"The reason Homer Wells kept his name was that he came back to St Cloud's so many times, after so many failed foster homes, that the orphanage was forced to acknowledge Homer's intention to make St Cloud's his home."
"Homer Wells' odyssey begins among the apple orchards of rural Maine. As the oldest unadopted child at St Cloud's orphanage, he strikes up a profound and unusual friendship with Wilbur Larch, the orphanage's founder - a man of rare compassion and an addiction to ether. What he learns from Wilbur takes him from his early apprenticeship in the orphanage surgery, to an adult life running a cider-making factory and a strange relationship with the wife of his closest friend..."
Estou a ter sérias dificuldades em escrever a minha opinião sobre este livro. O problema não reside em saber se gostei ou não, porque aí a resposta é inequivocamente sim!, gostei e muito! A questão é que, tal como nos outros livros do John Irving que já li, as histórias são tão completas, tão cheias de tudo, que é difícil decidir o que é importante ou não referir, porque é tudo importante, porque nada acontece por acaso e porque os livros dele mais parecem uma temporada completa de uma série televisiva... :)
Depois de muito escrever e muito apagar decidi manter esta opinião o mais simples possível, e não acrescentar à sinopse muito mais do que já está dito.
Homer Wells é o orfão mais velho a viver em St Cloud's, um orfanato rodeado por habitações abandonadas, numa cidade quase fantasma. A única ligação ao mundo civilizado é feita pela estação de comboios, onde chegam as mulheres que procuram St. Cloud's para terem orfãos, deixando os seus bebés no orfanato, ou para fazerem abortos, prática que o Dr. Wilbur Larch faz, ilegalmente, a todas as mulheres que o procuram.
Dr. Wilbur Larch é o fundador do orfanato e um viciado em éter, que começou a utilizar para anestesiar as dores provocadas pela gonorreia, doença transmitida por uma prostituta, que foi a primeira e única experiência sexual da sua vida. É um homem de bom coração, de convicções fortes, que cria Homer Wells, a única criança da história do orfanato a quem não conseguiu arranjar uma família, como o filho que nunca teve, educando-o para ser útil, ensina-lhe tudo que sabe sobre trazer ao mundo orfãos ou abortos. Prepara-o para ser o seu substituto quando a altura certa chegar.
No entanto Homer, como qualquer adolescente, começa a sentir necessidade de conhecer o mundo fora de St Cloud's. Depois de se aperceber de que, embora concorde com o que Wilbur Larch faz ilegalmente, ele nunca seria capaz de o fazer, decide partir com o casal jovem que aparece em St Cloud's, Candy e Wally. Wilbur é um acérrimo defensor da legalização do aborto mas também o é dos seus orfãos e, por isso, deixa que Homer parta para viver a sua vida e fazer as suas próprias descobertas. Nunca deixa de acreditar, no entanto, que Homer irá voltar, porque ele pertence a St Cloud's. O orfão que foi devolvido tantas vezes tem o seu lugar no orfanato e só lá é que ele poderá ser útil.
Homer parte com Wally e Candy, por quem se apaixonou desde a primeira vez que a viu. Parte para Ocean's View onde aprende tudo o que há para aprender acerca do fabrico de sidra de maçã. Lá conhece pessoas fantásticas que o ajudam e acolhem como se ele fosse um deles. Será que finalmente Homer Wells conseguiu ser adoptado?
É encantadora a forma como vamos acompanhando as descobertas de Homer num mundo tão cheio de novidades e onde a inocência de Homer pode ser desarmante.
Homer nunca perde o contacto com St Cloud's onde Wilbur Larch nunca desistiu de o tornar no seu sucessor. Torná-lo médico é o seu objectivo, mesmo que para isso tenha de lhe construir uma nova identidade e dar-lhe uma nova vida. Acabará Homer por aceitar esta nova vida que Larch escreveu para ele? Estará ele disposto a ir contra a sua decisão de nunca praticar um aborto? Veremos... :)
E a história de uma forma muito resumida é esta. Custa-me deixar de fora desta opinião personagens como a Melony, que tão importante é para o desenrolar dos acontecimentos, as enternecedoras enfermeiras Edna e Angela, o Angel, Ray Kendall e a Olive Worthington e todos os trabalhadores da quinta, porque existe tanto mais para dizer acerca deste livro e sobre os temas que aborda. O tema central é o aborto, mas fala mais sobre as mulheres e a sua vida nos anos 40 e 50 do século passado. Fala também de racismo, de sexo, de crianças abandonadas e indesejadas, de adopção, de violência doméstica e de sacrifício mas, também fala de amor, de heróis, de amizade e de justiça. Não pensem, no entanto, que o tom do livro é pesado e deprimente. Nada disso, o tom é sempre de permanente ironia e comédia contida.
