diferenças, ou não, na profundidade das interpretações feitas por cada faixa etária.

Leiam! :)

Excerto:
"«Comrades», he said, I trust that every animal here appreciates the sacrifice that Comrade Napoleon has made in taking this extra labour upon himself. Do not imagine, comrades, that lidership is a pleasure! On the contrary, it is a deep and heavy responsibility. No one believes more firmly than Comrade Napoleon that all animals are equal. He would be only too happy to let you make your decisions for yourselves. But sometimes you might make the wrong decisions, comrades, and then where should we be?"

março 17, 2011

O Pintor de Batalhas - Arturo Pérez-Reverte

Título original: El Pintor de Batallas
Ano da edição original: 2006
Autor: Arturo Pérez-Reverte
Tradução: Helena Pitta
Editora: Edições Asa

"Do Vietname ao Líbano, do Cambodja à Eritreia, de El Salvador à Nicarágua, de Angola e Moçambique ao Balcãs e ao Iraque... Depois de trinta anos a tirar fotografias em busca da imagem definitiva, do momento a um só tempo fugaz e eterno que explica tudo, o fotógrafo de guerra Andrés Faulques substitui a câmara pelos pincéis. Não conseguindo tirar a foto capaz de transmitir o caos do Universo, agora, enquanto tenta compreendê-lo, começa a pintar um grande fresco circular no muro de uma torre de vigia no Mediterrâneo, onde vive sozinho, perturbado pela memória de uma mulher que nunca conseguiu esquecer e pela visita inesperada de um homem que o quer matar. O homem é uma sombra do seu passado, uma das inúmeras faces da guerra com que ele ganhou a vida. Mas o poder da imagem vai muito além da sua existência física e, à medida que o romance avança, a história do artista e do soldado emerge, entrelaçada com uma história de amor condenada e o progresso de uma pintura impregnada de história."

Queria muito ter gostado deste livro. Queria muito que este livro não me tivesse aborrecido. Queria muito que a vontade de desistir dele não me tivesse acompanhado ao longo de praticamente toda a leitura. Mas o que eu queria mesmo muito era poder dizer que este livro me apanhou numa altura de menor disponibilidade, de menor paciência, de menor sensibilidade, mas acho que não posso dizer isso, ou não posso dizer que foi só isso. Queria muito, mas infelizmente nem sempre o que se quer é aquilo que se tem... :/

Faulques é um fotógrafo de guerra consagrado, galardoado com uns quantos prémios, que ao fim de trinta anos a fotografar a guerra, se fecha numa torre de vigia, num lugar isolado, onde pinta nas paredes da torre aquilo que em trinta anos nunca conseguiu imortalizar numa fotografia, pinta a guerra como esta ficou retida na sua retina, em todo o seu horror. Enquanto fotógrafo Faulques, nunca pensou muito para além do momento ideal para tirar a fotografia, nunca pensou muito no que a sua presença, em determinado local e hora, poderia desencadear, nunca pensou muito nas repercussões que a publicação de um rosto fotografado poderia ter na vida do protagonista. Nunca o fez mas isso não significa que não o soubesse, só não se sentia afectado por isso. Ivan Markovic, soldado croata que Faulques fotografou na guerra da Ex-Jugoslávia, depois de o procurar durante anos encontra Faulques na torre de vigia, onde este se refugiou depois de abandonar a fotografia. O aparecimento de Markovic obriga Faulques a regressar ao passado, pois Markovic antes de levar a cabo o que o trouxe até ali, procura primeiro conhecer o homem que foi a borboleta, do chamado efeito borboleta, que ao bater as asas provocou um tufão na vida de Markovic.
Curiosamente Faulques não expia culpas, não mostra arrependimentos, porque estes sentimentos pura e simplesmente não existem na vida de Faulques. O que o tornou um fotografo tão especial foi a sua frieza e o seu desapego e não os sentimentos provocados pelo que o rodeava. A única coisa que o afectou verdadeiramente na vida foi a morte de Olvido, a mulher que amava. Tudo o que presenciou nos mais variados cenários de guerra não o modificou como ser humano, mas conhecer Olvido, amá-la, ser amado por ela e perde-la afectou-o de uma forma que o horror da guerra nunca fez.

Parti com algumas expectativas para este livro que não foram satisfeitas. Achei o livro aborrecido, cansativo e repetitivo. As muitas referências a pintores e respectivas obras deixaram-me perdida, as reflexões dos protagonistas, embora pertinentes, não me afectaram. Senti muitas vezes a mente a divagar e a pensar noutras coisas, que nunca é bom sinal e tive muita vontade de parar de ler. A única coisa que me fez continuar a ler foi a esperança de que o final pudesse melhorar a minha opinião, mas isso não aconteceu. Foi um livro que me deixou indiferente e, como disse no início, não creio que tenha sido só da minha menor disponibilidade porque não fiquei com vontade de o reler daqui a uns anos.

Por saber que este é um livro diferente dos que deram fama a Arturo Pérez-Reverte, a minha vontade de ler outros dele permanece intacta. Os livros do Capitão Alatriste, continuam na minha wishlist. :)

Excerto:
"- O que quer de mim?
Impossível saber se o outro sorria ou não. O olhar parecia andar por sua conta, frio, alheio ao ricto benévolo da boca.
- Tornou-me famoso. Decidi conhecer quem me tornou famoso.
- Como se chama?
- Isso tem graça, não é verdade? - Os olhos continuavam fixos e frios, mas o sorriso do visitante alargou-se. - Você tirou uma fotografia a um soldado com quem se cruzou durante alguns segundos. Um soldado acerca do qual ignorava até o nome. E essa fotografia deu a volta ao mundo. Depois esqueceu-se do soldado anónimo e tirou outras fotografias. A outros cujo nome também ignorava, imagino. Talvez os tenha tornado famosos, tal como a mim... É um trabalho curioso, o seu."

Boas leituras!