junho 16, 2010

O Rabi - Noah Gordon

"Corajoso e intrépido, Michael Kind já era Rabi, quando se apaixonou por Leslie, filha de um pastor protestante, e se casou com ela. Esta é a história de ambos, um drama impetuoso de amor e conflito de identidades, de compaixão e crueldade, a história de um homem e de uma mulher que têm de aprender a lidar com as complicações de uma vida pouco comum num mundo onde Judeus e Cristãos não se apaixonam - e muito menos se casam..."


As minhas expectativas para este livro eram praticamente nulas. Comprei-o porque Noah Gordon é o autor de O Físico, livro cuja leitura ando a adiar porque as minhas expectativas estão muito elevadas. Quando me deparei com o primeiro livro que Noah Gordon escreveu, achei que seria uma boa ideia ler qualquer coisa dele antes de embarcar na leitura do O Físico. A minha intenção era baixar as expectativas e... resultou! :) O livro não é mau, mas também não é lá grande coisa. :p

Primeiro que tudo, convém dizer que a sinopse induz em erro, pois o livro não é de todo sobre as dificuldades que surgem num casamento inter-religioso. Na verdade, Leslie, filha de um pastor protestante, não era propriamente muito chegada à religião e encontrava-se até um pouco afastada desta e do pai. Foi sem grandes pudores, mas com a devida convicção, que se converteu ao judaísmo para poder casar com Michael Kind, um jovem rabi. A partir do momento em que se casam o assunto raramente volta a ser abordado, a não ser de forma breve, de cada vez que mudavam de congregação e, consequentemente de cidade. Mesmo antes de se casarem, as dúvidas que assolam o Rabi Kind ocupam, não mais que dois ou três parágrafos. Por isso, quem vai à espera de encontrar um romance arrebatador, com famílias desavindas do tipo Romeu e Julieta, desengane-se porque não é por aí. :)
Retirando os factores famílias desavindas e possíveis dúvidas do par romântico, que não existem, da equação, o livro acaba por ser, basicamente sobre o judaísmo, os seus rituais e os homens que representam a religião, os rabis (espero não estar a cometer uma gafe, pois no plural a palavra soa estranha). Sendo o tema que é, naturalmente também se fala de relações humanas, as familiares e as que se desenvolvem no seio da comunidade.

Embora o livro não seja muito interessante, pelo tema e pela forma como está escrito - não sei que idade tinha Noah Gordon quando o escreveu, mas senti alguma imaturidade, não só na escrita como na descrição de sentimentos e emoções - isso não significa que não tenha gostado de algumas coisas. Fiquei a saber umas quantas coisas sobre o judaísmo que não sabia e sobre a forma como os judeus vivem a religião. Embora, hoje em dia, me considere ateia, fui educada na religião católica e, por isso, achei curiosa as diferenças que existem entre os padres e os rabis, na forma como se relacionam com a comunidade mas, também, na forma como vivem a vocação. Um ponto comum entre as duas religiões, que na verdade não serão assim tão diferentes, é mesmo o desinteresse que as pessoas demonstram por tudo aquilo que lhe rouba tempo de lazer e por isso, não comparecem aos serviços religiosos e não cumprem todos os rituais, compensando depois com uma contribuição maior.
A pouca profundidade com que se a maioria vive a religião hoje em dia é algo que sempre me fez alguma confusão. As pessoas sabem tão pouco sobre o que estão a professar e fazem as coisas apenas e só porque foram ensinados dessa forma, não questionando o porquê ou a origem de alguns rituais. Não conhecem e não querem conhecer a história da religião que seguem. Falo apenas da minha experiência, que cheguei a fazer a 1ª comunhão e a memória que tenho da catequese dos sábados à tarde é de que eram uma seca e que me roubava horas preciosas ao fim-de-semana. Não me lembro de ter aprendido o que quer que seja sobre a religião católica e o pouco que provavelmente aprendi ficou perdido num qualquer canto da memória. Na missa nenhuma das palavras ditas me tocava de forma especial, para mim eram apenas palavras e nunca percebi a emoção que muitos experimentam em sítios e cerimónias como estas. Culpa minha ou do catequista e padres que fui encontrando? Talvez de todos, porque a verdade é nunca senti qualquer ligação com o divino. Na verdade acho que sou demasiado terra-a-terra, porque não me lembro sequer de alguma vez ter acreditado no Pai Natal... :) No entanto, compreendo o que as pessoas procuram na religião e convivo bem com isso e, confesso que não vou ficar nada chateada se quando morrer perceber que estive errada toda a minha vida, principalmente, se isso me der a oportunidade de voltar a estar com aqueles que nos deixam cedo demais, sem que tenhamos tido a oportunidade de lhes dizer o quanto os amamos... O meu ateísmo vive bem com esta secreta vontade que tenho de estar errada! ;)

Concluindo e voltando ao livro, posso dizer que o que aprendi, e o facto de me ter baixado as expectativas para O Físico, foram os pontos positivos deste livro. Como pontos negativos aponto o facto de falar demasiado de religião, com demasiados termos em hebraico que exigem um maior conhecimento sobre o assunto para que se compreenda melhor do que se está a falar e, por fim, a história em si, que achei pouco envolvente, sem-sal e, por isso, pouco interessante.

Boas leituras!

3 comentários:

  1. Espero que "O Físico" seja mais do teu agrado. :) E que supere as tuas expectativas.

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  2. Muito bem. Aplausos, N Martins.
    O que tem faltado à maioria dos blogs é essa frontalidade. Temos de ter espírito crítico e muitas vezes falta-nos coragem para assumir que um livro, mesmo que de um grande escritor, pode não nos agradar.
    um abraço

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  3. tonsdeazul: Será mais do meu agrado, até porque o tema me parece mais interessante. :)

    Manuel: Afinal o blogue é meu, não é? Se me condicionasse a mim própria deixava de fazer sentido. ;)

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