Se tem momentos dramáticos? Claro que tem, momentos como aquele em que Curly Day pensou que iria ser adoptado pelo casal bonito (Candy e Wally), que ele iria ser escolhido porque era o "melhor orfão" e ficou despedaçado por estes terem partido com Homer. É claro que Curly percebeu tudo mal, Candy e Wally não estavam lá para adoptar ninguém, mas não deixa de ser angustiante a aflição do rapazinho. Toda a situação desenrola-se de forma muito caricata e de certa forma cómica, mas não deixa de ser um momento particularmente triste do livro. Tal como é triste a forma como John Irving descreve a chegada e partida das mães que não o querem ser, a vergonha e a dor estampadas nos seus rostos. É triste e chocante a descrição dos abortos, mas também o é a descrição dos abandonos e das razões que levam as mulheres a cometerem tais actos.
John Irving é um autor pouco comum, que escreve autênticas histórias de vida, que nos apresenta personagens fantásticas e permite que acompanhemos as suas vidas desde que nascem até à sua morte, tornado-as tão familiares que nos sentimos abandonados quando lemos a última frase do livro. E agora, o que vai ser deles?, pensamos.
Gostaria que ao lerem esta opinião ficassem com um gostinho do que são as histórias do Irving, mas isso é impossível porque os livros dele são estranhos, divertidos, absurdos, dramáticos, tristes, envolventes, chocantes, polémicos e viciantes. Só lendo é que se consegue apreender todo o génio de John Irving como o escritor e como contador de histórias.
Existem autores que não nos fazem correr para a livraria mais próxima quando lançam um novo livro mas que, quando lemos nos fazem pensar no quanto sentimos a sua falta. Ler John Irving, para mim é isso: não corro para a livraria para comprar os seus livros, dele apenas li quatro livros e com intervalos de tempo grandes entre eles, mas de cada vez que o leio é como encontrar um velho amigo.
Não só recomendo como exijo que leiam pelo menos um livro dele para verem se tenho razão ou não! :p Recomendo todos os que já li dele (a minha opinião sobre Um filho do Circo aqui) mas, este The Cider House Rules (As Regras da Casa na edição portuguesa há muito esgotada) e o The World According to Garp (O Estranho Mundo de Garp na edição portuguesa) simplesmente genial, talvez sejam mais emblemáticos do que é a escrita de Irving. Leiam!!! :)
Para os que possam estar renitentes devido ao tema do aborto, esclareço que este livro não é um livro pró-aborto, não sendo também um livro que condene o aborto. O que este livro espelha é a uma realidade e todos os argumentos apresentados nele são verdadeiros e todas as justificações justas. Não me fez mudar o que penso sobre o assunto, nem veio revalidar a minha opinião. Quem é a favor do aborto não o é de ânimo leve e não o é sem compreender alguns dos argumentos dos que tem outra forma de pensar. Para mim é e será sempre, uma questão de saúde pública, de justiça social, de igualdade de direitos e uma questão acima de tudo pessoal. Se seria capaz de o fazer? Provavelmente não, mas essa seria uma decisão minha e não algo imposto por terceiros. Que não seja o tema do aborto a afastar-vos deste livro, até porque, embora seja um assunto importante para a história, não é de todo A história.
Boas leituras!
Nota: John Irving tem visto alguns dos seus livros serem adaptados para o cinema (livros adaptados ao cinema aqui). Foi o caso do The Cider House Rules. Nunca vi o filme mas pelo que já li sobre ele está bastante diferente do livro. John Irving trabalhou nesta adaptação que foi galardoada com dois Óscares, o de Melhor Actor Secundário para Michael Caine (Dt. Larch) e o de Melhor Argumento Adaptado.
Fica aqui o trailer do filme, que conto ver brevemente:
Depois de muito escrever e muito apagar decidi manter esta opinião o mais simples possível, e não acrescentar à sinopse muito mais do que já está dito.
Homer Wells é o orfão mais velho a viver em St Cloud's, um orfanato rodeado por habitações abandonadas, numa cidade quase fantasma. A única ligação ao mundo civilizado é feita pela estação de comboios, onde chegam as mulheres que procuram St. Cloud's para terem orfãos, deixando os seus bebés no orfanato, ou para fazerem abortos, prática que o Dr. Wilbur Larch faz, ilegalmente, a todas as mulheres que o procuram.
