janeiro 25, 2011

Contos - Eça de Queirós (parte II)

Mais Contos de Eça de Queirós. Destaco A Catástrofe, texto tão certeiro no século XIX como nos nossos dias.

Sir Galahad:
Relato da demanda pelo Santo Graal de Sir Galahad, um dos cavaleiros da Távola Redonda do Rei Artur. Demanda que o leva a vaguear pela terra perseguindo o privilégio de segurar com as suas mãos mortais a taça por onde Jesus Cristo bebeu na última Ceia. Ao longa da jornada tumultuosa e solitária, encontra alguns do cavaleiros da Távola Redonda que também partiram na mesma demanda e dá por si, depois de atravessar um mar envolto de névoas, num mosteiro onde encontra a sepultura de Percival, Cavaleiro de Artur, sepultura esta com mais de vinte anos. Para onde foram todos esses anos que não recorda ter vivido?

A Catástrofe:
Não poderia ter lido este conto em melhor altura: rescaldo das eleições da abstenção e da indiferença.
Em A Catástrofe Eça apresenta o país invadido por um inimigo estrangeiro. Lisboa está ocupada e o protagonista vive angustiado com a sentinela inimiga que todos os dias vê, da sua janela, em frente ao Arsenal. O protagonista em retrospectiva encontra algumas das razões para o estado a que o país chegou: "Tínhamos caído numa indiferença, num cepticismo imbecil, num desdém de toda a ideia, numa repugnância de todo o esforço, numa anulação de toda a vontade...Estávamos caquécticos!"
O conto acaba deixando alguma esperança num futuro melhor, entregue nas mãos de uma geração que crescerá com o objectivo de recuperar a pátria pelo "caminho seguro (...): trabalhar, crer e, sendo pequenos pelo território, sermos grandes pela actividade, pela liberdade, pela ciência, pela coragem, pela força de alma (...) e a amar a Pátria, em vez de a desprezarem, como nós fizéramos outrora."

Evoluímos assim tão pouco, como país?
Muito bom este texto. :)

Um Poeta Lírico:
A história de Korriscosso, um poeta lírico grego que o narrador encontra a servir à mesa num hotel em Londres. Alma triste e angustiada que lhe desperta a curiosidade. Ama quem não o ama. Ama quem não tem a capacidade de compreender a profundidade da sua alma, mas ama mesmo assim... :)

No Moinho:
História triste esta... A mais bela rapariga da aldeia casa-se com o enfermiço João Coutinho para fugir à vida triste que até aí levara em casa dos pais. No entanto, a vida que a espera é a vida de um enfermeira, que cuida do marido entrevado e dos três filhos pouco saudáveis. Mãe e esposa extremosa, "toda a sua ambição era ver o seu pequeno mundo bem tratado e bem acarinhado", até ao dia em que Adrião aparece e ela se apercebe do que poderia ser a sua vida...
Triste, é verdade, mas a escrita de Eça torna-o meio irónico e por isso menos pesado.

Outro Amável Milagre:
Mais um texto religioso, onde a fama de milagreiro de Jesus começa a crescer. Todos os procuram mas só aqueles que o procuram de coração puro o conseguem encontrar.
Não sabia Eça tão religioso e estou a achar estranha esta inclinação... :)

Um Dia de Chuva:
José Ernesto vai à província conhecer a quinta que pretende comprar. Está farto de Lisboa, do seu cheiro a pó e da fútil vida que lá leva. Quando chega à quinta começa a chover, uma chuva que não pára e que não lhe permite conhecer o terreno e os arredores da casa. Uma chuva que deprime e que o deixa desgostoso. É no entanto por causa dessa chuva que se apaixona pela mulher com quem casará. Um amor que começou a crescer ainda antes de a ter conhecido. História bonita e muito bem escrita. :)

Enghelberto:
Enghelberto, senescal das Ilhas, príncipe da Escânia e senhor de Elfingor, também conhecido por O Cavaleiro de Estanho era um jovem violento, impiedoso e sanguinário que atormentava a vida dos seus súbditos. Esta é a história de Enghelberto. :)

Civilização:
Uma história acerca de um homem, Jacinto, supercivilizado, que vive na sua casa, o Jasmineiro, rodeado por toda a tecnologia disponível na época. Vive rodeado de livros e tem um biblioteca invejável. Porque se sente, então Jacinto tão aborrecido? Porque parece tão desligado do mundo e dos seus prazeres? A verdade é que Jacinto só vai aprender a beleza da vida quando parte para o seu solar em Torges. Isolado num sítio sem luxos, por ter estado abandonada a casa, Jacinto descobre a beleza da natureza, descobre as estrelas, a boa comida e a simplicidade das coisas importantes. Por lá fica e retornar à civilização é algo em que nem sequer pensa.

As Histórias: o Tesouro:
"Os três irmãos de Medranhos, Rui, Guanes e Rostabal, eram, em todo o reino das Astúrias, os fidalgos mais famintos e os mais remendados." Um dia estes irmãos encontram, na floresta uma arca cheia de moedas de ouro e a vida deles dá uma volta de 180º. ;)

Mais Contos numa terceira e última parte.

Boas leituras!

1 comentário:

  1. "Enghelberto, senescal das ilhas, príncipe da Escania e senhor de Elfingor, a quem outros também chamavam O Cavaleiro de Estanho, era, na loura e corada flor dos seus vinte e três anos, o mais duro pecador da Cristandade."

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