José Luís Peixoto nunca foi um autor que me chamasse à atenção, aliás sempre achei que não gostava dele... Não faço ideia de onde vinha essa certeza, que me lembre nunca tinha lido nada dele até hoje. Pode ter acontecido ter-me passado pelas mãos algum livro dele, quando era muuuiittoooo mais nova e não ter gostado, mas sinceramente não me recordo. Aponto mais para o facto de ter, por alguma razão, confundido o nome dele com o de algum autor que não gostei. É possível, visto a minha memória para nomes ser má e o meu conhecimento de escritores portugueses contemporâneos ser vergonhosamente deficiente. :/ O importante aqui é que esse erro foi corrigido e José Luís Peixoto entrou na lista dos escritores que gosto e que quero continuar a ler. :)
O Livro de José Luís Peixoto está dividido em duas partes, claramente distintas uma da outra. Na primeira parte o autor narra a história de amor de Ilídio e Adelaide, numa aldeia do interior de Portugal. Um amor feito de olhares, de sentimentos não falados, de silêncios e de desencontros gerados pela miséria, pela vergonha, pela ignorância e pela inveja. Quando Adelaide é forçada a partir para França, Ilídio parte atrás dela. Adelaide e Ilídio servem de pretexto para que conheçamos as condições duras da viagem mas, também a solidariedade dos espanhóis que ajudavam os portugueses até à fronteira francesa. É através deste dois, que partiram por razões completamente diferentes das dos seus companheiros de viagem, que José Luís Peixoto nos vai dando conta das condições difíceis que esperavam os portugueses em França com a descriminação e o trabalho duro.
Esta primeira parte do livro é angustiante, é triste, miserável como a vida de quase todos os que nele aparecem. José Luís Peixoto consegue, com as palavras e pela forma como as utiliza, transmitir emoções fortes, consegue chocar-nos, deixar-nos confusos e muitas vezes enojados, apanha-nos desprevenidos e somos confrontados com situações que nos deixam sem defesas e sem reacção, engolimos em seco. Ao mesmo tempo o Livro consegue fazer-nos sorrir, porque nem tudo na vida são desgraças, porque existem situações caricatas, estranhas, quase cómicas e porque as personagens são na sua essência puras, inocentes e a esperança acaba por ser um sentimento que vagueia pelas páginas do livro. De alguma forma, temos a certeza de que tudo acabará bem. :)
A segunda parte do livro é mais leve, o estilo de escrita muda completamente e o cenário é mais luminoso e risonho. Não será coincidência que a primeira parte acabe pouco dias depois do 25 de Abril. :) Aqui José Luís Peixoto, como diz a sinopse, ultrapassa as fronteiras da literatura e interage com o leitor, provocando-o. Esta parte termina a história, não sem alguma estranheza pela personagem que nela nos é apresentada... Quase irreal, quase uma personagem ela própria. :)
Porque vim de um livro completamente diferente (The Cider House Rules) em termos de escrita, John Irving enche as histórias de pormenores e normalmente chego ao fim dos livros dele cansada, fisicamente cansada, entrar na escrita mais simples, sem ser linear de José Luís Peixoto custou-me um pouco. Adaptar-me a uma linguagem mais próxima dos sentimentos, mais límpida foi uma questão que tive de ultrapassar no início. Mas depois desse período de adaptação a leitura, embora feita de uma forma calma, foi de certa forma compulsiva. Não acho que este livro deva ser um livro de leitura rápida mas sim um daqueles em que saboreamos as palavras e a musicalidade da escrita.
Gostei e agora gostava de ler um dos anteriores do José Luís Peixoto pois, pelo que me consta este é diferente de todos os outros.
Recomendo sem reservas!
Boas leituras!
"Quero Um Livro" é resposta invariável à pergunta "O que queres para o Natal?", da minha família.:) É também um blogue onde ponho em ordem as ideias sobre os livros que leio.
janeiro 07, 2011
Livro - José Luís Peixoto
"Este livro elege como cenário a extraordinária saga da emigração portuguesa para França, contada através de uma galeria de personagens inesquecíveis e da escrita luminosa de José Luís Peixoto. Entre uma vila do interior de Portugal e Paris, entre a cultura popular e as amais altas referências da literatura universal, revelam-se os sinais de um passado que levou milhares de portugueses à procura de melhores condições e de um futuro com dupla nacionalidade. Avassalador e marcante, Livro expõe a poderosa magnitude do sonho e a crueza, irónica, terna ou grotesca, da realidade. Através de histórias de vida, encontros e despedidas, os leitores de Livro são conduzidos a um final desconcertante onde se ultrapassam fronteiras da literatura."
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Concordo com a tua análise. O Livro são dois Livros :), duas partes bem distintas. A primeira parte surpreendeu-me pela linearidade, que não é vulgar em JLP; a segunda surpreendeu-me pela originalidade e pela ligação estabelecida com o leitor.
ResponderEliminarAcho que este livro é o ponto mais alto da carreira dele.
Ler a tua opinião deixou-me com um largo sorriso, N. Martins. Fico mesmo muito feliz que este primeiro livro tenha sido o apenas o primeiro de todos os outros do autor que terás curiosidade em ler. ;)
ResponderEliminarÉ realmente um livro original, estranho mas original. Fiquei curiosa para ler os outros dele. :)
ResponderEliminarPassei aqui lendo o que tem pra ler. E observando o que tem para observar. E Exaltando o que tem de ser Exaltado. Estou lhe desejando um Tempo de Harmonia e de muita Inspiração. Entendo ter um blogue Agradavel, muito bom e Interessante. Eu, também tenho um. Muito Simplório por sinal. E estou lhe Convidando a Visitá-lo e, mais. Se possivel Seguirmos juntos por eles. Estarei Muito Grato esperando por Você lá.
ResponderEliminarAbraços de verdade e, fique com DEUS
O "Livro" é o único registo de José Luís Peixoto que ainda não tive oportunidade de ler, mas a julgar pelos anteriores, este irá certamente de encontro às expectativas. Já agora para quem está a acabar de conhecer o autor aconselho vivamente "Uma Casa na escuridão" e "Nenhum Olhar"
ResponderEliminarSérgio Barbosa: "Uma Casa na escuridão" parece ser aquele que mais consenso reúne entre os fãs. Deverá ser o próximo. :)
ResponderEliminarJá agora, o Sérgio Barbosa não leve a mal, mas não vá "de encontro", vá antes "ao encontro" das expectativas. Os bons leitores devem escrever bem...
ResponderEliminarJosé Luís Peixoto é o meu autor Português contemporâneo predilecto.
ResponderEliminarLi e possuo todas as suas obras e são todas bastante distintas apesar de esta se destacar mais. Na minha opinião deveria ter começado por ler outro livro dele primeiro mas ainda vai a tempo ;)
Se tiver tempo, passe no meu mais recente blog onde teço tambem alguma considerações relativamente aos livros que leio:
oqueoslivrosmedizem.blogspot.com
Miguel Nunes: Sei que os livros anteriores são diferentes e tenho curiosidade de lê-los. Confesso, no entanto, os acho muito caros para o tamanho que têm... Sei que o dinheiro poderá ser bem gasto, mas até agora tem sido razão para ir adiando a leitura. :/
ResponderEliminarNão tem nenhum excerto marcante de O lIVRO DE José lUIS pEIXOTO
ResponderEliminarobrigado sem ti n tinha conseguido fazer a minha apresentação oral
ResponderEliminarPode enviar-me essa apresentação?
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