Dr. Wilbur Larch é o fundador do orfanato e um viciado em éter, que começou a utilizar para anestesiar as dores provocadas pela gonorreia, doença transmitida por uma prostituta, que foi a primeira e única experiência sexual da sua vida. É um homem de bom coração, de convicções fortes, que cria Homer Wells, a única criança da história do orfanato a quem não conseguiu arranjar uma família, como o filho que nunca teve, educando-o para ser útil, ensina-lhe tudo que sabe sobre trazer ao mundo orfãos ou abortos. Prepara-o para ser o seu substituto quando a altura certa chegar.
No entanto Homer, como qualquer adolescente, começa a sentir necessidade de conhecer o mundo fora de St Cloud's. Depois de se aperceber de que, embora concorde com o que Wilbur Larch faz ilegalmente, ele nunca seria capaz de o fazer, decide partir com o casal jovem que aparece em St Cloud's, Candy e Wally. Wilbur é um acérrimo defensor da legalização do aborto mas também o é dos seus orfãos e, por isso, deixa que Homer parta para viver a sua vida e fazer as suas próprias descobertas. Nunca deixa de acreditar, no entanto, que Homer irá voltar, porque ele pertence a St Cloud's. O orfão que foi devolvido tantas vezes tem o seu lugar no orfanato e só lá é que ele poderá ser útil.
Homer parte com Wally e Candy, por quem se apaixonou desde a primeira vez que a viu. Parte para Ocean's View onde aprende tudo o que há para aprender acerca do fabrico de sidra de maçã. Lá conhece pessoas fantásticas que o ajudam e acolhem como se ele fosse um deles. Será que finalmente Homer Wells conseguiu ser adoptado?
É encantadora a forma como vamos acompanhando as descobertas de Homer num mundo tão cheio de novidades e onde a inocência de Homer pode ser desarmante.
Homer nunca perde o contacto com St Cloud's onde Wilbur Larch nunca desistiu de o tornar no seu sucessor. Torná-lo médico é o seu objectivo, mesmo que para isso tenha de lhe construir uma nova identidade e dar-lhe uma nova vida. Acabará Homer por aceitar esta nova vida que Larch escreveu para ele? Estará ele disposto a ir contra a sua decisão de nunca praticar um aborto? Veremos... :)
E a história de uma forma muito resumida é esta. Custa-me deixar de fora desta opinião personagens como a Melony, que tão importante é para o desenrolar dos acontecimentos, as enternecedoras enfermeiras Edna e Angela, o Angel, Ray Kendall e a Olive Worthington e todos os trabalhadores da quinta, porque existe tanto mais para dizer acerca deste livro e sobre os temas que aborda. O tema central é o aborto, mas fala mais sobre as mulheres e a sua vida nos anos 40 e 50 do século passado. Fala também de racismo, de sexo, de crianças abandonadas e indesejadas, de adopção, de violência doméstica e de sacrifício mas, também fala de amor, de heróis, de amizade e de justiça. Não pensem, no entanto, que o tom do livro é pesado e deprimente. Nada disso, o tom é sempre de permanente ironia e comédia contida.
Se tem momentos dramáticos? Claro que tem, momentos como aquele em que Curly Day pensou que iria ser adoptado pelo casal bonito (Candy e Wally), que ele iria ser escolhido porque era o "melhor orfão" e ficou despedaçado por estes terem partido com Homer. É claro que Curly percebeu tudo mal, Candy e Wally não estavam lá para adoptar ninguém, mas não deixa de ser angustiante a aflição do rapazinho. Toda a situação desenrola-se de forma muito caricata e de certa forma cómica, mas não deixa de ser um momento particularmente triste do livro. Tal como é triste a forma como John Irving descreve a chegada e partida das mães que não o querem ser, a vergonha e a dor estampadas nos seus rostos. É triste e chocante a descrição dos abortos, mas também o é a descrição dos abandonos e das razões que levam as mulheres a cometerem tais actos.
John Irving é um autor pouco comum, que escreve autênticas histórias de vida, que nos apresenta personagens fantásticas e permite que acompanhemos as suas vidas desde que nascem até à sua morte, tornado-as tão familiares que nos sentimos abandonados quando lemos a última frase do livro. E agora, o que vai ser deles?, pensamos.
Gostaria que ao lerem esta opinião ficassem com um gostinho do que são as histórias do Irving, mas isso é impossível porque os livros dele são estranhos, divertidos, absurdos, dramáticos, tristes, envolventes, chocantes, polémicos e viciantes. Só lendo é que se consegue apreender todo o génio de John Irving como o escritor e como contador de histórias.
Existem autores que não nos fazem correr para a livraria mais próxima quando lançam um novo livro mas que, quando lemos nos fazem pensar no quanto sentimos a sua falta. Ler John Irving, para mim é isso: não corro para a livraria para comprar os seus livros, dele apenas li quatro livros e com intervalos de tempo grandes entre eles, mas de cada vez que o leio é como encontrar um velho amigo.
