"Quando Llewelyn Moss encontra uma mala cheia de dinheiro, depois de um tiroteio entre narcotraficantes, pensa que lhe saiu a sorte grande. Mas Llewelyn não sabe que o seu acto o acaba de converter numa das pessoas mais procuradas no Texas. Entre os seus múltiplos perseguidores encontra-se Anton Chigurh, um implacável assassino armado com uma estranha pistola pneumática, cuja máxima concessão à piedade consiste em atirar uma moeda ao ar para decidir o destino das suas vítimas. Também o procurará o velho Xerife Ed Tom Bell, que está disposto a fazer o que for necessário para ajudar as pessoas que jurou proteger..."
Desde que vi o filme A Estrada, baseado na obra homónima de Cormac McCarthy, que andava muito curiosa para ler um dos livros deste escritor norte-americano. E assim Este País Não É Para Velhos veio parar às minhas mãos. No início confesso alguma desilusão com a escrita de McCarthy, repetitiva e a imprimir um ritmo ao livro um pouco "pastoso", mas ao chegar ao fim do livro a verdade é que gostei, a leitura acaba por entrar no ritmo imposto pelo autor, acabando por fazer sentido o ritmo que ele escolheu para o livro e por isso posso dizer que gostei muito do livro.
A história passa-se no Texas e ao longo da famigerada fronteira EUA/México. Llewelyn Moss, um soldador e veterano da guerra do Vietname, numa das suas saídas para caçar, encontra uma mala cheia de dinheiro. Ignorando todos os sinais de perigo, ou seja todos os mortos que faziam companhia à mala, Llewelyn pega na mala e leva-a consigo. Acabou de lhe sair a sorte grande, pensou ele. Uma vez que se tratava de muito dinheiro e de dinheiro ligado ao tráfico de droga, Llewelyn torna-se, de um momento para o outro, o homem mais procurado do Texas. Sabendo-se perseguido, Llewelyn foge com a mala cheia de dinheiro. O que ele não podia imaginar é que um dos seus perseguidores é um assassino implacável e violento, Anton Chigurh, um autêntico psicopata.
Chigurh é uma personagem sinistra que não faz concessões na sua vida, para ele tudo está interligado e não lhe compete a ele decidir, apenas agir de acordo com as consequências que os actos dos outros desencadeiam. Não é por decisão dele que Llewelyn, e todos os que com ele se cruzam, têm de morrer. Afinal, não foi que ele colocou a pasta de dinheiro nas mãos de Llewelyn.
O livro vai narrando a perseguição de Llewelyn e toda a carnificina que dela resulta. Muita violência, muito sangue e muitos mortos constituem este livro. Mas nem só disto vive a história, aliás o mais interessante da história é mesmo o que se refere à personagem do Xerife Bell, um homem competente que foi apanhado no meio da carnificina perpetrada por Chigurh. Homem que o Xerife Bell tem dificuldade em compreender, que teme e que o faz repensar toda a sua carreira. O Xerife Bell é um homem de boa índole e que começa a sentir-se deslocado num mundo que, em pouco anos, se tornou tão violento. A parte que mais me cativou neste livro foram aquelas onde o Xerife Bell, como narrador, partilha com o leitor aquilo que o atormenta. A sensação de que "Este país não é para velhos" é algo que o acompanha todo o livro, enquanto vai tentando apanhar Chigurh e salvar Llewelyn de uma morte mais que certa. A escrita de Cormac McCarthy é também diferente nestes trechos do livro, mais pulsante e mais viva.
"A outra coisa são os velhos, e eu não consigo deixar de pensar neles. Olham para mim e vejo-lhes sempre uma pergunta estampada no rosto. Não me recordo de as coisas serem assim há uns anos. Não me lembro de ser assim quando eu era xerife nos anos cinquenta. Olhamos para eles e nem sequer têm um ar confuso. Parecem enlouquecidos, nem mais. Isto incomoda-me. Ficamos com a impressão de que eles acordaram e não sabem como é que vieram parar ao lugar onde estão. Bom, num certo sentido não sabem."
Enfim, gostei bastante deste livro. Não fosse a escrita de McCarthy ser, à falta de melhor adjectivo, esquisita porque faz um uso exagerado da conjugação "e", e o livro teria deixado em mim ainda melhor impressão. Não sei se esta predilecção pelo "e" está presente nos outros livros do escritor, mas julgo que neste em particular funcionou um pouco para induzir no leitor uma sensação de adormecimento, perante a violência que ia sendo descrita. Um pouco como quando vemos imagens de extrema violência a que, por vermos tantas vezes, na televisão ou onde quer que seja, somos já um pouco indiferentes. Terá sido essa a intenção, pelo menos assim espero, porque sem ser neste contexto o exagero de "e" é muito irritante! :)
Vou ler outros livros dele, de certeza! :)
Nota: Este livro de Cormac McCarthy foi adaptado ao cinema, pelos irmãos Cohen, em 2007. No Country For Old Men ganhou 4 óscares: o de melhor director, melhor actor secundário (Javier Bardem, no papel do assustador Chigurh), melhor imagem e melhor argumento adaptado. Confesso que quando vi o filme pouco percebi... É um filme estranho, no mínimo, mas está fiel ao livro. Neste caso gostei mais do livro, se bem que agora até gostava de voltar a ver o filme, pode ser que agora perceba mais do que para lá acontece! :p
Fica aqui o trailer e, boas leituras!
N. Martins, por vezes essas imperfeições de linguagem devem-se a más traduções. Pode ser esse o caso.
ResponderEliminarEu adorei a Estrada. É um livro notável. Mas vou ler este também, em breve. É um escritor com uma capacidade de expressão impressionante.
Manuel: Não sei se será esse o caso neste livro. Essas imperfeições parecem-me propositadas. Mas gostei muito do livro, a linguagem não retirou valor ao livro, foi só uma questão de adaptação. :) Estou muito curiosa para ler A Estrada, porque adorei o filme e agora que li McCarthy acho que só pode ser um bom livro.
ResponderEliminarAdorei o filme! Também quero ler o livro, um dia destes, até porque a história desenrola-se no Texas, um dos sítios que mais curiosidade me desperta aqui nos EUA.
ResponderEliminarhttp://amarycanlife.blogspot.com/
Gostei do filme e do pouco que li do livro também.
ResponderEliminarO único livro que li do autor foi "Meridiano de Sangue", que saiu na colecção da revista Sábado. Gostei, apesar de ser uma história bastante violenta e também de difícil leitura.
ResponderEliminarMary: Depois de ter lido o livro dou por mim a pensar no filme de outra forma. Conto revê-lo brevemente. Visitei o teu blogue e gostei. Vou seguir a tua aventura pelos States. :)
ResponderEliminarredonda: do pouco que leste do livro? Lê o resto! :)
tonsdeazul: Esse que referes não o tenho. Tenho para ler o "Suttree" e "A Estrada". Um dia destes "roubo-os" da estante do meu namorado. :)
Corman MacCarthy / grande,enorme escritor!
ResponderEliminarA ESTRADA grande,enorme, fabuloso livro.
Diz/se que ha flmes pesados pois os livros deste grande escritor podem tambem dizer/se pesados, mas e um enorme escritor. Tambem gostei imenso dESTE PAIS NAO E PARA VELHOS, um pouco menos de SUTREE, mas gostei.
SEVE: Quero muito ler A Estrada, mas tenho receio de, por já ter visto e adorado o filme, não conseguir desfrutar do livro por si só.
ResponderEliminar