Não só recomendo como exijo que leiam pelo menos um livro dele para verem se tenho razão ou não! :p Recomendo todos os que já li dele (a minha opinião sobre Um filho do Circo aqui) mas, este The Cider House Rules (As Regras da Casa na edição portuguesa há muito esgotada) e o The World According to Garp (O Estranho Mundo de Garp na edição portuguesa) simplesmente genial, talvez sejam mais emblemáticos do que é a escrita de Irving. Leiam!!! :)
Para os que possam estar renitentes devido ao tema do aborto, esclareço que este livro não é um livro pró-aborto, não sendo também um livro que condene o aborto. O que este livro espelha é a uma realidade e todos os argumentos apresentados nele são verdadeiros e todas as justificações justas. Não me fez mudar o que penso sobre o assunto, nem veio revalidar a minha opinião. Quem é a favor do aborto não o é de ânimo leve e não o é sem compreender alguns dos argumentos dos que tem outra forma de pensar. Para mim é e será sempre, uma questão de saúde pública, de justiça social, de igualdade de direitos e uma questão acima de tudo pessoal. Se seria capaz de o fazer? Provavelmente não, mas essa seria uma decisão minha e não algo imposto por terceiros. Que não seja o tema do aborto a afastar-vos deste livro, até porque, embora seja um assunto importante para a história, não é de todo A história.
Boas leituras!
Nota: John Irving tem visto alguns dos seus livros serem adaptados para o cinema (livros adaptados ao cinema aqui). Foi o caso do The Cider House Rules. Nunca vi o filme mas pelo que já li sobre ele está bastante diferente do livro. John Irving trabalhou nesta adaptação que foi galardoada com dois Óscares, o de Melhor Actor Secundário para Michael Caine (Dt. Larch) e o de Melhor Argumento Adaptado.
Fica aqui o trailer do filme, que conto ver brevemente:
Vi o filme e adorei.
ResponderEliminarVou tentar encontrar o livro...é capaz de ser difícil porque preferiria lê-lo em português (foram muito poucos os livros que li em inglês, francês ou castelhano)
Bom ano com muitas boas leituras e textos sobre livros (acho difícil escrever sobre livros :)
um beijinho
Gábi
Vi ontem o filme e também gostei. É claro que é uma versão muito condensada do livro, mas a essência da história está lá. :)
ResponderEliminarQuanto ao livro em português é que será mais difícil. Só mesmo nalgum alfarrabista que tenha por lá alguma edição das antigas. Mas o livro lê-se bem em inglês. :)
Bom ano!
Mais um autor que tenho curiosidade em descobrir.
ResponderEliminarGostei também do trailer. A ver se o encontro para ver por estes dias.
Boas leituras neste novo ano! ;)
Tantos e tantos autores que queremos descobrir... Por onde começar? Eu estou a gostar de descobrir o José Luís Peixoto. Ainda estou naquela fase de ver onde ele me vai levar, mas estou a gostar da forma como escreve. :)
ResponderEliminarNem me digas nada, N. Martins! Porque é mesmo isso. Há imensos autores que gostava de ler, mas o tempo não estica e a montanha que aqui tenho, juntamente com aqueles que estão na lista, dão para desesperar!! Mas pronto há que continuar a ler e acreditar que vamos conseguir todos mesmo. ;) Estou curiosa pela tua opinião. :)
ResponderEliminarOlá meninas
ResponderEliminarquando vi a dica aqui, corri para caça.
Encontrei na Estante, editora Rigráfica, título O mundo segundo Garp, 544 páginas. Por uma bagatela.
Fica a dica www.estantevirtual.com.br Abç
Cinai: Boa dica! Espero que gostes tanto do livro como eu gostei. Para mim O Mundo de Garp é até agora o melhor que já li do Irving e um dos meus livros de eleição. :)
ResponderEliminarVai chegar essa semana. Começarei logo, mas tenho de admitir que achei seu blog por conta do filme.
ResponderEliminarAssisti semana passada, amei e aluguei para assistir em família. Todos amaram. Como amo ambas as artes, mas nunca deixaria de ler o livro só para assistir ao filme. Vou ler.
Abç
Ah, percebi que cometi um erro de digitação a editora do livro é Riográfica ok!?
Cinai: Também gostei do filme mas, como é normal quando leio o livro antes de ver o filme, achei que o livro é muito melhor. Acho que vais gostar do livro! :) O John Irving é muito divertido... :)
ResponderEliminarChegou, vou ler depois te falo!
ResponderEliminarSempre leio o livro primeiro, porém não conhecia o autor, cheguei no livro pelo filme.
Abç
PS:Penso que o livro se torna melhor por ser completo. No filme eles sempre deixam algo de fora.